sexta-feira, 1 de maio de 2015

O Peso do Destino - Cap 36

o peso do destino, fanfic, dark hunters, contos, historias, escrita criativa,Aquele lugar parecia ser um templo em ruínas, havia colunas partidas, estátuas estilhaçadas, partes do edifício sem tecto e um ligeiro nevoeiro cobria o chão. Olhando para o exterior, percebi que o tempo estava escuro e tempestuoso, mas não foi só isso que percebi. Aquele caos e desordem que havia naquele sítio, era como Styxx se sentia por dentro, aquele lugar fazia parte dele. Eram como um só. Ele aproximou-se e eu perguntei:

- Que sitio é este?

- É a minha casa. Estavas a demorar muito tempo. – Respondeu ele.







- Bem, estou aqui não estou?

- Estive quase para te ir buscar. - Insistiu.

- Disse-te que não ia ser necessário, devias ter confiado em mim.

- Disse que estive quase, mas não fui… - Concluiu com uma certa indiferença.

Vagueei pelo grande e escuro salão e motivada pelo nervosismo, perguntei:

- O que acontece agora?

- Agora esperas.

- Espero? Para esperar podia ter ficado em casa.

- Necessito de fazer os preparativos.

- E porque é que tenho de esperar aqui? – Insisti.

- Porque só os posso fazer contigo aqui! – Respondeu asperamente. – Não tens de fazer mais nada, só esperar, e eu aviso-te quando estiver tudo pronto. Faz como se estivesses em tua casa. Pede às servas o que precisares. – Disse ao afastar-se.

- Isso é um bocado complicado. – Respondi entre dentes.

Por que razão quereria ele que eu esperasse ali enquanto preparava a minha entrega aos carrascos? Estava confusa, por que razão só comigo ali é que ele podia fazer os seus misteriosos preparativos? Era só pegar em mim e entregar-me, eu ia de livre vontade, como tinha concordado, não ia oferecer qualquer tipo de resistência ou perigo.

Eu tinha perdido completamente a noção do tempo naquele lugar. Não sabia se tinha passado um dia inteiro ou apenas algumas horas. Já fazia algum tempo que Styxx não aparecia perto de mim, mas eu ali estava, esperando pacientemente que o meu destino viesse ao meu encontro. Conheci uma das servas de Styxx, a única que se atreveu a falar comigo. Todas as outras se mostravam assustadas quando tentava comunicar com elas.

Desir, era o nome dela. Uma rapariga jovem, de aparência, talvez uns três ou quatro anos mais nova que eu. Ela não tinha receio de falar, parecia admirar-me por alguma razão, e fez-me muita companhia.

- Vi Afrodite apenas uma vez, dizem que é a deusa mais bonita de qualquer panteão. – Dizia, enquanto escovava o meu cabelo louro.

- A minha mãe é linda, sem qualquer dúvida. – Confirmei.

- Mas uma coisa eu posso dizer.

- O quê?

- Estão enganados, tu minha deusa, és muito mais bonita que ela.

- Creio que isso seja impossível Desir. - Respondi com embaraço.

- Não, não é… - interrompeu Styxx vindo do nada.

Desir retirou-se de imediato, deixando-nos a sós. Ele parecia estar mais calmo.

- Pensei que não fosse verdade, mas confirmei que era, na primeira vez que te vi.

- E ainda assim tentaste matar-me. 

- Fiz o que tinha de ser feito. Não queria matar-te.

- Certo. 

Ele volta-me as costas e diz calmamente:

- Vi dizer-te para te juntares comigo ao jantar, não faz sentido comeres sozinha, és minha hóspede.

- Obrigado, é muito amável da tua parte. – Respondi, fazendo uma vénia antes dele sair.

Bem, estava a ficar cada vez mais estranho. Para quê tanta simpatia, quando ele estava prestes a entregar-me aos carrascos do Olimpo? Juntei-me a Styxx para jantar. A semelhança entre ele e Ash deixava-me confusa, eram idênticos, excepto nos olhos.

- Fico contente que tenhas aceitado. – Diz ele.

- Não iria recusar ao dono da casa um pedido. – Respondi.

- Não precisas de ser assim tão fria.

- Não? Porquê? Acho que até estou a aceitar bastante bem o que vais fazer comigo.

- Não vamos estragar o jantar falando sobre isso. - Pediu.

- Está bem, vou continuar a fingir que nada de mal me vai acontecer.

O silêncio durante a refeição foi demasiado intenso, o ar estava demasiado pesado. Depois de comer, voltei aos meus aposentos, e mais tarde, dei comigo a vaguear por aquele lugar tão frio e triste. Encontrei Styxx sentado numa antiga espreguiçadeira a observar o luar. Observei-o durante alguns minutos e quando estava prestes a afastar-me ele chama-me.

- Sei que estás ai Eva.

- És tão bom a fingir como eu.

- Pois sou, aproxima-te, por favor.

Fui até ele, fiquei ali encostada a uma coluna, sem dizerem nada, até que não aguentei mais.

- Porque odeias o teu irmão dessa maneira, tão ferozmente?

- Bem, acho que é demasiado óbvio.

- Para mim não é.

Ele mexeu-se espreguiçadeira e percebi que aquele tópico não o agradava, mas eu não ia deixá-lo escapar. Estava a fazer tudo o que ele me pedira, por isso ele devia-me respostas.

- Sofri demasiado por causa do meu irmão.

- Tu? Tu sofreste muito…não acredito que estejas a dizer isso. Eu vi em primeira mão a vida do Ash e não creio que tenhas sofrido assim tanto Styxx.

- O que sabes tu sobre isso? Tu não sabes minimamente do que estás a falar.

- Infelizmente sei, desejava não saber, mas sei. - Confirmei irritada.

- O que queres dizer com isso? - Perguntou ele intrigado.

Eu não conseguia estar quieta, pensar naquilo outra vez dava-me voltas ás entranhas, mas tinha de tentar abrir os olhos a Styxx, fazê-lo ver a razão.

- Tu não tens a mínima noção do sofrimento que o Ash passou…

- Conta-me lá, estou ansioso por ouvir a sua triste história. – Gozou ele.

- Seu sacana egoísta. O teu irmão foi uma vítima no meio disto tudo. Ele nasceu inocente com uma maldição para o resto da vida. Fazes ideia do que é ser odiado pelos próprios pais, pelo irmão, por toda a gente e não saber o porquê? Até a única pessoa que nunca o abandonou e sempre o amou lhe foi roubada. Ele foi enviado para longe, ainda criança para servir como escravo sexual, para ser maltratado e humilhado por todos…

- E eu achas que para mim foi fácil, olhar e desejá-lo? Achas que para mim não foi humilhante, ainda que ninguém soubesse, eu sabia e tinha nojo de mim mesmo… E comigo nunca ninguém se preocupou, nunca. Ele tinha a sua mãe, a deusa, e eu tinha o quê? Nada! Fiquei sem nada, abandonado, porque razão ele nunca se preocupou comigo? Nunca se preocupou em saber o quanto eu também sofri. - Acabou por confessar, gritando ao mesmo tempo, relevando demais.

Já calculava que aquele fosse um dos motivos para que ele odiasse tanto o irmão, mas descobri que mais se havia passado, algo de terrível também fez Styxx passar por um tremendo sofrimento. Mesmo assim não consegui evitar a minha fúria contra ele.

- Nunca o apoiaste Styxx, apesar de saber que ele não tinha culpa, nunca ficaste do seu lado, e ainda depois de tudo acabar, ficaste contra ele, porquê? – Perguntei com as lágrimas nos olhos.

- Eu…eu odeio-o, não posso evitá-lo, foi por causa dele que a minha casa foi destruída, os meus pais, a minha irmã, o meu povo, por causa dele…

- Certo…tudo é culpa dele, para ti. Sabes que apesar de ter sido abandonado, maltratado e humilhado, foi isso que o tornou na pessoa que ele é hoje, tenho tanto orgulho naquilo que ele se tornou. Ainda assim, és a única família que ele tem. Podias acabar com ele, que o Ash nunca faria nada contra ti. Sabias disso Styxx?

Ele não respondeu, estava a processar tudo que lhe havia revelado, ele não sabia o que dizer:

- Espero que esta conversa te faça reflectir um pouco e mudar de atitude, não acredito que sejas assim tão má pessoa. Se me quisesses magoar a sério, poderias tê-lo feito, e não o fizeste.

Deixei-o e voltei para os meus aposentos. Aquela conversa tinha-me deixado emocionalmente esgotada, não conseguia fazer as lágrimas parar de cair. As atrocidades que tinham feito ao Ash não me saiam da cabeça, estavam gravadas na minha memória. E assim, algum tempo depois acabei por adormecer. Da manhã deixei-me dormir até tarde, deixei-me ficar na cama mais tempo. Não ia sair dali tão cedo, por isso mais valia aproveitar.

Mais tarde, perto do que me parecia ser a hora do almoço, vesti-me e fui ter ao salão. Sentei-me ao lado de Styxx.

- Bom dia. - Cumprimentei-o educadamente.

- Dormiste bem? – Perguntou ele.

- Sim, obrigado.

Comemos em silêncio. Eu sabia que ele ainda estava a pensar na última conversa que tínhamos tido. De repente, senti um arrepio e tive um mau pressentimento. Algo em grande estava para acontecer, e eu estava ali, como uma inútil. Queria desesperadamente voltar para casa, mas não lhe ia dar a satisfação de implorar que me deixasse ir embora. Contudo, ele topou a minha preocupação:

- O que se passa? - Perguntou.

- Nada, não se passa nada.

- Estás a mentir.

- E se estiver, admitir serve de alguma coisa? Estou aqui presa na mesma… - Insisti em comentar a situação.

Ele ficou uns segundo em silêncio enquanto acabava de mastigar a comida:

- O que se passa lá em baixo? - Perguntou curioso.

- Não sei, mas alguma coisa vai acontecer.

- Quando?

- Talvez amanhã, ou durante a semana.

- Tens um dom incrível, nem eu consigo prever coisas assim.

- Tenho as minhas utilidades… - Disse secamente.

Depois de comer, fomos cada um para o seu lado. Eu fui para os meus aposentos, sentei-me muito direita numa espreguiçadeira no meu jardim. Estava preocupada e sabia que independentemente do que fosse acontecer, ia envolver o Ash. Estava a ficar demasiado impaciente quanto o Styxx entrou, parou em frente a mim e anunciou:

- Vai, podes ir...

- O quê?

- Estou a dizer para ires embora.

- E aquela treta toda do Olimpo? - Perguntei chocada.

- Eu não te ia entregar de qualquer das formas… - Confessou.

- Por que razão me trouxeste para cá? – Perguntei confusa.

- Precisava de companhia e de alguém que insistisse, que me convencesse que estava errado, que me ajudasse a endireitar as ideias.

- Podias ter simplesmente pedido. Quase que matas o Ash e a mim.

- Eu nunca tive intenções de matar ninguém. Queria simplesmente a vossa atenção.

Olhei para ele, completamente estupefacta com aquela revelação, e perguntei-lhe:

- Sentes-te melhor agora?

- De certa forma sim, mas ainda tenho muito em que pensar.

- Posso mesmo ir embora? - Perguntei antes que ele mudasse de ideias.

- Sim.

- Obrigado.

Levantei-me e estava pronta para ir embora, mas antes parei perto de Styxx, pousei a mão no ombro dele e olhando-o carinhosamente disse:

- Se precisares de alguma coisa, seja o que for, chama-me ou visita-me, não necessitas de chamar a atenção. Sei que, á tua maneira, és boa pessoa.

- Obrigado Eva.

- Se decidires juntar-te a nós, estás á vontade, mais uma ajuda não faz mal a ninguém.

- Não tenho a certeza a cerca disso.

- Certo.

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