
À medida que ia passando, as pessoas afastavam-se abriam caminho para mim, olhavam-me com uma certa reverência, era estranho, no entanto eu estava consciente que a partir de agora esta reacção seria normal. Era a mesma reacção que as pessoas tinham na presença do Ash.
Antes de ir para a habitual zona privada, passei no bar onde o Dev me recebeu com um sorriso aberto.
- Tiraste umas férias foi? - Brincou ele.
- Sim, precisei de descanso.
- Para te habituares ás mudanças? Estou autorizado a falar contigo neste tom, ou estou a arriscar o meu pescoço? - Perguntou curioso.
- Que mudanças? Nada mudou, eu continuo a mesma pessoa, só com um pacote de poderes e responsabilidades mais exigentes. Somos amigos, nada vai mudar isso Dev. - Assegurei.
- É bom saber isso, fico contente que estejas bem.
Agarrei na bebida e dirigi-me á zona onde era esperada por amigos. Eles tinham-me visto entrar, e agora ao aproximar-me os olhares curiosos comiam-me viva. Olhando especialmente para os meus olhos e para a minha marca. Subi o pequeno lance de escadas e a sensação de ver aquelas caras conhecidas aqueceu o meu coração. O Julian apressou-se a abraçar-me.
- Tive saudades tuas mana, não sabia ao certo quando voltarias.
- Estou aqui.
- Está tudo bem? - Perguntou ele no seu habitual tom de preocupação.
- Sim, não podia estar melhor. - Confirmei.
- O que aconteceu aos teus olhos?
- Efeito secundário dos meus novos poderes. - Disse, olhando para o Ash.
- Se um de vocês já era assustador, dois então... Devo preocupar-me? - Brincou, fingindo ter receio, mas percebendo a minha ligação com Ash.
- É melhor ainda, e não precisas de te preocupar. - Respondi na brincadeira.
- Que noticias trazes?
Nesse momento as conversas param e todos focaram a sua atenção em mim. Ash encontrava-se sentado numa mesa, e eu nem consegui encontrar palavras para descrever o seu olhar.
- Novidades? - Fingir pensar durante uns segundos. - Como podem ver a gerência mudou, finalmente.
- O que queres dizer com isso? - Perguntou o Talon.
- Artémis não existe mais, eu assumi o seu lugar, os seus poderes e os seus Predadores. - Disse sem conseguir esconder um sorriso.
- Isso são excelentes noticias. - Disse o Kyrian, e todos concordaram.
- Também acho que sim, poderei finalmente fazer justiça e apoiar todos aqueles que ela ignorou e falhou em ajudar.
- Ficaremos em boas mãos, tenho a certeza disso. - Concordou Valérius.
- Já era tempo de dar um chuto no rabo daquela desgraçada. - Disse o Sin.
- Farei o meu melhor. - Disse com toda a sinceridade.
- Como ficaram as coisas no Olimpo? Se estás aqui é porque eles cederam. - Perguntou Julian.
- Eles não nos vão incomodar, concordaram com os meus termos de paz, e sabem o seu lugar. Sabem perfeitamente bem que alguma asneira contra nós é inútil.
Eles não perguntaram, mas também não era necessário. Acho que era perceptível para todos que comigo e com Ash na liderança, éramos intocáveis. Todos eles confiavam em mim, em nós e estas mudanças eram as melhores noticias que recebiam desde algum tempo.
- Mas nada disso me vai impedir de te roubar para umas quantas danças! - Afirmou o Nick, deixando a Mira e me arrastando para a pista. - Já tinha saudades disto, e de ti claro. - Brincou.
- Fico contente que isso não tenha mudado, és dos melhores parceiros de dança que já tive. - Respondi também na brincadeira.
Enquanto dançava com Nick, sentia o olhar de Ash fixo em mim, apesar de não olhar para ele directamente, conseguia sentir. O seu estado de espírito estava perturbado, sentia um misto de alegria, preocupação, paixão e sobretudo fome. Fome de carinho, de amor, de desejo e luxúria, e fome de sangue, de alimento. Era claro como a água que ele sentia a minha falta, tanto como eu havia sentido a sua todos estes dias.
Quando o Nick acabou de satisfazer toda a sua necessidade acumulada de dançar, fui para perto de Grace e das meninas, mas pouco depois Vane apareceu a meu lado.
- Posso falar contigo? - Pediu educadamente.
- Claro. - Concordei.
- Em privado. - Insistiu.
Afastei-me para termos um pouco de privacidade, não sabia o que Vane queria de mim, mas a sua expressão de preocupação era notável.
- O que se passa? - Perguntei intrigada.
- Só quero saber se realmente está mesmo tudo bem contigo, quero dizer, passaste por muita coisa nestes últimos dias, mudanças trágicas... - Diz ele.
- Eu sei, nestes últimos dias as coisas deram uma grande volta, mas sinceramente acho que para melhor e eu estou pronta para o que der e vir, podem contar com isso.
- Nós confiamos em ti e no Ash, e podem ter a certeza que também estamos aqui para vocês.
- Obrigada Vane.
- Se realmente está tudo bem, eu acredito na tua palavra. Fico feliz por ti, por todos nós, por tudo o que fizeste pelos Predadores, acho que falo por todos quando digo que nos devolveste a esperança e força para continuar a lutar. - Confirmou o Vane.
- Não vou ser como a Artémis, refugiar-me no meu templo, fazer de vocês escravos, não me interessar pelos vossos problemas. E sabes bem que se for para lutar, vou estar ao vosso lado a lutar sempre, nunca vos abandonarei. - Assegurei, confiante.
- Uma nova Era para os Predadores acabou de começar. - Diz ele animado e cheio de esperança.
- Nova e sem precedentes, agora sim vamos mostrar quem manda aqui. - Brinquei.
- Estou a ver que vai acabar por ser aborrecido, ninguém nos vai fazer frente. - Responde ele, com cara de tédio.
- És difícil de satisfazer. Queixavam-se que as coisas estavam caóticas antes, agora queixam-se que vai ser monótono porque está tudo bem... - Disse na brincadeira, fingindo sentir-me frustrada.
Ele olhou em volta, muito discretamente e depois fitou-me com um sorriso tímido.
- Podias-me ter dito.
- O quê?
- Que o outro homem na tua vida era o Ash, eu teria compreendido.
- Ah sim, o que o faz diferente dos outros?
- Porque sempre desconfiei que ele passava um mal bocado nas mãos de Artémis, compreendo o porquê de te afastar, ele queria proteger-te. O que quer que seja que ele tenha feito, foi justificado.
- Não sabia que vocês os dois eram BFF. - Brinquei.
- Não BFF, nunca o irei perdoar por te roubar de mim...
- Vane... - Comecei eu.
- Estou a brincar. - Confirmou ele. - Ainda não te disse mas conheci uma mulher, ela chama-se Bride.
- Eu sei, disse-te que ia acontecer em breve. - Pisquei-lhe o olho.
Ele abraçou-me, deu-me um beijo na testa e afastou-se com um sorriso. Nem se passou sequer um minuto até o Ash resolver agir e aparecer ao meu lado. Eu vi ele aproximar-se, silencioso como um predador, com o seu típico andar sedutor. Encostou-se ao parapeito de ferro a meu lado e finalmente trocámos as primeiras palavras da noite.
- Está tudo bem?
- Sim.
- O que queria o Vane? - Perguntou intrigado.
- Como tu, só queria saber se estava tudo bem.
- Hun...compreendo.
- Não precisas fingir que não ouviste a conversa Ash... - Disse-lhe na cara.
- Eu não ouvi a vossa conversa, só umas palavras.
- Claro que não ouviste.
- Só ouvi ele dizer que tinhas um homem na tua vida. - Disse, confrontando-me discretamente.
- Claro, estou sedento... - Respondeu á minha provocação.
- O que queres? Uma cerveja? - Não cedi á sua pressão.
- Não era exactamente isso que eu estava á espera, mas pode ser, eu sou paciente. - Confirmou, fitando-me.
- Mas eu não.
Equilibrei-me nas pontas dos pés, aproximei-me dele sem lhe tocar e depositei um beijo nos seus lábios. Apesar de gentil, foi profundo, intenso. Não foi preciso mais para ficar com a respiração acelerada. Quando me afastei, apercebi-me de um súbito silêncio á nossa volta. Naquela zona reservada para o nosso grupo, só consegui distinguir sorrisos, cotoveladas e olhares chocados. Até mesmo o Ash tinha sido apanhado de surpresa.
- Sabes onde me encontrar. - Disse-lhe antes de desaparecer.

- Porque fizeste aquilo? - Perguntou ele animado.
- Porque posso. - Respondi sem vergonha.
- Só porque podes, não quer dizer que devas.
- Isso quer dizer que não devia ter feito?
- Se achaste que o risco valia a pena...
- O que queres dizer com isso Ash?
- Eu disse-te que estava sedento... - Diz ele aproximando-se.
- Se precisas de te alimentar, estás á vontade. - Afirmei, inclinando o pescoço, encorajando-o.
- Porque motivo decidiste tu tomar este fardo nas tuas mãos? Será que fazes ideia do que esta ligação significa? Estás ligada a mim Eva, é mesmo isso que queres? - Perguntou finalmente.
- Pensei que já tivesses percebido o porquê. Sempre pensei ser aquele tipo de pessoa capaz de proteger as pessoas que amo. Mas só depois de apareceres na minha vida é que consegui apurar a verdadeira extensão do que seria capaz de fazer e descobri que faria qualquer coisa. - Revelei.
- Serei eu merecedor do teu sacrifício?
- Para mim, para te ver livre, feliz, não é nenhum sacrifício.
- Quando finalmente percebi o que tinhas feito, pensei que o tivesses feito a pedido desesperado da minha mãe, mas ela disse-me que foi de livre vontade. Nunca ninguém fez tanto por mim como tu, um sacrifício tão grande e eu questionei-me se era merecedor disso, merecedor de ti. - Esclareceu, expondo os seus medos.
- Não há ninguém mais merecedor.
- Sabes, só há pouco tempo consegui entender esta nossa ligação, esta cumplicidade, o desejo de te ter por perto, a preocupação, o carinho, o desejo de ti.
- E a que conclusão chegaste? - Perguntei ansiosa pela resposta.
- Acredito que ficaste com o meu coração nas tuas mãos, logo naquela primeira noite em que nos encontrámos na rua, eu fiquei confuso, comecei a questionar tudo o que conhecia. Não sabia o porquê de me sentir assim, porque nunca amei realmente ninguém antes, não este tipo de amor. - Revelou timidamente.
- E como podes ter a certeza que é amor agora?
- Porque o que sinto agora, o que sinto por ti, não consigo descrever, não existem palavras suficientes para o definir. É assustador, esmagador, grandioso. Eu sinto uma felicidade extrema mas um medo terrível em igual proporção.
- Podes sempre resumir isso tudo em menos palavras. - Encorajei-o.
- Sim, posso simplesmente dizer que te amo. Deixei-te ir uma vez, um erro imperdoável que não voltarei a cometer.
Ele colocou o braço á volta da minha cintura e levou-me para o seu palácio, Katoteros. A nossa indumentaria mudou, eu estava usando a minha camisa de dormir de seda e alças e ele apenas um par de calças. Quando percebi que ele estava a tentar recriar a noite em que o nosso primeiro beijo foi interrompido, o meu coração incendiou-se. Pelo que pude perceber, estava nos seus aposentos.
- Esta é a primeira vez que visito a tua casa e tu trazes-me logo directamente para o quarto. - Brinquei.
- Nós temos assuntos pendentes a tratar...
- Não percebo nada disto, queres alimentar-te? Vais ter de me guiar. - Disse, um pouco perdida.
- Não precisas de te preocupar, vou mostrar-te exactamente como se faz... - Disse com um sorriso maroto.
Ash beijou-me gentilmente, sentou-se á beira da cama e puxou-me pela mão para me sentar no colo dele. Havia imaginado, ansiado por este momento, mas agora sentia-me pateticamente nervosa. Sentei-me com as as penas á volta da sua cintura e senti a excitação aumentar desenfreadamente.
O seu beijo era doce, e em pouco tempo tornou-se intenso, selvagem, ele agarrava-me firmemente, como se estivesse com medo que eu fosse escapar, ou que fossemos interrompidos uma segunda vez.
- Não fazes ideia do quanto te quero Eva, tenho imaginado isto vezes sem conta na minha cabeça, desde a noite em que te conheci. - Revelou entre dentes, com a voz rouca.
- Faço sim, porque imaginei isto tantas vezes como tu. - Respondi sem pudor.
Ele fez deslizar as alças da camisa de noite pelos meus ombros, e ela deslizou até á minha cintura. Devia ter-me sentido exposta, nua, mas não. Afastei-me para trás ligeiramente, abri os botão das suas calças e puxei o fecho. Finalmente, num único e desesperado movimento éramos agora um. Nunca tinha sentido tão grande felicidade, plenitude na minha vida, naquele momento sentia-me completa.

- És minha, para sempre. - Disse ele, com orgulho, fitando-me.
- Sim, sou tão tua como tu és meu. - Confirmei sorrindo e tomando-lhe os lábios com os meus.
Tirando a parte física, esta tinha sido a experiência mais poderosa e intensa pela qual tinha passado. Em pouco tempo, atingimos o clímax juntos, mas aquela noite estava longe de terminar, se dependesse de mim não terminaria, porque o amor que sentia por este homem, o amor que nos unia, não tinha fim.
Muito bom o texto, se puder siga http://universodosuspense.blogspot.com/
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