terça-feira, 22 de abril de 2014

Um Sonho Ou Realidade - Cap 36

O momento havia chegado e apesar de já saber o que se tratava, ainda assim ficámos á espera que Lord Hastings o comunicasse, que o traduzisse em palavras, que o tornasse real:

- O que se passa pai? – Perguntou o James.

- Está a acontecer…guerra. – Respondeu Hastings.

- E o que diz mais o rei? – Perguntou Lady Catherine.

- Quer que me junte a ele, e o vosso pai também. – Disse olhando para mim e para a Beth.



- Não tens de ir Peter! – Implorou Lady Catherine.

- Claro que tenho. Este não é o tipo de pedido que me posso dar ao luxo de recusar. Estamos em guerra, o reino e o rei pediram a ajuda de Stormhold. – Insistiu Lord Hastings.

- E o que quer isso dizer? – Perguntou o Richard.

- Significa que tu e o James vão comigo.

Aquilo caiu-me que nem um murro bem posicionado no estômago. Já tinha pensado sobre isso, era uma possibilidade. Tanto James como Richard eram jovens cheios de vigor, força, eram guerreiros bem treinados, o que os qualificava de imediato em caso guerra.

- Por isso preparem-se, partiremos ao nascer do sol! – Ordenou Hastings.

O James e o Richard obedeceram Lord Hastings, ele era um homem experiente e ia orientá-los nesta demanda que tinham pela frente. Foram preparar as armas e as armaduras, mantimentos para partirem o mais depressa possível. Esta noticia tinha posto toda a gente em alvoroço. As crianças estavam assustadas, Lady Catherine não se pronunciou mas estava angustiada e a Beth apesar de estar orgulhosa pelo Richard, estava aterrorizada com a ideia de o perder. Quanto a mim, não sabia muito bem o que sentir. Era um misto de emoções.

Deixei o salão e fui para os meus aposentos, não havia mais nada que pudesse fazer. Desejei ir com eles também, mas sabia que não me era permitido. Sentei-me na cama, senti o medo apoderar-se de mim lentamente. Estava aterrorizada, tinha demasiada gente querida a alistar-se sem escolha, no caminho para a morte certa, e eu sentia-me completamente inútil. Pensar que poderia perder o meu pai ou o James, ou se acontecesse alguma coisa ao Richard ou ao Lord Hastings.

Passado algum tempo, nem me tinha apercebido que tinha passado tanto tempo, alguém bate á porta:

- Entre.

- Sou eu. – Disse o James, entrando e fechando a porta atrás de si.

- Vão partir. – Disse eu.

- Sim.

Não conseguia olhar para ele, se o fizesse era muito provável que me desfizesse em lágrimas:

- Só vim despedir-me de ti. – Disse, vendo que não obtinha reação da minha parte. – Vê pelo lado positivo, se eu não regressar ficarás livre.

Saiu do quarto e aquelas palavras ecoavam na minha cabeça: “se eu não regressar.” Mas eu queria que ele regressasse. Desci as escadas a correr e cheguei ao pátio. Espreitei pela porta e estavam a despedir-se da família. Avancei e o James ficou surpreso por me ver e o Lord Hastings estragou a minha confiança interrompendo-me:

- Belle, o Thomas ficará como Lord de Stormhold enquanto estivermos fora, ele precisará de todo o apoio, conto com todos, e contigo também para o ajudares e ficas encarregue da guarda e da proteção da cidade, és tão capaz como qualquer um de nós.

Fiquei surpreendida por tal cargo, tomei como minha essa responsabilidade:

- Claro, pode contar comigo.

Todos se encaminharam para os seus cavalos, e eu finalmente tive oportunidade e avançar na direção do James:

- James…

Voltou-se e viu-me ali diante dele. Avancei e beijei-o como se não houvesse amanhã, ele correspondeu com igual urgência. Afastei-me dos seus lábios e ele perguntou:

- Para que foi isto?

- Para que saibas que quero que voltes e que estarei aqui á espera por ti…

- Vou voltar, prometo Belle.

- Espero bem que sim, ainda temos um casamento por celebrar…e eu…

- Não o digas. – Interrompeu ele. – Deixa que tu e as tuas palavras sejam o que me dê forças e esperança para regressar a casa. E aí, depois diremos juntos.

Ele beijou gentilmente os meus lábios uma última vez, montou o seu cavalo e partiram, para voltar sabe Deus quando e em que estado. Quis conservar aquele sorriso na minha memória para quando me sentisse sozinha, ou nas noites que me custasse mais a adormecer. 

Os tempos que se seguiram foram difíceis de ultrapassar, não era a mesma coisa sem os homens da família por perto, e a tristeza abateu-se gradualmente sobre nós. Fazia um mês que haviam partido, mas o tempo passava de tal forma que parecia ter-se passado um ano. Outras vezes passava tão devagar que aquele inferno parecia não ter data para terminar.

Agora que não o tinha comigo, sentia realmente a sua falta, fui percebendo aos poucos o quanto gostava dele, não havia dúvida de que o amava com todas as minhas forças. Tinha esperança de que ele ia voltar, mas ao mesmo tempo estava com receio de alimentar demasiado essas esperanças, abrir o coração e depois acontecer alguma coisa, tinha medo de o perder.

No entanto, aquele momento não girava somente em meu redor. Não pude pensar somente nas minhas aflições, tive de apoiar a Lady Catherine, a minha irmã e as crianças. Não sabíamos bem como estava o resto do reino, por isso só visitei a minha mãe e a minha irmã Marianne uma vez, agora era perigoso fazer aquele caminho, com os rebeldes á solta, mas mantínhamos contacto através de cartas.

O Thomas procurava-me regularmente para o ajudar a treinar e relativamente a certas decisões que tinha de tomar enquanto Lord de Stormhold. Ele dependia de mim para manter a normalidade e a calma, sentia-se seguro e eu não podia comprometer a tranquilidade das crianças, tinha de manter o sangue-frio e a sanidade mental intacta.

A vida na vila decorria com normalidade, o que era bom naquele momento de tensão. A única mudança foi ter apertado com a segurança, a guarda tinha sido reforçada, não podia permitir que algo acontecesse á cidade e às pessoas, na ausência de Lord Hastings, ainda menos quando me tinha sido incumbida a tarefa de fazer com que algo assim não acontecesse. 

Em tempos de tensão como este, pelo qual estávamos a passar, havia a tendência para o aumento de ataques de selvagens, roubos e mesmo rebeliões entre as muralhas, mas estava tudo sobre controlo. As aldeias do Norte estavam unidas, havia um espírito de união que ajudava a manter a calma e a paz. 

Aqui em Stormhold sabia tudo o que se passava, mas a impossibilidade de me deslocar a Bruma deixava preocupada. Tinha dito á minha mãe para vir com Marianne para Stormhold, mas ela negou-se a deixar a cidade sem ninguém que a governasse, e tinha razão, alguém tinha de permanecer no lugar do meu pai e tinha de ser ela, com o apoio do capitão da guarda, uma das pessoas em que o meu pai mais confiava e que lhe tinha jurado fidelidade.

Dois meses, três meses passaram, e o ar estava cada vez mais frio. Talvez fosse só mesmo o tempo a mudar, mas as pessoas mais velhas atribuíam-lhe presságios de tempos ruins que estavam para vir, ruins em todos os sentidos, podia-se sentir no ar á nossa volta, esta guerra mesmo que fosse vencida, ia trazer muita desgraça e perda.

1 comentário:

  1. podias ter posto mais um capitulo agora so resta esperar mais uma semana

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