terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O Peso do Destino - Cap 17

o peso do destino, dark-hunters, fanficPor baixo de todas daquelas camadas, da distância, de toda a frieza, do aspecto selvagem e rude de guerreiro, por baixo do líder implacável e feroz, havia um lado terno, um bom homem, uma pessoa com sentimentos. Ele preocupava-se com os seus, a todo o instante, mais do que se preocupava consigo próprio.

- Porque não vais para perto dela? Podes deitar-te na minha cama, ou sentar-te na cadeira que está lá! – Sugeri.

- Sim, acho que vou fazer isso, se não te importares, claro! – Disse.


- Claro que não. Vai lá!

O Ash foi para perto da Simi, e vi, uma vez que a porta ficou só encostada, que ele se tinha deitado junto a ela, aninhando-se de forma protectora. Dava uma bela fotografia, um momento de carinho assim era de aquecer o coração. Como sentia falta de um abraço, de um carinho, sentia um vazio enorme, mas eu era demasiado grande para pedir esse tipo de coisas, e também não tinha a quem pedir.

Lembrei-me imediatamente da minha mãe. Como tinha saudades dela, dos seus carinhos, do seu cheiro, das suas excentricidades, e principalmente da sua presença. Bastava-me isso e sentia-me completa, sem isso, sentia que não era ninguém.

Como detestava entrar naquele estado de nostalgia. Era extremamente difícil sair depois de começar a relembrar certas coisas, umas boas que me faziam sorrir, outras tristes que me faziam querer chorar, e havia ainda a categoria de coisas das quais me havia arrependido e desejava puder voltar atrás.

Para desanuviar um pouco, peguei num pequeno cobertor e no mp4 e sentei-me no terraço. Eram cerca das três da manha e eu estava sentada lá fora a apreciar a noite e a vista que tinha do meu apartamento. E como fazia sempre, meti o volume no máximo para tentar não escutar os meus próprios pensamentos. 

A intenção era boa, mas simplesmente não resultava. Por vezes quando me deixava levar, acabava por ficar frustrada e entrava num estado de fúria, do qual não explodia devido a um grande esforço e autocontrolo. Ás vezes, quando tentava conter ao máximo o que estava a sentir, algo de errado acontecia. Da última vez tinha rebentado com a televisão simplesmente só de olhar para ela.

Agora fitava a noite, mas tinha na mão um copo de sumo que tinha levado lá para fora. A minha frustração era tanta, que o líquido que estava no interior do copo começou a borbulhar, depois a girar violentamente até sair pelas bordas. No entanto, um simples toque acabou com aquilo tudo. Senti a mão do Ash no meu ombro e foi o suficiente para me acalmar. Era um toque assim que precisava, e imaginei como seria um abraço.

Desliguei a música, arrumei o mp4 no bolso, e não abri a boca, só passado alguns segundos é que consegui falar:

- Desculpa, isto não é algo bonito de se ver…

- Não tens de te desculpar, todos nós temos um lado assim…ninguém é perfeito.

Foi ai que o olhei e percebi que ele tinha razão. Também ele tinha um lado obscuro, segredos e um passado que todos desconheciam.

- Ás vezes penso no que aconteceria se me deixasse levar, só por um momento. – Confessei tristemente.

- Acredita que sei o que isso é, já tive momentos de pensar a mesma coisa, mas acho que o mundo seria um local bem mais seguro se não tentar tal proeza! 

- Essa é exactamente a razão pela qual não o faço, que me faz parar no limite! Mas é dificil, ás vezes apetece-me mesmo explodir. - Ri da minha própria insanidade.

Debrucei-me sobre o parapeito do terraço, apoiando-me nos cotovelos e o Ash fez-me companhia:

- Porque razão estavas assim, tão revoltada?

Pensei na resposta e respondi carregada de tristeza e dor no peito, mas sem o encarar:

- Não sei Ash, simplesmente fico. Sei que tive uma boa vida, comparada com a de outros…mas até que ponto posso chamar de “meu” tudo o que tenho, tudo o que passei, se na realidade posso ser uma pessoa completamente diferente?

- Acredito que, sejas tu quem fores, serás sempre assim, tu mesma como és neste momento. E independentemente da realidade Eva, tu não tens de mudar quem és! – Disse calmamente.

- Por um lado, quero saber tudo o que há para saber sobre mim, mas por outro, tenho medo, medo de não gostar do que vou descobrir. - Revelei.

- Não tenhas medo, o que quer que seja que descubras sobre ti e tudo o que viveste até agora, fizeram de ti a pessoa que és hoje, e acredita que apesar de tudo te saíste muito bem. Aposto que não sou o único a concordar com isso.

- Afinal sempre temos algo em comum. – Brinquei, mais bem-disposta.

- O que é? - Perguntou ele.

- Um poder calmante...

- Entre outros… - Disse, não revelando nada mais.

- Acho que tens razão, só espero viver o suficiente para que consiga descobrir quem sou e qual o meu propósito aqui.

- E vais, garanto-te – Concluiu, olhando-me com ternura, pois também ele tinha passado pelo mesmo, num passado bem distante. Passou muito tempo sem saber quem era na realidade.

Estas trocas de olhares, silêncios constrangedores começava a tornar-se embaraçosos. De certeza que ambos pensamos o mesmo, então acrescentei para quebrar o silêncio:

- Bem, eu tenho de ir dormir, amanhã tenho de ir trabalhar.

- Eu vou andando, vemo-nos mais tarde.

Acompanhei-o á porta e quando ele foi embora cai de redondo na cama, mas tive de acordar passadas algumas horas. Tinha de ir trabalhar de manhã, de tarde era a Lilly que ficava responsável pela livraria. Levantei-me contra a minha vontade ás sete da manhã e ás oito estava na loja a preparar a abertura ás 9 horas. Pensei que ia ter um dia de trabalho calmo, mas acabou por se revelar exactamente o contrário, ainda por cima tinha pensado em fazer a ronda nessa noite.

Depois de uma manha agitada, voltei para casa e voltei também para a minha adorada cama. Se não descansasse o suficiente não valia a pena sair de casa á noite, arriscava-me a levar tareia novamente. Acordei por volta das sete da tarde e fiquei a deambular pela casa, sem nada para fazer. Que dia tão sem sal tinha sido aquele. Não tinha tido tempo nem forças para fazer nada. Eu não gostava de dias assim, dias desaproveitados.

Quase na hora de sair, tocam-me á campainha. Ainda pensei que fosse a Miranna, mas ela não estava autorizada a andar sozinha pela rua de noite, por ordens minhas. Abri a porta e dei de caras com o Kyrian:

- Kyrian? Olá, o que fazes aqui? - Perguntei intrigada.

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