terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

O Peso do Destino - Cap 27

o peso do destino, fanfic, dark hunters, dark-hunters,O que senti naquele momento foi um misto de sensações. Naquele silêncio onde não eram precisas palavras para descrever o que se passava nas nossas cabeças, a atracção, a excitação e o magnetismo sentiam-se num raio de quilómetros á nossa volta. Exactamente como na outra noite no bar, ele despertava uma certa ousadia em mim, um espírito libertino.

No meio disto tudo também me sentia vulnerável, como que se perto do Ash eu fosse um livro aberto, como se ele pudesse ver dentro da minha alma, como se ele soubesse o que eu estava pensar. Esse misto de sensações era excitante.


- Gostas? Queres mais? - Perguntei com ousadia.


- Sim, só mais um por favor. - Ele pediu educadamente, sem educação nenhuma, sem misericórdia do meu pobre coração.

Ele sabia o quanto me afectava, eu sabia que ele sabia, no entanto eu também sabia que não lhe era indiferente, apesar de não jogar com isso da mesma forma que ele fazia. Ele era descarado, e ainda assim parecia tão inocente e ingénuo, como se não soubesse da violenta tempestade que despertava em mim. Ou talvez ele realmente não se dava conta.

Peguei noutro morango, passei-o pelas natas e levei-o á sua boca. Eu podia fazer aquilo a noite toda que não me iria fartar, podia até começar a dar-lhe os morangos á boca com a minha boca. Ele não desviava o olhar, nem para pestanejar. Ele seguia os meus movimentos com avidez. Eu queria deixar-me ir na brincadeira, mas tinha medo. Depois de lhe dar o morango levantei-me da mesa e fui lavar a loiça. Eu sei, fui um pouco brusca, mas tinha sido melhor assim.

Quando terminei de arrumar a cozinha, sentei-me á mesa com o portátil, enquanto o Ash estava a ver televisão no sofá. Do nada, um pensamento completamente absurdo chegou-me á cabeça. Nós os dois, só faltava mesmo a parte do romance, vivíamos juntos, cozinhávamos um para o outro, e dividíamos tarefas, só faltava mesmo sermos um casal. Aquele pensamento foi tão descabido, que quando o telefone tocou e me fez acordar para a realidade, senti-me envergonhada por ter tido tais pensamentos. Talvez tenha sido um sinal para acabar com tais divagações.

Fui atender o telemóvel para o quarto e encostei a porta atrás de mim:

- Olá, Carmen? – Perguntei surpreendida.

- Eva, como estás?

- Eu estou bem e tu? Já não dizias nada há algum tempo.

- Eu sei, as coisas comigo não têm corrido da melhor maneira ultimamente. – Confessou com tristeza.

- O que se passou? – Perguntei preocupada.

- Eu e o Kyle acabámos há quase dois meses…

- Por que não disseste nada, não tinhas de passar por isso sozinha.

- Sim, mas tu sabes como eu sou.

- Sei, bem até demais. Mas tu tens amigas com quem podes contar, se não nos disseres nada, nós não adivinhamos, e depois vamos nos sentir miseráveis por não termos estado do teu lado. Sabes isso certo?

- Sim, desculpa, não vale a pena dares um sermão, já percebi. Estou a tentar falar sobre isso agora.

- Bem, melhor tarde que nunca. – Brinquei, ouvindo a Carmen rir do outro lado. – Nós sentimos a tua falta Carmen.

- E eu estou a morrer de saudades vossas.

- Promete-me que não voltas a fazer uma dessas outra vez.

- Vou tentar.

- Isso não chega.

- Está bem, sua chata, não vou voltar a esconder os meus problemas de vocês, podemos ultrapassar tudo se estivermos juntas. – Disse ela carinhosamente.

- É isso que eu gosto de ouvir.

- Em breve sem falta estamos todas juntas.

- Mal posso esperar, beijinhos. - Confirmei ansiosa.

- Beijinhos.



Voltei do quarto e sentei-me novamente á mesa e junto do meu computador, mas o Ash notou a minha preocupação.

- Estás preocupada…

- Quando é que eu não estou preocupada? – Brinquei.

- Preocupas-te demasiado com os outros.

- Faz parte de mim.

Ele sorriu para mim, sabia que era verdade, eu era assim. Voltámos ao que estávamos a fazer e minutos depois, eu pedi-lhe:

- Se precisares de alguma coisa faz sinal, vou pôr os auscultadores e ouvir um pouco de música.

- Sim, não te preocupes.

Eu e a música éramos as melhores amigas, assim que começava a tocar, eu não conseguia evitar cantarolar baixinho ou mexer-me com o ritmo, era mais forte que eu. Estava sentada e mais uma vez os meus pensamentos, juntamente com a minha fértil imaginação, começaram a divagar na minha cabeça.

O Ash estava sentado no sofá, de costas para mim, desta maneira só podia observar o seu belo pescoço de pele dourada, imaginando o resto do seu tronco sem estar coberto pela t-shirt que ele tinha vestida.

Às vezes era inevitável, eu parava o que estava a fazer para o observar, ele até podia não estar a fazer nada, mas era fascinante de qualquer das formas. Ele era assim, irresistível ao olhar, tão irresistível que doía. Como é que eu ia conseguir conviver com o Ash na mesma casa sem dar em doida, e isto era só o principio.


Algum tempo depois, o sono começou a apoderar-se de mim, e sem dar mais luta, decidi ir dormir.


- Acho que me vou deitar.

- Eu ainda vou ficar aqui mais um pouco, sabes que tenho os sonos trocados. - Brincou.

- Fica á vontade. Boa noite.

- Dorme bem.

Adormeci quase que instantaneamente, assim que a minha cabeça tocou na almofada. Comecei a ter um sonho muito estranho. Estava a sonhar, com uma deusa, supostamente atlante, mas não sabia como é que sabia que ela era atlante, nem sabia que tinham existido realmente deuses atlantes, ou a Atlântida.


A deusa estava assustada e destroçada também, percebi que ela tinha de abandonar o bebé que trazia consigo, supostamente seu. Ela ia deixar o seu filho ao cuidado dos humanos, para o manter escondido e seguro, pois o bebé significava mau agouro, era uma maldição e a sua presença era sinal de destruição, morte e desgraça. Por esses motivos o rei, seu marido, queria matar o seu próprio filho.

A criança foi posta na barriga de uma rainha humana, que teve gémeos. O bebé atlante era diferente do bebé humano, então foi igualmente tratado como símbolo de má sorte, devido aos seus olhos claros prateados, e foi-lhe dado o nome Acheron, como o rio que na mitologia grega, era símbolo de dor, o rio de Hades.

Ao percorrer, no meu sonho, a infância cruel e longe de inocente que Ash teve, acordei sobressaltada e ensopada no meu próprio suor. Sentia-me mal, por todos e mais alguns motivos, tanto física como psicologicamente. Eu conseguia sentir tudo o que o Ash tinha sentido, senti a sua dor, o seu sofrimento, a sua vergonha e mal podia respirar. Sai do quarto a cambalear e fui directa para a casa de banho. O Ash apareceu á porta assustado:

- O que se passa Eva? – Pergunta amparando-me.

- Está tudo bem, foi só um pesadelo. – Disse esforçando-me para me agarrar ao lavatório.

- Deve ter sido péssimo, para ficares nesse estado. – Comentou ele.

- Foi mesmo, foi horrível. - Confessei sem dar detalhes.

- Com que sonhaste?

- Com coisas que nem vale a pena lembrar. – Disse, dolorosamente.

Ele ajudou-me a caminhar até á cama, onde adormeci e os pesadelos voltaram para me atormentar. Estavam a relatar a vida do Ash, mas com que propósito? Ele próprio não falava da sua vida a ninguém, por que razão iria alguém querer que eu soubesse. Não eram sonhos ao acaso, e eram demasiado dolorosos, alguém me estava a fazer reviver aquele doloroso passado.

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