quarta-feira, 1 de outubro de 2014

O Peso do Destino - Cap 8

o peso do destinoMas afinal qual era a dele? Ele estava a acusar-me de algo? Após o comentário levantei-me do sofá incomodada. Ele olhou-me desconfiado, ao que parecia a conversa fiada tinha acabado ali, e ele iria fazer as perguntas, as verdadeiras perguntas que o haviam trazido a minha casa.

- Como sabes lutar assim? - Começou com o interrogatório.

- Assim como? - Fiz-me de desentendida.


- Como um dos meus mais dotados guerreiros…

- Vou tomar isso como um elogio, mas não vejo porque haveria de te responder. – Disse eu igualmente séria.

Aquela aura assustadora do Ash começava a ganhar vida, talvez não com a intenção de me assustar, mas para tentar arrancar-me alguma coisa, o que ia dar ao mesmo. Ele assumiu uma postura mais seria, levantou-se do sofá mas permaneceu no sitio sem tirar os olhos de mim:

- Se não me disseres de livre vontade, irei arranjar maneira de te fazer falar… - Prometeu ele.

Este seu lado sombrio era novidade, mas eu não me ia deixar intimidar:

- Desafio-te a tentar então… - Disse calmamente, sem desviar o olhar.

- Estás a testar-me?

- Não, simplesmente não gosto que venham a minha casa e que me tentem intimidar.

- Certo, então vou eu pegar no assunto e relatar-te tudo o que vi ontem á noite, assim pode ser que percebas as minha desconfiança. – Diz ele.

- Estás á vontade. – Encorajei-o.

- Vi-te lutar como um soldado altamente treinado e vi que também tens magia. – Foi directo ao assunto.

Que sabia lutar não me importava que soubessem, agora fazer magia era diferente, nem mesmo o Julian sabia, só a Miranna, mas desta vez não tinha escapatória, não tinha como enganar o Ash:

- Magia? Acho que deves ter tido alucinações Ash… - Tentei enganá-lo.

- Eu acho que não… - Respondeu – Mas agora ofendeste-me. Achas mesmo que me consegues enganar?

- Está bem, um ponto para ti, pelos vistos não chega ter-te salvo a vida… - Atirei-lhe á cara.

- Não me interpretes mal, agradeço o que fizeste por mim, mas eu tenho de saber quem são as pessoas que se aproximam de mim e dos meus, para a segurança de todos. - Esclareceu ele.

Até certo ponto concordei com ele, mas continuava a não gostar da sua maneira acusatória de falar.

- Está bem, eu digo-te tudo o que quiseres saber. – Cedi.

- Combinado. Então onde aprendeste a lutar assim? – Perguntou.

- Não aprendi com ninguém, foi automático, quando precisei de me defender conclui que já sabia o que fazer. Quanto a isso não vale a pena perguntares, porque não sei responder… 

- Muito bem, e quanto á magia? – Perguntou calmamente, fazendo de “bom polícia”.

- Surgiu mais tarde, mas foi a mesma coisa, precisei e ela apareceu…

- Quando foi exactamente que começaste a precisar dos teus poderes?

- Na primeira vez que fui atacada por daemons. Subitamente depois da minha mãe…morrer, eles começaram a aparecer. – Confessei.

- Porque que há tanta coisa que não sabes explicar? – Perguntou curioso.

Desviei o olhar, ele percebeu que aquele assunto era delicado, que era doloroso para mim falar sobre isso. Mas acabei por lhe contar a razão de tanto mistério á minha volta.

- Porque eu não sei quem sou na realidade, não sei de onde venho, nem conheço a minha verdadeira família. Fui abandonada num orfanato quando tinha dois anos, por isso não me lembro de nada.

Ele olhou-me incrédulo, soube que estava a ser sincera em tudo o que havia dito, em todas e em cada palavra.

- Lamento.

- Não lamentes.

- Lamento sim, por ter sido tão rude contigo. Estou habituado a ser assim quando interrogo alguém, não fui justo contigo.

- Eu compreendo.

- Presumo que o Julian saiba… - Afirmou ele.

- Sabe… - Respondi.

- Mas contaste-lhe? – Perguntou curioso.

- Não, ele apareceu uma noite enquanto fazia uma ronda e juntou-se a mim contra um grupo de daemons.

- E ele disse-te algo sobre ele?

- Não, ele não perguntou sobre mim, eu também não perguntei sobre ele. Acho que não estávamos preparados para falar sobre isso.

- Bem, acho que agora é o momento ideal.

- Sim, concordo. – Disse eu – Acredito que há muita coisa sobre ele, e sobre vocês que eu nem imagino.

Ele não respondeu, mas riu e isso foi o suficiente para saber que estava certa. Então tentei a minha sorte e perguntei-lhe:

- E sobre ti? Não me podes falar de ti?

- Sobre mim? Ninguém sabe sobre mim! - Concluiu, sem deixar espaço para mais perguntas.

- Oh pois, gostas de ser misterioso, para manter o interesse…bem jogado, bem jogado! – Brinquei.

Levantou-se, ajeitou o casaco, despediu-se e dirigiu-se para a porta:

- Bem vou andando, fica bem.

- Igualmente.

Antes de fechar a porta ainda lhe disse na brincadeira:

- Ash?

- Sim?

- Da próxima vez espera lá fora, ou liga. Se consegues entrar aqui acredito que também consegues arranjar maneira de saber o meu número!

- Certo! – Riu apenas.

Depois dele ir embora, vi um pouco de TV, na manha seguinte não ia trabalhar, a biblioteca estava fechada, era fim de semana, podia deitar-me tarde. Vi um filme que estava a passar, o Confronto de Titãs, era o tipo de filme que me prendia a atenção, já que ganhara gosto por história graças á minha mãe. Era um tema que também me fascinava.

Nessa noite dormi mal, dei voltas e mais voltas na cama, e quando finalmente adormeci tive um sonho muito estranho. Sonhei com uma mulher muito bonita que segurava um bebé, mas em vez de estar feliz, estava triste, com o coração destroçado. 

Vi essa mulher a separar-se do seu bebé e depois vi-me a mim mesma no orfanato, em bebé. Nesse instante acordei sobressaltada, ofegante e a transpirar como se estivessem quarenta graus no quarto. Senti que aquele sonho estava ligado a mim, mas não tinha como saber qual a ligação, não tinha ponta por onde começar a investigar. Era um mistério.

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