domingo, 4 de maio de 2014

Um Sonho Ou Realidade - Cap 38

Tive um mau pressentimento, seguido de um calafrio a subir pela minha espinha que suspirou ao meu ouvido murmúrios de horror. Tinha receio de ler a carta, mas tinha de saber o que tinha acontecido. Peguei no pedaço de papel e reconheci a letra de Richard:



Querida Mãe,

Escrevo mas não partilho boas as notícias. É com o maior pesar que informo que o nosso pai e senhor de Stormhold, perdeu a vida para esta miserável guerra. Aconteceu no seguimento da última batalha, que nos deu a vitória definitiva. O pai foi em defesa do Rei e acabou ferido, não resistindo, sucumbiu aos ferimentos durante madrugada.

As más notícias não acabam aqui. Com o intuito de socorrer o pai, o James também foi ferido, vi-o ser atingido por várias setas do inimigo e cair no campo de batalha para não se erguer de novo. Tivemos de levar o pai para segurança, para ser tratado com a maior urgência, e quando voltámos pelo James, não encontrámos o seu corpo, nem outros feridos do nosso lado.

É possível que nesse espaço de tempo os selvagens tenham aparecido para saquear os restos da batalha e se o James e outros estivessem vivos, os levassem, mas com os ferimentos, ele não duraria muito. E estes selvagens não fazem reféns, ou matam ou escravizam o inimigo.

Peço desculpa escrever para vos dar estas notícias terríveis, também eu estou abalado, mas não ia conseguir esperar uma semana até voltar a Stormhold para as comunicar, não iria aguentar. 

Até breve,

Richard


Senti a carta escorregar das minhas mãos, nem sequer tive forças para a agarrar. Fiquei paralisada, não conseguia fazer nada, nem chorar, gritar ou falar. Aquelas notícias apanharam-me de tal forma desprevenida que fiquei sem qualquer reacção. A Beth sentou a Lady Catherine numa cadeira, ela estava de rastos, sem forças, e veio até mim, mas quando me tentou abraçar, repeli-a, não consegui suportar a sua proximidade, o seu toque.

Dei meia volta e sai do salão. Voltei para o quarto e tinha o Shadow á minha espera. Abracei-o com todas as minhas forças e as lágrimas que tinha aguentado no salão estavam a cair todas de uma vez, e eu não as conseguia parar. Não consegui aceitar que nunca mais o ia ver, sentir a sua presença, o seu cheiro, não aceitava que agora só me podia contentar com simples memórias, momentos. Sabia que não devia manter a esperança, mas acreditava que ainda o encontrariam e quando Richard regressasse, traria o James consigo.

De manhã acordei, ia descer para tentar comer algo, mas antes de chegar ao salão ouvi Lady Catherine dar as notícias às crianças, não ia conseguir suportar vê-las chorar, não ia conseguir, isso ia desfazer o resto de mim. Simplesmente sai, agarrei num cavalo qualquer e andei por ai, a vaguear o dia inteiro, sem qualquer propósito. Era melhor que ficar o dia todo no castelo.

Quando voltei encontrei a Beth a caminho do castelo. Soube que ela estava á minha espera:

- Como estás? – Perguntou preocupada.

- Estou bem! – Menti.

- Estás a mentir!

- O que queres que te diga então Beth? Sabes que eu não sou pessoa de andar por ai triste para que tenham pena de mim!

- Eu sei, mas podes falar comigo, desabafar, deitar tudo cá para fora.

- Nem sei o que pensar, quanto mais o que dizer…

- Lamento imenso Belle…

- Eu também. Ao menos o Richard está bem, daqui a uns dias vais vê-lo.

- Sim, estou agradecida por isso, mas não consigo ficar feliz por mim quanto tu não estás bem, não é justo.

- A vida não foi feita para ser justa.

Decidi juntar-me ao resto da família para o jantar. Sentei-me sem nada dizer enquanto olhavam para mim, para ver o meu estado ou como estava a reagir. Detestava isso. Foi o jantar mais silencioso da minha vida, e também o mais rápido. Fui de seguida para o meu quarto e estive tentada a ler mais uma vez a ler a carta do James, mas não o fiz, só iria pior a situação. Deitei-me e minutos depois ouvi bater á porta:

- Entre!

- Podemos? – Perguntou o Thomas com a Emily atrás.

- Claro.

Entraram e aninharam-se a mim, na cama. Eles estavam devastados, tinham perdido o pai e o irmão, apesar da minha dor, tinha de ter paciência com eles.

- Vai ficar tudo bem, prometo. – Disse-lhes eu.

- Vais deixar-nos? – Perguntou Thomas.

- Não, porque perguntas isso?

- Porque já não tens nada que te prenda aqui. – Respondeu Emily.

- Não posso ir embora, a não ser que queiram que vá. Habituei-me a que Stormhold fosse a minha casa e vocês a minha família. – Esclareci com as lágrimas nos olhos, abraçando-os.

Adormecemos minutos depois. A sua companhia fazia-me bem. Estar com eles fazia-me esquecer o meu próprio sofrimento. Dias depois, o Richard estava a chegar e eu tinha-me mentalizado que o James viria com ele também. A corneta tocou e fomos todos para a entrada do castelo, esperar os nossos bravos guerreiros. Vi movimentos pelo nevoeiro, eles estavam ali, tinham chegado.

2 comentários:

  1. realmente esta num impasse muito grande, podias ter adiantado mais qualquer coisa, agora so resta esperar impaciente, mas esta muito bom ,gosto muito

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    1. Não há problema em esperar Ana, não é assim tanto tempo. Beijo =)

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