Depois de ter a aprovação de Styxx, materializei-me e estava de volta ao meu pequeno mas adorado apartamento. Encontrei o Julian a dormir no sofá. Aquela visão emocionou-me. O meu irmão estava ali exausto e preocupado comigo. Estava á espera que eu voltasse a casa. Ajoelhei-me junto ao sofá e chamei-o baixinho.
- Julian…
Ele estava a dormir ferrado, e percebi a extensão de toda aquela exaustão, ele devia ter andado á minha procura.
- Julian… - Insisti.
Ele abriu os olhos e quando me viu ali, levantou-se num movimento só e a sua expressão mudou. Sentiu-se logo aliviado.
- Eva onde raio tens estado? Temos estado tão preocupados contigo. – Disse abraçando-me.
- Desculpa, eu tive de me afastar por algum tempo.
- Podias ter dito alguma coisa.
- Não, não pude dizer nada.
- Porquê?
- Explico depois… Como estão as coisas por aqui?
- Sinceramente não sei o que te diga a esse respeito. – Diz ele com um ar preocupante.
- Então? – Perguntei alarmada.
O Julian levanta-se do sofá e começa a deambular pela sala, talvez á procura das palavras adequadas para descrever a situação:
- Temos tido muitos ataques de daemons ultimamente, têm nos dado muito trabalho, quase todas as noites.
- Bem me pareceu que alguma coisa não estava bem. - Concordei.
- E tinhas razão, esta última semana tem sido de loucos.
- Esta semana? - Perguntei intrigada.
- Sim, estiveste fora uma semana… - Esclareceu ele, confuso.
- Uma semana? - Agora eu tinha ficado confusa.
- Sim…
- Meu Deus, pareceu-me apenas dois dias ou assim. Bem isso agora não interessa. Que plano têm para combater os daemons?
- Temos localizado onde se costumam concentrar e vamos sozinhos. Se queres que te diga, isto parece-me ser uma manobra de diversão, para nos distrair.
- A mim também me parece.
- Pelo menos uma boa noticia, estás de volta, é um grande alívio, tu és indispensável. - Admitiu orgulhoso e envergonhado ao mesmo tempo.
- Tens a certeza que está tudo bem contigo? - Perguntou preocupado, segurando a minha mão.
- Certeza absoluta. - Confirmei.
- Temos mesmo estado muito preocupados contigo, todos.
- O que queres dizer com isso? Diz lá o que tens a dizer de uma vez.
- Tu sabes bem o que quero dizer…
- Ah sei…pensei que ele estivesse demasiado ocupado por ter dado pela minha falta.
- Não sejas assim, ele está preocupado, muito ocupado, mas está preocupado.
- Está bem, quando tiveres com ele diz-lhe que está tudo bem, mas para já, não me apetece cruzar com ele.
- Certo, estás no teu direito de estar ressentida, mas lembra-te de uma coisa…o Ash carrega muita responsabilidade ás costas.
- Eu sei disso, obrigado Julian. Já agora, como soubeste?
- A Mira, depois de desapareceres ela contou-me e á Grace, pensou que estivesse relacionado. - Revelou ele.
- Certo, que pergunta a minha.
- Temos reunião marcada para mais logo á noite na minha casa, vens?
- Sim.
O Julian foi embora e eu finalmente consegui relaxar, ainda que preocupada com tudo o que estava a acontecer. Tomei um bom banho ás luz das velas e ao som das músicas que tinha no meu novo ipod e consegui abster a mente dos problemas, por alguns minutos. Descansei um pouco, sabia que me esperava uma longa noite. Mais tarde, levantei-me, caprichei no jantar só para mim e dei graças á minha mãe por ser uma divindade e o meu corpo não se modificar com toda a porcaria que comia. Se não fosse assim, a esta hora estaria a rebolar que nem um barril.
Depois de comer, arrumei a cozinha, depois fui lavar os dentes, pentear o cabelo, um pouco de perfume e sai em direcção á casa do Julian. Podia transportar-me para lá, mas fazer coisas de gente normal fazia-me bem á sanidade mental. Mais ou menos quinze minutos depois estava a tocar á campainha e conseguia ouvir algumas vozes, aparentemente estava lá mais gente, não tinha sido a primeira a chegar.
A Grace foi quem me abriu a porta e ficou aliviada por me ver sã e salva:
- Eva, que bom ver-te. O Julian disse que estavas bem, mas prefiro ver por mim mesma. – Disse abraçando-me.
- Ele não estava a mentir. – Respondi. - Estou bem.
Fomos para a sala e encontrei amigos que me receberam de braços abertos:
- Deixaste-nos preocupados. – Disse o Kyrian.
- Pois deixas-te. – Acrescentou o Nick.
- Bastante. – Continuou o Talon.
- Já percebi, peço desculpa, não volta a acontecer. - Desculpei-me.
- Pois não, nem vai haver uma próxima vez, não vamos deixar. – Diz o Valérius vindo da cozinha.
- Obrigado. Não precisam de se preocupar que nada de mal me aconteceu. Digamos que estive a ajudar um amigo a encontrar o bom caminho.
Eles olharam curiosos e confusos para mim, mas resolveram não fazer perguntas. Fiquei verdadeiramente tocada ao saber que tinha verdadeiros amigos, que se preocupavam comigo e tinham ficado um pouco aborrecidos com o meu súbito desaparecimento. Mas até o assunto ficar esclarecido, eu não lhes podia dizer que o que tinha feito, tinha sido para os proteger. Depois de cumprimentar toda a gente, fui ter com a Grace á cozinha, ela estava a preparar uma ceia para a malta comer.
- Espero que as coisas fiquem mais calmas, agora que estás aqui. Confessou a Grace.
- Eu também, espero ser útil.
- Tu és útil, não sei se reparaste mas tornaste-te numa segunda líder. - Diz ela surpreendendo-me.
- Eu? - Perguntei chocada.
- Sim, eles viram-se para ti quando não conseguem contactar o Ash. O Valérius naquela noite ligou-te a ti depois de não conseguir falar com o Ash.
Pensei naquilo por instantes, e uma grande chapada de realidade acertou-me mesmo em cheio na cara, a Grace tinha razão, mas eu simplesmente gostava de puder ajudar sempre que fosse necessário, não era por ai. Não era uma líder, mas gostava de ser respeitada e saber que me tinham em tão grande conta.
- O Ash deve de estar a aparecer daqui nada… - Provocou a Grace.
- Não sei se isso é bom ou se é mau. Ele tem vindo todas as noites? - Perguntei curiosa.
- Sim, quase sempre. Só não vem se não puder.
- Pode ser que hoje ele não consiga…
- Não digas isso Eva…
- É que, não sei como o hei-de encarar. Não sei se hei-de fingir que nada se passou ou se o trate com indiferença mostrando que estou magoada.
- E que tal concentrares-te no que se está a passar com os daemons? Talvez te distraia. – Sugeriu ela.
- Isso resultava se ele não tivesse na mesma divisão que eu Grace. Não consigo fingir que ele não está presente, ele mexe demasiado comigo.
- Isso é de facto uma estreia para ti.
- E é, está a dar cabo de mim. Nunca conheci pessoa mais complicada, com tanta bagagem, que se fechasse tanto. Ele conquistou-me, foi crescendo aqui dentro e depois desapareceu. É como oferecer um doce a uma criança e depois tirá-lo de repente.
- Eu percebo-te, a sério que percebo. Mas o Ash não é um simples homem, ele é obscuro e misterioso, de certeza que tem os seus motivos. Não é pessoa de ser cruel com ninguém, e ele tem uma relação especial contigo.
- Continuo a ouvir isso, de ti, do Julian e da Mira, mas dado o que aconteceu e o que pode vir a acontecer, não quero criar expectativas. Não quero dar demasiado de mim, afeiçoar-me e depois…
- Isso já aconteceu querida. Tu gostas dele, mais do que possas imaginar.
- Não vamos falar disso agora, não vá ele chegar de repente e eu tenho de me mentalizar e entrar no espírito. Tenho de me concentrar para agir o mais normal possível.
- Faz isso, pode ser que ajude. Pelo menos enquanto partilharem o mesmo espaço.
Uns segundos depois a Miranna junta-se a nós na cozinha e começa com os seus devaneios habituais que nos fazem rir desalmadamente. Mas quando a campainha tocou, o ar quase me faltou. Eu sabia que era o Ash que estava á porta. Ele entrou e ficou de conversa na sala, só uns minutos depois é que o Julian o avisou que nós estávamos na cozinha.
Inspirei fundo e expirei, preparada para o encarar. Assim que ele entrou pela cozinha o meu coração disparou, de tal forma que parecia querer abrir caminho e sair de dentro de mim.
- Olá meninas. - Diz ele.
- Olá Ash! – Diz a Mira e a Grace ao mesmo tempo.
- Olá. – Disse eu.
- Eva…fico contente em ver que estás bem. – Disse, embora educadamente, mas o brilho nos seus olhos era tudo menos educado, era perversamente sedutor.
- Obrigado. – Respondi da mesma forma.
O silêncio e o constrangimento estavam a inundar a cozinha então apressei-me a cortar o mal pela raiz:
- Bem, vou ver como estão os planos, na sala…
- Eu também. – Apressou-se o Ash a dizer.
- Espera Eva, ajuda-me a acabar as sandes para levar. - Pediu Grace.
- Está bem.
A Grace tinha acabado de salvar a minha pele e por isso eu estava muito agradecida:
- Quão mal está, numa escala de zero a dez? - Perguntou-me a Mira.
- Onze! – Conclui.
Sem comentários:
Enviar um comentário