quinta-feira, 4 de setembro de 2014

O Peso do Destino - Cap 5

Confesso que estava cada vez mais intrigada, eu era uma pessoa curiosa de natureza. Voltámos para a mesa, e ao sentar só consegui lugar ao lado do Ash. No momento em que me sentei, senti uma grande tensão, um grande poder, algo grandioso. Estava tão assombrada que não consegui evitar olhar para ele com o intuito de o contemplar, mas no mesmo instante ele apanhou-me a observá-lo e desconfiando perguntou:




- Passa-se alguma coisa? – Questionou com uma calma anormal.


- O quê? Não, não se passa nada! – Respondi atrapalhada.

Ele olhava-me com uma certa desconfiança, talvez por não me conhecer, talvez por ser tão protector dos seus quanto eu. Não cheguei a perceber o porquê. Mas bastou que eu tentasse relaxar e ele acabou por descontrair um pouco.

- Boa escolha. – Disse do nada.

- Desculpa? – Perguntei, sem saber ao que se referia ele.

- A música que cantaste para eles os dois. – Disse, apontado para Julian e Grace.

- Ah sim, é muito bonita. A Grace tinha outras ideias, mas acabei por convencê-la, realmente acho que é adequada. – Confessei, dando a entender que sabia ou imaginava certas coisas acerca deles.

- E conseguiste. Estou surpreendido, aquela mulher não é fácil de convencer. – Confirmou, sorrindo.

- Eu sei, ela é determinada.

Pela primeira vez durante toda a noite vi o Ash descontrair, baixar um pouco a guarda e comunicar com as pessoas em seu redor. Assim, era uma pessoa totalmente diferente, aquela aura assustadora estava agora dominada por outra, uma aura mais calorosa, mais sociável. Ainda assim, não tinha desaparecido completamente, mas não era tão dominante. 

A noite estava muito animada, há muito que não me divertia tanto, ora com o ar galanteador do Talon, ou com a sinceridade descarada do Nick, ou ainda com as piadas e jeito inocente do Kyrian, e o ar protector do Ash. Tinha, sem dúvida, a sensação que havia feito bons amigos ali. 

Momentos mais tarde, ouvi o Nick a gabar-se dos seus dotes de dançarino e resolvi meter-me com ele.

- Agora deixaste-me curiosa Nick. – Provoquei.

- Porque raio sinto um tom de provocação na tua voz? – Perguntou curioso.

- Então estavas a falar de como dançavas bem e tudo mais, fiquei curiosa, gostava de ver uma demonstração. – Confirmei.

- Eu não faço demonstrações, eu dou espectáculos inesquecíveis. Mais ainda, desafio-te a acompanhares-me…se conseguires. – Respondeu em tom desafiador.

Ele estava tão confiante que chegava a ser engraçado. Não que pensasse que ele apenas se gabava, mas agora estava curiosa, e eu não era mulher para recusar um desafio.

- Tudo bem, tu escolhes. – Disse eu, confiante.

- Então vamos dançar uma kizomba. – Respondeu pensando que eu não estava á altura. Mal sabia ele que estava enganado.

- Isto vai ser interessante. – Gozou o Kyrian e os outros riram.

Lá fomos os dois abrir espaço no meio da sala e ele foi pedir a música. Todos aguardavam entusiasmados para ver o desfecho daquela cena. Mas assim que a música começou o silêncio deu lugar a gritos de surpresa e espanto. Parecia que tínhamos sido escolhidos a dedo, compatíveis para dançar, como se tivesse sido tudo muito bem ensaiado.

https://www.youtube.com/watch?v=QhNBmfG_02U (podíamos muito bem competir com estes os dois, adoro).

O publico adorou a nossa intensa actuação, até o pessoal do grupo ficou surpreendido, totalmente sem estar á espera do resultado. E uma coisa posso dizer, enquanto dançava com o Nick, além de todos os outros olhares que me miravam, já conseguia distinguir o de Ash. Não havia olhar mais intenso, mesmo indirectamente, conseguia quase chegar á alma de uma pessoa.

Eu estava a divertir-se imenso. A Mira e a Grace puxaram-me para a pista e dançámos as três até fartar. A Grace como já estava comprometida não abusava tanto na provocação dos movimentos de dança, mas a Mira livre e descomprometida, desafiava-me a descontrair, a deixar-me levar.

Ao fim de algum tempo de diversão, de dança e de conversa, o Ash decidiu ir embora, e ao fazer o comunicado foi alvo de piadinhas da parte do Nick:

- Hum…vais fazer visitas ao domicílio a esta hora da noite? Isso é que são saudades…

- Nick não abuses que um dia destes não te livras de apanhar, e não, não é nada disso. Vou dar uma volta…se é que me entendes! – Respondeu ele, num tom mais sério.

- Calma chefe, já percebi, não é necessário o uso de violência. – Brincou, fazendo-se de inocente.

Despediu-se de todos os presentes e desapareceu. A noite já estava praticamente no fim e poucos minutos depois também decidi dar a minha por terminada. Desta vez ia sozinha, já que a Mira estava tão ocupada com o Nick que não dava sinais de querer ir embora. Despedi-me igualmente de todos e sai.

Estava uma noite calma, demasiado fresca e silenciosa, demasiado perfeita para o meu gosto. Afastei-me do bar e uns quarteirões mais á frente havia uma zona de armazéns abandonados e becos sem saída obscuros. Desde sempre que passar por ali me causava arrepios, sobretudo de noite, mas era um atalho para casa que me poupava mais de vinte minutos a pé.

Uns metros á frente ouvi barulho, pareciam ser várias pessoas a lutar, ouvia-se perfeitamente á medida que me aproximava. De repente vi um clarão e senti um poder, uma tensão familiar. Então corri para o sítio e ao dobrar a esquina fiquei em choque quando vi o Ash. Ele estava a lutar com o que pareciam ser cerca de oito daemons, e quando se apercebeu da minha presença lançou-me um olhar de pânico, para que eu fugisse dali. Não foram precisas palavras para que percebesse que era isso que ele queria que eu fizesse.

Para seu espanto, não foi isso que fiz, muito pelo contrário, juntei-me á luta em seu auxílio. Ele não fazia ideia do quanto eu era capaz, e estava mais que qualificada para lutar. O Ash estava completamente chocado ao ver-me lutar, pela sua cara de admiração ele sabia que era boa, tão boa como qualquer um dos seus soldados, uma verdadeira guerreira.

Consegui dar conta de quatro dos oito daemons sozinha, mas entretanto, o Ash distraiu-se demasiado e foi apanhado desprevenido por um golpe baixo. Depois aconteceu tudo muito depressa. A única coisa que o meu olhar captou foi uma luz branca, demasiado brilhante e em forma de espada, trespassar o Ash, de um lado a outro. Esse golpe deixou-o completamente imobilizado e para melhorar a situação, apareceram mais uns quantos demónios louros que me conseguiram agarrar.

Estes daemon eram criaturas deploráveis, eram demónios sugadores de almas sem pingo de humanidade. A sua aparência humana, jovem, sedutora e normalmente loiros, escondia a sua única forma de sobreviver, matando e roubando as almas das suas vitimas. Era esse o destino que muitos escolhiam, porque para muitos era melhor que sucumbir no vigésimo sétimo aniversário, a sua dolorosa, e de certa forma injusta, maldição.

2 comentários:

  1. Ótima trama! Conseguiu prender minha atenção.
    Estou ansioso para o próximo capítulo.

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    1. Fico contente por saber que está a gostar, muito obrigada por acompanhar Francisco, é sempre bem-vindo. Abraço

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