quarta-feira, 21 de maio de 2014

Um Sonho Ou Realidade - Cap 41

Depois de duas semanas em Bruma, também o Shadow me esperava ansiosamente á porta do quarto. Como sentia falta de o abraçar, de o sentir a dormir aos meus pés. Ele era o meu consolo, o elo vivo entre o James e eu. Pouco depois apareceu a Beth, que me ajudou a desfazer as malas.




- Então irmã, como estás? – Perguntou, como qualquer irmã preocupada perguntaria.

- Não sei bem, melhor, dentro do possível, e tu? O que tens para me contar? – Perguntei assumindo que ela realmente queria contar algo, podia sentir que estava entusiasmada.

- O meu casamento será na próxima semana. – Respondeu, sem conter a sua felicidade.

- Ainda bem, precisamos de uma distracção. Mas há mais… – Insisti.

Havia mais alguma coisa, podia ver o brilho no seu olhar.

- Diz lá! – Insisti novamente.

- Eu e Richard…não conseguimos resistir, aguentar até ao casamento…- Admitiu envergonhada.

- O quê? – Perguntei morta de riso.

- Sim, sim aconteceu. - Disse revirando os olhos. - Passámos tanto tempo longe, sem saber se nos voltaríamos a ver, que a saudade e o desejo levou a melhor.

- Vocês… - Disse, eu divertida com a situação. – Fico muito feliz, e se queres saber, não percam tempo, amem-se e esqueçam o resto.

A Beth era uma rapariga que tinha dificuldade em partilhar as suas opiniões e sentimentos, não o fazia com qualquer pessoa, mas hoje ela estava feliz, tão feliz que não parava de tagarelar. Tive vontade de a interromper, de lhe contar sobre o Andrew e foi o que fiz:

- O Andrew visitou-me em Bruma. – Lancei assim sem mais nem menos.

- Visitou? – Perguntou curiosa.

- Ele está diferente, não é a mesma pessoa.

- Pode ter mudado. Talvez a guerra lhe tivesse feito bem. Ás vezes é preciso enfrentar grandes dificuldades para fazer uma pessoa mais humilde. – Confirmou a minha irmã.

- Talvez. Não tenho a certeza mas acho que, ele está a tentar conquistar-me. No entanto não percebi o que ele quer, se a minha amizade ou algo mais…

- Seja o que for, tem alguma hipótese?

- Se ele está a tentar emendar os erros do passado e se quiser a minha amizade, tenho todo o gosto em oferecê-la, mas se ele quiser algo mais, não tenho nada para dar. – Esclareci.

- Então não te preocupes.

- É fácil falar, mas fui eu que tive uma conversa ligeiramente desagradável com a mãe, ela não me está a dar espaço, ela quer que eu siga com a minha vida rapidamente. Como posso eu fazer isso?

Ela sentou-se, tomando as minhas mãos nas dela, fazendo-me sentar também:

- Não digo que tenhas de pensar em casar, mas ela tem razão, não podes ficar presa ao James para sempre. Tens de viver a vida, ele não está aqui mas tu estás. E de uma coisa tenho a certeza, ele não ia querer que desperdiçasses a tua vida, acho que ele te amava o suficiente para não ser egoísta. – Disse ela tentando animar-me.

- Achas que ele me amava? – Perguntei com lágrimas nos olhos.

- Não acho, tenho a certeza. Pela forma como olhava para ti, admirava-te e amava-te muito. – Respondeu com pesar.

- Às vezes quando penso nele, no nosso encontro e como as coisas se desenvolveram, tudo me leva a crer que foi obra do destino. Nunca, em toda a minha vida, imaginei que poderia amar alguém assim. Eu amo-o e mesmo ele não estando aqui, não sei como não amar. 

- Eu sei irmã. – Abraçou-me enquanto eu deitava tudo cá para fora.

Estava de volta a Stormhold, ao lugar que me havia acostumado chamar de casa, a pessoas às quais tratava agora como sendo família, onde passei momentos dramáticos e ao mesmo tempo, momentos de pura felicidade. Mas tudo o que tinha agora eram recordações. Aquele sítio já não era o mesmo.

Não podia passar o resto de minha vida ali, por muito que quisesse ficar devido a uma ligação profunda com o James, não conseguia somente recordar-me dos bons momentos. A saudade e a dor que a sua ausência causava eram demasiado dolorosas. Podia mudar-me para o fim do mundo, sei que nunca o iria esquecer, nunca deixaria de o amar, mas ali em Stormhold era impossível ter paz de espírito.

Podia seguir os meus dias com normalidade e manter uma certa fachada para com os restantes, mas na maior parte dos dias, por dentro, sentia-me zangada com o mundo, injustiçada. Tinha chegado a um ponto que não conseguia encarar a cara de felicidade dos outros, que sempre que me aproximava tentavam disfarçar para não me causar transtorno. 

Se ficasse em Stormhold não ia conseguir seguir em frente, seria sempre a pobre rapariga que perdeu o noivo e ficou destroçada para a vida. Não que fosse totalmente mentira, não me sentia capaz de amar novamente se encontrasse outro homem. Realmente não sabia o que fazer quanto ao meu futuro.

Numa das noites que se seguiu, tinha conseguido finalmente adormecer. Andava cansada, tinha prometido a Beth que a ajudaria com os preparativos do casamento, e ela não me deixava fugir á promessa. Nessa noite dormia descansada até começar a sonhar com James novamente. Andava a ter estes malditos sonhos, onde James ainda estava vivo, para acordar para a realidade e descobrir que era mentira. Era uma tortura.

Decidi levantar-me, já não conseguia estar deitada, não queria voltar a sonhar. Então vesti o roupão, peguei numa vela e fui até á torre. Já há algum tempo que não ia até lá, talvez por me trazer tantas recordações. Lembrei-me daquela última noite com o James ali. Estava desesperada pelo seu beijo e no entanto, no momento certo acabamos por ser interrompidos. Ri-me ao lembrar do olhar desapontado dele, pelo terrível timing de Richard.

Até a noite estava igualmente brilhante. De um momento para o outro, uma dor e uma saudade enorme inundaram a minha alma. Encostei-me á janela, apertando as minhas mãos em punho no parapeito. Como é que algo podia doer assim tanto? Queria desesperadamente que parasse de doer. Sentei-me na janela olhando a noite.

- O que pensas que está a fazer? – Perguntou Richard que apareceu á porta, com uma cara muito assustada.

Percebi o porquê imediatamente. Sem me ter apercebido, tinha-me sentado na janela com as pernas do lado de fora, como se me preparasse para saltar. Fiquei tão surpreendida como assustada com o poder do subconsciente, não me tinha apercebido do que acabara de fazer. No entanto, também entendi que bastava largar-me a acabava com a dor num instante.

- Belle, por favor anda para dentro, agarra a minha mão. – Pediu assustado.

- Eu sempre fui uma pessoa forte de espírito, nunca consegui entender os motivos que poderiam levar alguém a pôr termo á própria vida, mas agora entendo.

- Sei que doí Belle, mas o James não ia querer que isto acabasse assim, ele desejaria que seguisses em frente e fosses feliz. – Insistiu, aproximando-se.

- Eu sei que sim, mas ele não está aqui, ele não sabe o tamanho do buraco que tenho no meu coração. Não é ele que não consegue respirar com a minha ausência, não é ele que não consegue imaginar a vida sem mim. Eu continuo aqui e até agora não se tornou mais fácil. 

- Vai parecer cliché, mas sempre ouvi dizer que o tempo cura tudo. E ainda é cedo demais. Uma coisa destas não desaparece, não passa tão rapidamente, pode nunca passar. – Respondeu ele.

- O que farias se tivesses de lidar com a perda da minha irmã? – Perguntei na tentativa de encontrar uma resposta que me confortasse.

- Não sei, acho que enlouqueceria ou morreria de desgosto. Não quero, nem consigo imaginar. Não é provavelmente a resposta que esperavas, mas é a verdade.

- Não precisava de ouvir uma mentira bonita qualquer para me incentivar a viver. Eu precisava da verdade, de ouvir alguém dizer o que eu mesma sinto, assim sei que não sou a única, que não estou a ficar doida.

- Não estás maluca acredita. Tu perdeste o teu noivo, o homem que amavas, eu perdi o meu irmão e o meu pai. O tipo de amor pode ser diferente, mas não deixa de ser amor. – Disse ele com grande tristeza.

Aceitei a sua mão e ele ajudou-me a voltar para dentro. Ainda assustado e temendo pela minha segurança, Richard abraçou-me e eu aceitei o seu abraço carinhoso e confortável.

- Espero que esta ideia maluca nunca mais te passe pela cabeça, ia odiar perder-te também, tu és família, és minha irmã.

- Obrigada Richard, por tudo. – Agradeci de lágrimas nos olhos.

- Não tens de agradecer, sabes que estarei sempre aqui. – Disse ele, limpando-me as lágrimas, encaminhando-me de volta ao meu quarto.

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