terça-feira, 15 de julho de 2014

Um Sonho Ou Realidade - Cap 47

Ele observou-se com um olhar surpreso enquanto me afastava. Cheguei perto da Faye e disse-lhe:

- O dia está a ficar cada vez mais estranho… - Conclui ainda apanhada de surpresa.

- Porquê?

- Acabei de ver o James…


- Que James? – Perguntou confusa.

- Aquele que te falei. Dos meus sonhos. - Respondi.

- Acho que estás a ficar obcecada com esse assunto. Vai para casa e descansa.

- Não estou a ficar maluca, se é isso que estás a insinuar. – Respondi ligeiramente ofendida.

- Não disse isso. Penso que tens muito na cabeça, muitas preocupações com que lidar e isso está a dar cabo de ti, foi isso que quis dizer. – Esclareceu.

- Não sei porque raio te contei isto, se é para achares que estou a ficar maluca ou culpar os meus problemas, não devia ter contado nada. Nem me dás o benefício da dúvida.

Disse, levantando-me e caminhando em direcção á porta. Antes de sair dei uma olhadela ao bar e descobri-o, sentado com dois amigos, mas reparei que estava distraído, não estava a ouvir uma única palavra daquilo que os seus amigos diziam. Antes de desviar o olhar, os nossos olhos encontraram-se uma última vez. 

Cheguei a casa, deitei-me e adormeci que nem uma pedra, na esperança de voltar á terra dos sonhos, mas não, acordei na manhã seguinte, na minha cama e com uma dor de cabeça que metia respeito.

Com dificuldade, sem motivação ou vontade, levantei-me e tomei o pequeno-almoço. Tomei um banho, vesti-me e antes de sair de casa folheei o jornal em buscas de anúncios de trabalho, para não andar a deambular pela rua sem saber onde ir. Era muito frustrante, cada vez mais, após cada rejeição. Pensei muitas vezes onde raio tinha a cabeça quando decidi enfrentar a minha chefe, aqueles tempos não eram tempos fáceis, com a terrível crise que se fazia sentir, senti-me condenada. Andava tão preocupada que nunca mais me lembrei do “Pseudo-James” que tinha encontrado. Não tinha tempo para devaneios, a minha vida estava literalmente a ruir e eu precisava de ajuda.

Voltei a casa após um dia de procura completamente inútil, para voltar a tentar outra vez no dia seguinte, e no outro, e no outro depois desse, até encontrar alguma coisa. Se me podia orgulhar de algo em mim, era de não ser uma desistente. Fui a sítios em que não valia a pena mostrar o currículo, tinha habilitações a mais, e noutros sítios habilitações a menos.

Uma manhã antes de sair, pensei simplesmente em procurar trabalho em coisas que eu gostava de fazer, em vez de uma vaga qualquer num sítio que não me dizia absolutamente nada, em troca de dinheiro. Não há nada pior que trabalhar num sítio e a fazer algo não gostamos para simplesmente ganhar o sustento, isso faz de nós pessoas infelizes. Percorri a cidade e deparei-me com uma livraria nova, mas com um estilo antigo que me deixou fascinada. Passei os olhos pela montra, e infelizmente não vi nenhum papel a dizer que procuravam empregados.

Mas não ia ser por isso que ia deixar de entrar. Era fantástica, muito maior do que parecia do lado de fora. Tinha um estilo rústico e antigo, tinha todo o tipo de livros, novos acabadinhos de chegar sem estarem dobrados a meio da aba e antigos restaurados com as suas páginas já amareladas pelo tempo. Podíamos facilmente encontrar Charles Dickens, Jane Austen entre os livros antigos e restaurados, ou Dan Brown e Sherrilyn Kenyon nos romances mais recentes. Era incrível o que aquela loja tinha para oferecer, era o paraíso para os amantes da leitura como eu, estava rendida, impressionada de tal forma que nem reparei quando alguém se aproximou:

- Olá, posso ajudá-la? – Perguntou uma rapariga mais ou menos da minha idade. Sasha era o seu nome, vi na sua placa identificativa.

- Olá. Acho que não é preciso, quer dizer, este sítio é o paraíso para que adora ler…

- Sim, esta livraria é muito especial.

- Concordo, pelo que consegui ver, aqui pode encontrar-se qualquer coisa, antigas, novas. Acho que vais ver-me aqui muitas vezes, a partir de hoje. Não tenho mais nada que fazer, infelizmente.

- Como assim? Estás desempregada? – Perguntou, intrigada.

- Infelizmente, e talvez por estupidez minha, sim estou. - Esclareci tristemente.

- Nós estamos á procura de uma pessoa, para ficar no meu lugar.

- Estão? Não têm nenhum anúncio na porta…

- Isso é porque não queremos aqui qualquer pessoa, queremos alguém que aprecie os livros e, claro, que adore ler.

- Pela descrição, acho que me podia dar bem aqui. Mas vais embora é?

- Vou no final da semana. Vou mudar de ares, quer dizer, eu e o meu noivo, estou grávida e decidimos que é tempo de juntar os trapinhos, como se costuma dizer. – Disse quase sem respirar.

Ela não me conhecia de lado algum e desatou simplesmente a contar-me a vida toda, mas eu não me importei, ela era muito simpática e engraçada.

- Eu sou a Sasha, esqueci-me de me apresentar. - Apresentou-se, ao fim de alguns minutos de conversa.

- Não te mal, eu sou a Belle.

- Então Belle, gostas mesmo de livros?

- Sim, gosto. É o meu vício mais estimado. - Revelei com orgulho.

- Para uma jovem, pensei que procurasses algo mais ambicioso.

Percebi o que ela quis dizer e noutra altura teria concordado, mas depois de todo o tempo que gastei a trabalhar em algo que não me motivava ou fazia feliz, estava decidida a experimentar uma forma diferente a ganhar o sustento, uma que me fizesse ter vontade de me levantar todos os dias.

- Desisti de procurar um trabalho só por dinheiro e passei a procurar coisas que gosto de fazer. - Expliquei sem muitos detalhes.

- É só isso que preciso de saber. Só aceitamos pessoas aqui que tenham prazer em desempenhar o seu trabalho.

- Oh, eu ficarei mais do que contente em trabalhar aqui. – Disse, com um olhar sonhador percorrendo as prateleiras.

- Sendo assim, estás contratada. – Decidiu.

- Esta é a melhor noticia que recebo desde algum tempo. Não cheguei a perguntar, quanto é que me vão pagar? – Perguntei sem querer abusar.

- O que achares necessário?

- O quê? E se eu quiser mil euros de ordenado? – Brinquei.

- Bem, temos de ser realistas e honestos. – Riu.

- Não preciso de muito, só o suficiente para não ter de sair da minha casa.

- Não te preocupes, o nosso patrão é bastante generoso, ele tem dinheiro, mas é uma pessoa de manter uma vida simples. – Revelou.

- E onde está ele?

- Ele não está, volta no final da semana, foi visitar a família e volta antes de eu ir embora.

- Está bem, estou ansiosa por conhecê-lo. – Disse entusiasmada.

Mais tarde nesse dia, depois de seguir a Sasha e ouvir as coisas que ela tinha para me ensinar e partes da sua vida que ela insistia em revelar, mesmo sem saber se eu me interessava ou não, fui para casa e liguei á Faye para lhe contar a novidade:

- Fico contente por ti, a sério. Sei que grande parte de estares a ter dificuldades é culpa minha, mas fico contente que as coisas te estejam a correr bem. – Diz ela.

- Eu estou felicíssima, é mesmo o tipo de sítio para mim, sabes bem que os livros fazem-me feliz.

- Sim, bem sei! – Ouvi ela rir do outro lado do telefone.

- Ao menos é um vício saudável. – Disse em minha defesa

- Ao menos isso. Não muito saudável para a carteira mas enfim…

- Isso era antes de arranjar um trabalho. – Gozei.

Os dias haviam passado rápido e a Sasha ia embora no dia seguinte e por isso recapitulou tudo o que me tinha ensinado nos últimos dias com receio que eu me fosse esquecer. A meio da tarde, ela estava no armazém a receber e a abrir as encomendas e eu fiquei na loja. Apercebi-me de ainda existiam algumas pessoas que apreciavam a leitura, fiquei contente em saber que não era um gosto perdido para a juventude dos nossos dias. 

Uma coisa que acha piada era a campainha que tinham na porta e que anunciava a entrada de um possível cliente. Dava á loja aquele estilo mítico que víamos nos filmes, nas pequenas livrarias familiares, ou até nas pequenas lojas que ainda conseguiam subsistir após a abertura de grandes superfícies comerciais.

Ouvi novamente a campainha tocar e posei os livros que estava a arrumar em cima do pequeno escadote e fui ajudar o cliente. Fui distraidamente andando, passando pelo labirinto de estantes e prateleiras, que não tinha ainda aprendido a contornar.

- Só um segundo. – Disse, tentando apresar-me.

Não ouvi uma resposta imediatamente, mas sim segundos depois:

- Não há problema, eu espero.

Eu conhecia aquela voz. Conhecia-a bem demais e em vez de continuar o meu caminho, estaquei e não fui capaz de responder.

1 comentário:

  1. :) Muito bom:)
    Fico a aguardar mais um capitulo para ver o que vai acontecer :) Beijinhos

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