quarta-feira, 30 de julho de 2014

Um Sonho Ou Realidade - Cap 50 - Final

Passei a maior parte da noite, se não foi a noite toda, às voltas na cama sem conseguir adormecer, a pensar numa solução. Passei o resto do Domingo assim. Na segunda-feira de manhã quando me levantei, olhei-me ao espelho e parecia ter sido passada a ferro por um camião. É em momentos como este que agradeço á maquilhagem e aos correctores de olheiras.


Foi complicado mas consegui recompor-me e depois de um banho, e de um pequeno-almoço reforçado, fui trabalhar, preparada para ter uma conversa com o James no final do dia. Sabia que essa conversa ia atormentar-me até lá. Ele estava animado, e irresistível como sempre. Passou algum tempo tentando arranjar desculpas para conversar comigo. O fim do dia chegou depressa demais. Quando fechámos as portas fui ter com ele ao escritório.

Encostei-me á porta, fitei-o silenciosamente por momentos. Ele estava tão concentrado que nem deu por mim ali. Acabei por interrompê-lo:

- James, não queria interromper mas preciso de falar contigo.

Ele olhou para mim curioso, não estava á espera e ficou surpreso:

- Claro, senta-te. – Disse apontando para a cadeira em frente á secretária.

- Não é preciso.

- Está tudo bem? – Perguntou preocupado.

- Sim…

- Então o que se passa?

- Quero pedir a demissão. - Disse de repente.

- Porquê? – Perguntou abalado.

Que raio de desculpa ia eu dar? O que deveria eu dizer? Não podia revelar-lhe o verdadeiro motivo para me ir embora. Tive de inventar alguma coisa, mesmo que pouco convincente. Mas antes de conseguirmos continuar a conversa, batem á porta da livraria.

Saímos do escritório e ele foi abrir a porta. Estavam duas pessoas do lado de fora á espera. A luz estava apagada, somente a de emergência se encontrava ligada, só quando se aproximaram do balcão me foi possível identificar alguém. A minha irmã Beth tinha decidido visitar-me, no entanto, a seu lado estava uma outra cara familiar.

- Belle, cheguei mesmo agora, ia esperar por ti em casa mas estava a morrer de saudades. – Disse abraçando-me.

- Acho que posso perdoar-te. – Respondi tentando ser engraçada.

- Desculpa aparecer no teu local de trabalho. – Insistiu ela.

Não precisava desculpar-se de nada, até porque aquele sítio não seria o meu local de trabalho por muito mais tempo.

- Está tudo bem, não te preocupes. Esta é a minha irmã Beth. – Apresentei-a a James.

- Prazer em conhecer-te. – Disse James educadamente. - O que fazes aqui meu irmão? – Perguntou, dirigindo-se ao jovem ao lado de Beth.

- Vim visitar-te, ou não posso? – Respondeu, abraçando James.

- Este é o meu irmão Richard. – Esclareceu ele.

Fiquei sem palavras, era mesmo ele, o Richard, ele existia na vida real. Isto estava a ficar cada vez mais estranho.

- Muito prazer. – Disse eu, cumprimentando-o.

- Igualmente. A tua irmã é uma rapariga muito simpática, acabámos de nos conhecer ali á porta e parece que nos conhecemos desde sempre. – Responde ele animado.

- Querem beber alguma coisa? Sentem-se. – Sugeri.

Fui preparar uns cafés e o James foi ligar a luz da loja, baixar as persianas e trancar a porta. Estava na salinha ao lado do escritório preparando as chávenas e estava completamente sem palavras para o que acabara de acontecer. Tinha uma irmã chamada Beth, mas isso eu já sabia e era natural que ela aparecesse nos meus sonhos, agora achava que era muita coincidência o James existir, ainda por cima ele tinha mesmo um irmão chamado Richard. Qual é a probabilidade de uma coisa destas acontecer? Eu não conhecia nenhum dos dois na vida real até agora.

- Precisas de ajuda com os cafés? – Perguntou o James aparecendo de repente, assustando-me.

- Não, não é preciso. – Respondi, ainda fitando os outros dois a conversar.

- Está tudo bem? – Perguntou preocupado.

- Sim, porque não haveria de estar. Tens um irmão chamado Richard. – Interrompi do nada.

- Tu tens uma irmã chamada Beth. – Completou ele.

- Antes de nos cruzarmos no bar, antes de trabalhar aqui, alguma vez te cruzaste comigo? Já me tinhas visto antes? – Perguntei tentando obter alguma explicação.

- Antes disso não, nunca te tinha visto…não pessoalmente. – Deixou escapar.

Antes que pudesse continuar com as minhas perguntas, agora que a conversa começava a ficar interessante, o Richard aparece a perguntar pelos cafés.

- Precisam de ajuda com os cafés?

- Não, está tudo pronto, tens um timing incrível, mas está tudo tratado. – Disse, referindo-me a todos os momentos em que o seu perfeito timing tinha interrompido algo importante.

O que queria dizer ele com “não pessoalmente”? Ele ajudou-me a levar os cafés para o balcão e aquilo não me sai da cabeça.

- Eu e o Richard decidimos ir jantar fora, queríamos que se juntassem a nós, que tal? – Sugeriu a Beth.

- Por mim tudo bem. – Disse logo o James. – Que dizes Belle? Aceitas? – Perguntou-me num tom desafiador que me deixou intrigada.

- Claro, também vou. – Respondi.

Saímos da loja e fomos jantar. A Beth sugeriu o restaurante, por coincidência das coincidências, era o restaurante preferido do Richard. Eu já estava prestes a rebentar com tantas coincidências. Voltando ao assunto, o jantar foi fantástico, e era incrível como nos dávamos todos tão. Era um retrato tão familiar para mim, se ao menos eles soubessem.

Depois de comer fomos dar um passeio junto ao rio. O Richard e a minha irmã não paravam de tagarelar um com o outro. Havia uma celebração qualquer e tínhamos chegado a tempo de ver o espectáculo de fogo-de-artifício junto do Big Ben. Havia uma pequena multidão entusiasmada á espera, a Beth e o Richard tinha encontrado o sítio perfeito para assistirmos, até já estavam de braço dado.

Ligeiramente atrás deles estava eu e o James. E eu não conseguia parar de olhar para eles. Como podiam ser duas pessoas tão perfeitas um para o outro? Eles tinham-se juntado nos meus sonhos e agora na vida real tinha acontecido a mesma coisa, enquanto a minha relação com o James continuava complicada, caótica.

- Não fazia ideia que querias ir embora. – Disse o James de repente.

- Encontrei um trabalho melhor. – Menti sem olhar para ele.

- Mas porquê? – Perguntou confuso. – Pensei que adoravas o teu trabalho.

- E adoro…

Entretanto o fogo-de-artifício começou e mais uma vez a conversa foi adiada, o que me deixou frustrada. Á medida que o espectáculo se desenvolvia, algo captou a minha atenção, o Richard e a Beth estavam de mão dada.

- Não devias de lhes prestar tanta atenção. – Sussurrou o James ao meu ouvido.

- Porque dizes isso? Estou fascinada com a facilidade e rapidez com que eles reagiram aos seus sentimentos.

- O que sentem um pelo outro é tão forte que os unem onde quer que se encontre. Esta é a segunda vez que o fazem, mesmo sem saber.

Olhei para ele curiosa, chocada e sem saber por onde começar.

- O que queres dizer com isso? – Perguntei.

- Eles tiveram a sua oportunidade e agarraram-na, agora acho que é a nossa vez de fazer o mesmo. É a nossa segunda oportunidade.

- James? – Perguntei a medo.

- Sou eu. – Confirmou ele.

Não conseguia acreditar que esta história toda, cheia de possibilidades e finais alternativos, tinha de facto acontecido. Uma pessoa normal, não que eu e o James fossemos anormais ou diferentes, nunca iria acreditar, como a Faye por exemplo, demorou algum tempo e ainda não sei dizer se ela acredita minimamente em mim, ou se dizia que sim para não me chatear.

Ele olhava para mim da mesma forma, e aposto que pensando a mesma coisa, confirmando a mesma verdade. No entanto, os receios não tinham simplesmente desaparecido para dar lugar á felicidade.

- És mesmo tu. 

- Sim Belle.

- Podes prometer-me que, hoje quando for dormir, não vou acordar amanhã e descobrir que este momento, tudo isto não passou de um sonho, um de tantos outros? – Perguntei com receio.

- Não posso fazer promessas relativamente ao amanhã Belle. – Disse, acariciando a minha face.

- Porque não? – Perguntei sem desviar o olhar.

Aquele olhar doce com que me observava, de repente tornou-se provocador, tal como a sua resposta:

- Uma coisa posso prometer-te, amanhã não vais acordar para descobrir uma ilusão, porque pretendo manter-te ocupada o resto da noite. Não acredito que vás dormir muito.

Aquela resposta apanhou-me de surpresa, mas já que todas as dúvidas estavam esclarecidas, e eu sentia dentro de mim, chamem-lhe instinto, que tínhamos vivido uma belo sonho, mas naquele momento estávamos a viver a mais feliz e pura das realidades. Sem conter por mais um segundo a vontade e o desejo que me prendiam há meses, deixei-me levar, beijei-o ao som das explosões do fogo-de-artifício. Foi um momento mágico.

- Sempre soubeste? – Perguntei interrompendo-o.

- Não, tinha as minhas dúvidas.

- Então quando?

- Hoje, quase que tiveste um ataque quando viste o Richard, e foi ai que percebi. Senti o mesmo quando vi a Beth entrar pela loja com ele.

- Não estava nada á espera. – Disse sorrindo.

- Já somos dois.

Ele recebeu o meu toque com prazer, e como eu tinha saudade dos seus lábios, aqueles beijos doces cheios de luxúria e paixão. O James encurtou ainda mais a nossa distância puxando-me para mais perto de si, passando o braço pelas minhas costas e descendo com a mão até á anca. Tudo o que recordo é aquela doce e agonizante sensação no baixo-ventre, á medida que os beijos se tornaram mais intensos.

- Eu amo-te sabes. – Diz ele completamente arrebatado.

- Eu sei, e eu a ti. – Respondi emocionada.

- Imaginas o quanto foi dificil para mim estas semanas? Queria abraçar-te, beijar-me, sentir o teu cheiro. Eras a minha Belle, estavas ali tão perto e eu não tinha coragem para abordar o assunto. - Admitiu sentindo-se um idiota.

- Não foste só tu, eu sentia-me completamente perdida, com medo de tentar dizer alguma coisa, que pensasses que não batia bem da cabeça.

- Sinto-me tão feliz, aliviado, sinto-me completo novamente. Foi terrível acordar de manhã e pensar que nunca mais te podia ver. - Desabafou atormentado.

- Não vamos pensar mais nisso, chegou finalmente a nossa vez de viver. - Confortei-o.

O mundo podia acabar naquele momento, podiam passar furacões, terramotos, que ninguém iria conseguir intrometer-se e interromper aquele momentos, eu de certeza não tinha força para me afastar. Os seus olhos diziam tudo, o tamanho da sua felicidade, o quanto me desejava e o mais importante, o quanto me amava. E no reflexo nos seus olhos via a minha imagem, igualmente arrebatada e irremediavelmente apaixonada. 

Acabámos por ter o final feliz que tanto esperávamos, que tanto tempo nos levou a alcançar, que tanta dor e sofrimento nos fez suportar, mas no fim valeu a pena. Um amor como o nosso era daqueles que valia a pena enfrentar o inferno, todos ao males, um amor pelo qual valia a pena lutar até á ultima consequência.

2 comentários:

  1. Parabéns pela maravilhosa história Joana :). Pena que já acabou snif snif :D
    Beijinhos

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada pelo apoio Sandra, não te preocupes que já tenho outra pronta para começar a publicar. Um contexto e modo de escrita diferente desta, mas acho que vais gostar na mesma. Beijinhos =)

      Eliminar