quinta-feira, 8 de maio de 2014

Um Sonho Ou Realidade - Cap 39

Através do nevoeiro vi o Richard seguido pelo exército do pai, agora seu. Vi a carruagem que carregava o corpo de Lord Hastings e esperei que James, como se encontrava ferido, viesse lá dentro. Mas quando Richard desceu do seu cavalo, olhou para mim com pesar e acenou negativamente, sinal de que James não estava com eles, a verdade atingiu-me violentamente.


Senti uma dor tão aguda no peito que não consegui respirar. A Beth correu para mim, levou-me para dentro onde me desmanchei completamente a chorar. O médico deu-me um chá para me acalmar e dormi um pouco. Quando acordei reparei, ainda ensonada, que tinha Richard a meu lado, sentado na cadeira:

- O que estás a fazer aqui? – Perguntei.

- Para que possas fazer todas as perguntas que quiseres.

- Não tenho nada para perguntar, não quero acreditar que ele não está mais entre nós. – Disse com indignação.

- Eu sei, mas tens de te mentalizar.

- É fácil falar Richard.

- Pois é, mas eu também perdi o meu irmão e o meu pai, por isso sei do que falo. – Concluiu com tristeza.

Vi a dor da perda no seu olhar, e eu não podia ser egoísta ao ponto de fazer isto apenas sobre mim. Havia aqui uma família que havia perdido dois membros importantes e dezenas de homens em combate.

- Lamento imenso. – Disse sinceramente, agarrando a sua mão.

Richard era mais parecido com Catherine e o James com Lord Hastings, mas mesmo assim tinham feições em comum e parte da maneira de ser. Atrevo-me a dizer que Richard tinha mudado, desde que aqui havíamos chegado, desde o momento que teve de tomar posição relativamente a reclamar Beth como sua noiva. Ele estava mais parecido com o irmão.

- Nós todos lamentamos. Tenho algo para ti.

Agarrou num embrulho e vi o manto de James.

- O seu manto, pensei que gostasses de o ter.

- Obrigado.

Saiu do quarto. Enrolei-me no manto do James e voltei a adormecer rodeada pelo seu cheiro. Dormir era a minha escapatória, assim não tinha de lidar com nada daquilo que estava a acontecer. No dia seguinte foi a cerimónia fúnebre de Lord Hastings. Fizeram uma fogueira no topo da colina, era costume queimar os mortos e depositar as suas cinzas na cripta da família, e foi isso que fizeram. Reuniu-se imensa gente das aldeias do norte para uma última homenagem ao seu adorado Lord. Hastings era muito estimado por todos.

Na mesma cripta, juntamente com os membros falecidos da família, fizeram uma lápide para James, mas para mim, aquilo não fazia sentido. Não tínhamos corpo para sepultar, aquele era apenas um túmulo vazio, sem ninguém. Eu não fiquei ali para o resto da cerimónia. Fui para o pátio, para a zona de treino que estava deserta, treinar para me distrair.

Pouco depois apareceu a Lady Catherine:

- Não ficaste até ao fim? - Perguntou.

- Não, não vou rezar a um túmulo vazio. – Insisti.

- O corpo dele não foi encontrado, alguma cerimónia tínhamos de fazer. – Esclareceu ela tristemente.

- Tinham?

- Claro que sim, temos de honrá-lo…

- Honrá-lo? Agora decidiu dar-lhe o devido valor? – Perguntei friamente.

Ela sabia exactamente ao que me estava a referir, tanto que me respondeu:

- Eu percebo, sei que não fui muito boa pessoa para ele. – Admitiu.

- Não foi, mas mesmo assim ele falava de si como a única mãe que alguma vez conheceu.

Aquelas palavras tiveram um grande impacto nela, vi as lágrimas formarem-se nos olhos e escorrerem pela sua face:

- Não sabes como eu desejo voltar atrás. Não o odiava, não a ele, mas odiava o que ele significava. A recordação da traição de Peter a andar livremente por aqui, constantemente a lembrar-me disso. – Olhou para mim angustiada – Amava-o como qualquer um dos meus filhos, só não consegui pôr de lado o ressentimento, estava tão cega…como desejava ter acordado para a realidade mais cedo e ter-lhe dito o quanto o amava.

- Se ele estiver mesmo morto, então está entre nós, e agora sabe o quanto você gostava dele…

- Tu não acreditas que ele…

- Não quero acreditar. – Interrompi a frase.

- Amava-o.

- Não, eu amo-o. É doloroso para mim estar aqui. Cada canto de Stormhold tem uma história, um momento com o James. É demasiado doloroso.

- Tira um tempo, vai até Bruma ver o teu pai que regressou da guerra, ver a tua mãe e a tua irmã.

- Mas também é difícil partir.

- Não estou a dizer para ires para sempre. Podes voltar, és mais que bem-vinda aqui. Pensa um pouco e depois decides o que fazer. – Disse abraçando-me e voltando para dentro.

Pensei em tudo o que ela me havia dito. Talvez fosse bom passar um tempo em Bruma, longe deste sítio, que a cada passo que dava, algo me lembrava o James. Mais tarde, e depois de pensar bem, fui falar com a Beth, tinha de saber relativamente ao seu casamento. Fui ter com ela ao seu quarto, bati á porta:

- Entre! – Diz ela.

Entrei e ela estava lá o com o Richard, provavelmente a matar saudades:

- Não quero interromper nada…

- Não estás a interromper. Já volto. – Disse o Richard, saindo do quarto, e dando-nos alguma privacidade.

- Então, o que se passa? – Perguntou ela.

- Estive a pensar em ir a Bruma por umas semanas…

- Isso é bom, vai fazer-te bem.

- Sim, mas quero saber como vai ser o teu casamento. Quero estar presente.

- Eu e o Richard decidimos adiá-lo um mês, ninguém está com espírito para celebrações… - Disse tristemente.

- Vão esperar…está bem, então vou partir cedo e fico lá uma ou duas semanas. Não sei se depois, quando voltar se fico aqui…

- Eu sei, imagino que sim, é completamente compreensível.

Após a conversa com Beth fui para o meu quarto e arrumei algumas coisas para levar comigo. Era hora de dormir, mas o sono não queria nada comigo naquela noite, e ficar acordada com os meus pensamentos, não era boa ideia.

4 comentários: