quarta-feira, 9 de julho de 2014

Um Sonho Ou Realidade - Cap 46

Aquela máquina desprezível tocou, marcava as sete da manhã, como era habitual. Malditos sonhos, que iludem as pessoas. Estava sozinha na minha cama, no presente, no mundo real e impiedoso, não perdida nas minhas fantasias estúpidas. Detestava isto, os meus sonhos eram demasiado realistas para o meu gosto, para o meu próprio bem, e sonhava demais. Os meus sonhos eram deliciosos, não um desastre total como era a minha vida real.




Aquilo simplesmente não me saia da cabeça, não conseguia aceitar que tudo o que tinha vivido tinha sido fruto da ilusão. O meu coração batia pelo James, eu estava apaixonada por uma pessoa que não existia. Nessa manhã estava demasiado distraída para ir procurar trabalho, fiquei em casa torturando-me. 

Pelo menos aquilo tudo tinha servido para me motivar a arrumar a casa, que estava num caos autêntico. A Faye ainda não tinha levado todas as suas coisas e tinha deixado a casa em pantanas. Perto da hora do almoço já tinha tudo limpo e arrumado. Preparei algo para comer e escolhi uma maratona de filmes para ver durante a tarde, provavelmente até á noite. No entanto após a sessão romântica com os filmes The Lucky One e Pride and Prejudice, conclui que tinha de sair de casa.

A minha vida nestes últimos dois meses tinha dado uma grande volta, e tinha acontecido tudo depressa e ao mesmo tempo. A minha melhor amiga, com quem partilhava o apartamento tinha ficado noiva e mudou-se para a casa do futuro marido, dias depois tive uma discussão tão grande com a minha chefe que acabei por ser despedida. Tudo por ter dito tudo aquilo que ela merecia ouvir e que ninguém tinha coragem de lhe dizer, ela era uma grande cabra.

Antes tinha uma vida estável, agora estava literalmente a acabar com as minhas poupanças á mesma velocidade que o fogo consome o combustível. Precisava de encontrar emprego rapidamente, caso contrário teria de sair de casa. Não culpava a Faye, como é óbvio, mas por vezes sentia-me revoltada com a forma como as coisas mudam, com as coisas que tomamos como garantidas e num segundo tiram-nos o tapete de baixo dos pés para escorregarmos e bater com a cara no chão.

Mais tarde, nessa noite encontrei-me com a Faye no sítio do costume, o nosso bar. Contei-lhe tudo sobre o meu sonho, todos os detalhes, mas ela, como qualquer outra pessoa normal faria, insistiu que tudo não passava de um sonho e que eu não podia ficar obcecada com aquilo. No fundo sabia que ela tinha razão, mas era mais fácil falar que fazer. Ela era uma rapariga muito prática e embora tivesse coração, normalmente era a lógica, e não os sentimentos, que a guiava.

Como gostava de ser como ela, eu era completamente o oposto, o que me guiava e motivava eram os sentimentos. Faye parecia estar treinada para levar uma tareia, erguer-se e logicamente seguir em frente, se fosse eu, levaria a tareia e ficava estendida no chão a chorar e a debater-me como os meus sentimentos e dúvidas. 

Eu era uma muito melhor Belle enquanto sonhava. Talvez fosse por isso que me custava tanto ter voltado á minha vida normal. Costumava ouvir várias vezes que era uma pessoa complexa, o que de certa forma era verdade. Tinha dias em que acordava determinada, nada podia deitar-me abaixo, e outros em que me deixava ir com a corrente numa tentativa de fugir ás minhas inseguranças.

Não insisti mais com a Faye, em poucos segundos percebi que ela não iria compreender, devia ter percebido antes mas ela era a minha melhor amiga e uma das poucas pessoas com quem me sentia á vontade para falar. 

Levantei-me e fui buscar umas bebidas ao bar. Uma bebida, era exactamente o que precisava. Tomei uma logo lá, levava uma para o caminho e outra para desfrutar sentada, mas virei-me rápido demais e dei um valente encontrão em alguém e acabei por entornar tudo. Fiquei ligeiramente atrapalha pela minha falta de jeito, mas nada se comparou com o que senti quando olhei para a pessoa á minha frente. O meu coração parou de bater, e eu tive quase a certeza que tinha adormecido e estava a sonhar outra vez. Aquela pessoa não existia no mundo real, era impossível. Tinha o James á minha frente.

Os meus olhos não se tiraram da sua imagem. Ele estava igualmente chocado, e por um segundo pensei que ele me conhecia, mas aparentemente e para minha desilusão, ele estava envergonhado e chocado por me ter feito entornar as bebidas. 

- Desculpa, foi sem querer…estava distraído… - Disse ele com embaraço. 

- Está tudo bem…eu também estava distraída. – Repeti, quando nada mais me ocorreu. 

- Deixa-me ao menos pagar-te outra bebida. – Insistiu. 

- Não, é melhor mesmo eu não beber mais nada hoje, acho que já estou a alucinar.

Algo de muito errado e muito estranho se estava a passar, comigo ou com o mundo.

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