O Peso do Destino - Cap 22

Passei o resto do dia no trabalho, apesar de adorar o que fazia, hoje era um dia especial, um dia de alegria que nada poderia destruir, estava tão feliz por ter encontrado respostas, a minha mãe e ainda um irmão. Nada podia tirar este sentimento de mim. 

Agora já sabia quase tudo acerca das minhas raízes, mas as coisas ainda pareciam complicadas, havia muito que ponderar, muito em jogo, e a partir de agora todo o cuidado era pouco. Mais tarde fui para casa, comi uma fatia de cheesecake e uma chávena de café, e meti-me na cama. Adormeci sentindo-me livre, feliz, era um sentimento estranho. 

Estava num sítio onde nunca tinha estado, nem fazia a menor ideia de onde era aquele lugar. Parecia um templo, com chão e paredes de mármore, fontes de água cristalina e jardins que pareciam o paraíso. No interior havia uma cama de dossel talhada em madeira, com tecidos brancos transparentes a esvoaçar, objectos feitos em ouro maciço por todo o lado. 

Sentei-me numa otomana de veludo e nesse momento duas grandes portas de madeira pesada abriram-se. O Ash vinha na minha direcção, simplesmente com umas calças vestidas, caminhava que nem o mais sensual dos predadores. 

Chegou perto de mim, tomou-me nos braços, levou-me em direcção á cama onde me deitou por baixo de si e onde me beijou ardentemente. 

Entretanto acordo de manhã toda transpirada e estranhamente desiludida quando me apercebi que estava no meu apartamento, na minha cama e o mais triste, que estava sozinha. Aquele sonho não me saia da cabeça, e ia vê-lo naquela noite e de certeza que não ia conseguir olhar para ele sem me lembrar do sonho e sem ficar envergonhada.

Era o aniversário da Mira e tínhamos combinado festejar todos juntos no Santuário. Até o Ian tinha sido convidado. Como era uma ocasião especial eu decidi escolher melhor o que iria vestir. Levei umas calças pretas justas, uns botins de salto alto pretos e um casaco de cabedal. Vesti um top um pouco mais elegante e com um certo decote, azul. Escolhi levar o cabelo solto e meio ondulado para variar, e coloquei um lindíssimo pendente vermelho escuro, cor de sangue que a minha mãe, Simone, me tinha oferecido.

Um pouco de gloss, perfume estava pronta para sair. Ainda que simples, continuava a atrair muita atenção. Assim que entrei no bar senti logo os olhares caírem sobre mim, mas como era algo que acontecia frequentemente, estava mais que habituada a ignorar. 

O único olhar que não consegui ignorar foi o de Ash, que parecia queimar-me a pele, um olhar que entre muitos, se destacava de todos os outros.

Cheguei á mesa onde o grupo do costume estava reunido, cumprimentei toda a gente, e cumprimentei o Ian na esperança que o mal entendido entre nós estivesse atrás das costas. Depois abracei a Mira como se não houvesse amanhã:

- Parabéns minha linda. Tenho aqui uma prendinha para ti.

- Acho muito bem, trazer uma prenda era o requisito para entrar na festa – Brincou ela. - obrigada Eva.

Ao contrário de Julian, a Miranna não se importava de receber prendas, quantas mais melhor. Toda a gente estava animada. O Julian roubou-me á Mira para dançar, ele bem tentava disfarçar a alegria de encontrar a sua irmã, mas falhava miseravelmente, o que o tornava ainda mais querido. Depois fui ao bar e o Ash estava lá a conversar com o Dev Peltier.

- Olá Dev, Ash… - Cumprimentei.

- Olá Eva, estás linda. – Disse o Dev.

Corei imenso, mas ainda envergonhada respondi:

- Obrigado, mas redirecciona as tuas atenções e elogios para a Mira, a noite é dela.

- Sim, é verdade. – Riu - Bem eu não tenho a vossa vida, tenho de ir trabalhar. – Era mesmo muito provocador.

Assim ficámos os dois ao balcão, eu e o Ash:

- O Dev tem razão, estás muito bonita…

Tão calado e reservado que ele era, não estava á espera que fosse fazer algum tipo de comentário, muito menos acerca da minha beleza ou aspecto.

- Oh vá lá, não comeces tu também, não gosto nada de ficar envergonhada. Só mudei a roupa, aperaltei-me um bocadinho, nada demais. – Disse envergonhada.

- De qualquer das formas, já és bonita sem te aperaltares por isso não fiques surpresa pela atenção que recebes quando o fazes! – Disse, ficando por ali, para não dizer que ela estava extremamente sexy.

- Obrigado – Respondi, ficando-me também por ali, pois o Ash era bom todos os dias, de todas as formas e feitios. – E o Ian, o que achas dele? – Desconversei.

- Não falei muito com ele, mas parece que não se sente muito á vontade aqui. - Confirmou rindo.

- Bem temos de ver como a noite corre, gostava que ele fizesse amigos por aqui.

Como se tivesse adivinhado, algum tempo depois o Ian veio ter comigo, com cara de aborrecido:

- Vamos ficar aqui muito mais tempo? - Perguntou.

- O queres dizer com isso? É o aniversário da Mira, estás desejando embora?

- E se eu te pedisse, virias comigo ou ficavas aqui?

- Mas porquê Ian? Não estás a gostar da festa?

- Para ser sincero não, esta gente nova que me apresentaste…são esquisitas, não gosto…

- Não os conheces bem, não os podes julgar.

- Eles são todos tão…não é normal. Não me sinto bem aqui e ponto final.

- E não podes pensar um pouco na Mira, esta noite é importante para ela.

- Ela é tua amiga, não é minha. Além disso, vim por ti não por ela – Confessou irritado.

- Ian...pensei que já tivéssemos ultrapassado isso – Disse desiludida com ele. – O que se passa contigo?

- Tenho quase a certeza que qualquer um destes tipos preenche melhor os teus requisitos. Tens a certeza que estás aqui pela Mira ou para seres o centro das atenções? Eu vou-me embora. - Disse, já tocado pela bebida.

Aquelas palavras tinham-me magoado muito, e apesar de saber que ele estava a dizer aquelas coisas da boca para fora, ainda assim estava a ser cruel para mim.

- Estás mesmo a falar a sério…

- Sim estou a falar a sério. Não aguento mais estar no meio destas aberrações todas…

Tinha ficado chocada com aquela atitude. Nunca tinha notado algum comportamento da parte do Ian que denunciasse que ele podia ser assim, era impossível ter previsto tal coisa.

- Vai Ian…e já agora, escusas de voltar! – Disse seriamente, voltando-lhe as costas.