sexta-feira, 20 de março de 2015

O Peso do Destino - Cap 30

Contos, Dark Hunters, Dark-Hunters, Escrita Criativa, Fanfic, Histórias, O Peso do Destino, Acabei de me arranjar e sai porta fora sem dizer uma palavra, tal era o embaraço. Fui trabalhar mas a minha cabeça estava nas nuvens, ou mais propriamente, tinha ficado em casa na minha banheira. 

A distracção era tanta que devo ter etiquetado os mesmos livros duas ou três vezes, assim era impossível trabalhar. Cheguei a um ponto em que acabei por aceitar que nunca na minha vida tinha passado por uma experiência tão embaraçosa, e nunca iria passar futuramente por outra que a conseguisse ultrapassar.

Não ia conseguir encará-lo tão cedo, eu não ia esquecer o episódio e ele também não. Mais tarde, nessa manhã perturbadora, o Ash decidiu fazer mais estragos e ligou-me:


- Olá. - Disse ele com embaraço.

- Olá. - Respondi, partilhando o mesmo sentimento.

- Queria dizer-te que pouco depois de saíres eu sai também, e a Mira estava a passar na rua e viu-me sair do prédio. Achei que devias saber. - Informou-me, mostrando uma certa preocupação.

- Ela disse alguma coisa?

- Não, apenas me cumprimentou, mas não nego a sua surpresa quando me viu.

- Então ela está chateada comigo. - Confirmei, sabendo que ia ter justificações para dar.

- O que te faz dizer isso?

- Ela não me ligou, não disse nada. Deve achar que se passa alguma... - Perdi as palavras.

- Alguma coisa... - Interrompeu ele intrigado.

- Entre nós, e eu não lhe contei. - Esclareci.

- Ah, já percebi. Tens de falar com ela e explicar-lhe que não se passa nada.

- É o pretendo fazer quando sair daqui. Obrigada por ligares. Agradeci.

- De nada. - Disse carinhosamente antes de desligar.



Aquele “não se passa nada” era tão falso como eu me chamar Maria. Na realidade não se passava nada, ainda, mas acredito que muito se passava nas nossas cabeças. Perguntava-me constantemente quanto tempo demoraria até se passar realmente algo, pelo andamento da coisa, era eminente.

Agora tinha de me preocupar com a Mira e explicar-lhe o porquê das coisas, tinha a certeza que ela já tinha inventado uma grande história na sua cabeça e estava furiosa comigo, porque sendo a minha melhor amiga, eu não lhe tinha dito nada. Quando sai do trabalho fui logo falar com ela para esclarecer a situação, e no caminho até ao café fui preparando muito bem as palavras, o que ia dizer.

Quando lá cheguei ao final da tarde, o movimento do café estava calmo, ela estava ao balcão limpando uns copos. Assim que me viu entrar desviou logo o olhar. Sentei-me ao balcão em frente a ela, preparada para dar a grande explicação quando ela me interrompeu:

- Não tens de me dizer nada, se não quiseres...

- Por acaso tenho, mas não é nada daquilo que tu estás a pensar.

- Então o que fazia o Ash lá em casa? Vais dizer-me que não se passa nada entre vocês?

- Não, não vou dizer nada disso, seria mentira, de facto passa-se muita coisa entre eu e ele... - Comecei.

Ela ficou surpresa pelas minhas palavras, consegui a sua atenção, consegui que ela se acalmasse para me ouvir.

- Está bem, continua. - Permitiu-me.

- Há poucas semanas, numa noite que fomos ao santuário, quando ia a caminho de casa fui atacada por daemons, eles tinham uma arma contra a qual eu não me consegui defender e que me deixou em mau estado.

- O quê? Porque raio não me disseste nada? O que é que isso tem a ver com...

- Eu explico, se me deixares continuar. - Interrompi.

- Claro.

- Nessa noite estava lá uma pessoa que eu pensei que fosse o Ash, e por isso baixei a guarda. Fiquei a saber, por ele, que aquele homem que eu vi era o seu irmão gémeo. Eles não se dão bem, isso é dizer pouco. Logo, isto tornou-se pessoal para o Ash, ele acha que nós os dois somos alvos e não me quer deixar sozinha, ele quer enfrentar o irmão.

- Por isso mudou-se para lá, porque ele pode aparecer. Agora percebo. Mas porque não me contaste? - Diz ligeiramente ofendida.

- Não queria assustar-te e muito menos colocar-te em perigo, eu sei perfeitamente que se soubesses de algo, irias querer estar por perto, mas é muito perigoso. - Esclareci.

- Eu compreendo, provavelmente era o que faria.

- Eu sei.

- Desculpa. - Disse envergonhada.

- Está tudo bem, qualquer pessoa podia tirar conclusões precipitadas.

- Qualquer pessoa não, e eu não o faria se não soubesse que é uma possibilidade. - Lançou para o ar.

- Uma possibilidade de quê? - Perguntei intrigada.

- De acontecer algo entre você.

- O que queres dizer com isso?

- Só um cego não vê, e mesmo assim sentiria, que há algo com vocês... - Confirmou sem reservas, ali na minha cara.

- Algo?

- Sim, uma empatia, uma ligação, química, chama-lhe o que quiseres, mas há.

- E há, mas chama-se nada. - Menti.

Ela rolou os olhos e olhou-me de lado. Ela podia ser desbocada e completamente tresloucada, mas conhecia-me como ninguém. Para que ela não falasse mais sobre o assunto, mudei de conversa.

- Falei com a Carmen, ela passou um mau bocado, acho que temos de combinar uma saída nós todas e devíamos investir mais tempo na nossa amizade.

- Como assim?

- Somos amigas, sempre fomos e sempre seremos, mas muitas das vezes cada uma segue com a sua vida e só depois de acontecer alguma coisa é que ficamos a saber, perdemos o contacto por algum tempo.

- Sim, eu percebo, como aconteceu com a Carmen, eu realmente não fazia ideia, ela distanciou-se um pouco.

- E nós deixámos isso acontecer, é a isso que me estou a referir.

- Tens razão, temos de fazer um esforço, combinar coisas mais vezes, não desaparecer demasiado envolvidas nas nossas vidas.

- Isso mesmo, vou tratar disso.

- Está bem, se precisares de ajuda é só dizeres. Já agora, bom trabalho em desviar a conversa, a mim não me enganas tu. - Concluiu sorrindo e piscando-me o olho.

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