sexta-feira, 24 de outubro de 2014

O Peso do Destino - Cap 11

o peso do destinoE mais uma vez lá estava ele com a sua desconfiança, como se eu tivesse feito algo de tragicamente errado, como se tivesse traído irremediavelmente a sua confiança. Era de facto algo que eu não gostava nele.
- Eu disse que não precisava de ajuda. – Acrescentei.
- Não me lembro de teres dito que saravas… - Disse desconfiado.

- Não perguntaste…
- Não te armes em esperta comigo! – Respondeu seriamente.
- E já estás novamente a desconfiar de mim… - Acusei-o eu.
- Diz-me como posso não o fazer, se quando te pedi para seres sincera, acabaste por não o ser na totalidade. Há mais alguma coisa que eu não saiba? - Perguntou insistente.
- Afinal o que queres saber mais Ash? Queres que abra a minha vida a alguém que mal conheço? Queres que invente coisas sobre mim, ficarias contente assim? Que parte do “eu não sei quem sou” é que não percebeste? Porque raio pensas tu que eu quero fazer mal a alguém? Se estás assim tão preocupado, acredito que consegues descobrir alguma coisa, mas até descobrires algo de concreto, faz-me um favor e pára de me acusar! – Disse completamente furiosa, a falar de punhos cerrados.
Voltei-lhe as costas para me ir embora sem dizer mais nada, era melhor assim, porque tinha uma grande vontade de o encher de porrada. Estava tão fora de mim, que nessa noite nem consegui dormir como deve de ser. Era bom que ele não me aparecesse á frente nos próximos dias, mas sabendo que ele andava desconfiado de mim, acreditava que era impossível não estar presente.
Na manha seguinte estava mais calma, fui trabalhar e depois de fechar a biblioteca passei no café da Miranna para dois dedos de conversa. Depois de anoitecer o Kyrian e o Talon apareceram lá para comer e passados alguns minutos apareceu também o Ash. Eu mantive-me calma, no meu canto, sem dar qualquer motivo para desconfiarem de mim, sem ir secretamente tirar um café para lhe deitar algo dentro ou olhando por cima do ombro enquanto fazia uma torrada, agi naturalmente. E sim, tinha levado assim tão a peito as acusações dele.
Fui recolher a loiça de uma mesa e ao regressar reparei que o Talon não tirava os olhos de mim, então não me contive e acabei por dizer o que não devia.
- Talon, tens de parar com isso! - Pedi.
- Porquê? - Perguntou confuso.
- Porque tu não gostas de mim…isso é só o fascínio inicial…- Disse gesticulando com as mãos.
- Não é nada disso… - Interrompeu ele.
- É sim…- interrompi-o eu. – Eu não sou a pessoa que te está destinada, e digo-te ela está prestes a aparecer na tua vida, mais cedo que aquilo que tu possas imaginar, por isso tens de parár.
- Estás a falar a sério?! – Perguntou ironicamente.
Não lhe respondi, mas mantive-me séria, ele soube que eu não estava a gozar com o assunto. Se ao menos fosse assim com o Ash, pensei. Se ele ao menos pudesse deduzir as minhas verdadeiras intenções.
- Estás mesmo… - Concluiu ele.
- Sim…e a tua também Kyrian.
- O quê? – Perguntou apanhado de surpresa por ser chamado á conversa.
- Por isso mantenham-se alerta. – Conclui.
- Como sabes essas coisas? – Perguntou o Kyrian.
- Simplesmente sei, mas acho que é mais uma daquelas coisas que já veio com a embalagem, e que eu não faço a mínima ideia de onde. - Respondi, sorrindo ironicamente.
Afastei-me e fui para a cozinha, enquanto a Miranna ficou lá fora ao balcão. Alguns minutos depois, tinha acabado de limpar a cozinha, faltava só arrumar algumas coisas, quando o Ash entrou e encostou-se á porta, impedindo a minha passagem.
- Peço desculpa pela forma como te tratei ontem! – Disse sinceramente.
- Só ontem? Até parece que não desconfias de mim desde que me conheceste. Porquê a súbita mudança? - Perguntei.
- Porque eu estou aqui a pedir e porque sei que fui um idiota! E porque é muito raro eu me enganar e muito menos implorar que me desculpem. – Disse tentando convencer-me.
- E isso é suposto fazer-me aceitar as desculpas?... - Abanei a cabeça e revirei os olhos, ele estava a ser adorável demais para recusar. - A tua sorte é eu não ser esse tipo de pessoa, mas pronto já passou…
- Obrigado. - Pediu educadamente e com um sorriso.
Já mesmo perto da hora de encerrar, a Mira teve de sair mais cedo e quem ficou a fechar o café fui eu. O Kyrian e o Talon também foram embora logo a seguir para fazerem a ronda, mas o Ash voluntariou-se para ficar a ajudar.
O Ash estava a baixar as persianas e eu a desligar as luzes da cozinha, quando uma luz repentina, tipo flash pareceu vir da sala. Fui ver o que se passava e descobri uma mulher lindíssima, ruiva ao lado do Ash, e assim que me viu dirigiu-se a mim friamente:
- Ouvi dizer que tu salvaste o Ash há umas noites atrás, é verdade?
- Pára com isso… - Pediu o Ash.
- Deixa a mortal falar. – Ordenou ela.
- Sim, é verdade. – Respondi destemidamente.
- Então, estou aqui pessoalmente para te agradecer. - Agradeceu num tom de falsidade e cinismo.
- Está bem…e já agora, quem és tu? – Perguntei.
- Quem sou eu…- Riu – Artémis, o nome diz-te alguma coisa? – Perguntou toda convencida, com o ego a bater no teto do café.
- Sim, eu sei quem tu és… - Disse sem me mostrar intimidada.
- Muito bem, vejo que estás ciente de com quem estás a lidar, e por agora não temos mais nada para conversar. - Despediu-se.
Antes de desaparecer foi ao pé do Ash e deu-lhe um beijo demorado na face, um beijo um tanto exagerado. Depois de ela ir embora, pensei que o Ash não ia dizer nada sobre o que se tinha passado ali, acabou por soltar breves palavras envergonhadas:
- Lamento muito pela situação, o comportamento dela…
- Não, não peças desculpa…
Fechámos o café e fomos cada um para seu lado, claramente perturbados. Eu sabia que não tinha nada a ver com o assunto, mas achei tudo aquilo muito exagerado, estranho, forçado. Perguntei-me que raio se passava entre aqueles dois, qual a natureza da sua relação.

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