Um Sonho Ou Realidade - Cap 35

Apesar do frio e do mau tempo que se fez sentir durante a noite, acabámos por adormecer, mais provavelmente devido ao cansaço, do que sono em si. Dormimos apenas algumas horas, acordámos com o sol, quando ele nasceu. Finalmente, tinha deixado de chover e o tempo dava sinais de querer abrir. 

- Bom dia Belle. - Disse, com um sorriso doce.

- Bom dia. - Respondi, com um olhar sonhador.

Podia acostumar-me a acordar com James a meu lado, apesar de ter sido uma longa e dura noite, aquele despertar tinha compensado. Nunca tinha conhecido uma pessoa, um homem que me fizesse sentir assim, tão segura.

- Temos de partir. – Disse-me ele, ainda deitado junto a mim.

- Sim, claro. – Respondi, levantando-me.

Fizemos o caminho de volta ao acampamento com grande receio do que fossemos encontrar, não fazíamos a menos ideia do que tinha acontecido aos nossos.

Fomos á pressa e em silêncio, compreendi que James temia pelo pai e pelo irmão, e eu queria dar-lhe algum espaço. Quando lá chegámos tivemos a felicidade de encontrar o nosso grupo a salvo, não tínhamos sofrido baixas e os rebeldes tinham sido derrotados. No entanto, encontrámos um Lord Hastings preocupado, sem saber de um do seu filho e da futura nora.

- Mas o que raio aconteceu com vocês? Estão bem? – Olhando para nós de cima a baixo. – Sabia que não devias ter vindo Belle, e se algo te tivesse acontecido, imaginas o sacrifício que seria ter de informar o teu pai?

- Não a culpes pai. A única coisa que ela é culpada, foi ter ido atrás de mim para me proteger. – Defendeu-me James.

- Vocês jovens com a vossa mania de agir sem pensar nas consequências...Estou demasiado velho para lidar com estas preocupações. - Insistiu.

Hastings olhou para nós, inicialmente com um olhar de reprovação pelo nosso desaparecimento, mas ao ouvir o filho, a sua feição suavizou.

- Bem, só agradeço aos deuses por estarem bem, só eu sei que passei esta noite em branco preocupado com vocês… - Resmungou entre dentes ao afastar-se.

- Não lhe ligues. – Disse o Richard. – Ele estava só preocupado, sabes como é o pai, daqui a nada passa-lhe.

- Sim eu sei, e bem demais. – Respondeu James.

Senti-me culpada o suficiente, não queria estorvar mais, por isso juntei as minhas coisas e fiquei sossegada á espera que o resto do acampamento fosse levantado.

- Não tens de te sentir mal. – Disse James, aparecendo ao pé de mim.

- Mas sinto, não queria preocupar o teu pai.

- Ele preocupa-se demais para o seu próprio bem. De qualquer das formas, só tens de te orgulhar pela coragem que demonstraste ontem. 

- Acabei por estorvar. – Insisti.

- Não, eu vi-te atrás da árvore, impedindo inimigos de chegar á nossa defesa, e agradeço-te pela preocupação e por me teres seguido. Na verdade isto foi culpa minha, deixei que eles me levassem para fora da defesa. Tu só foste atrás de mim na tentativa de me proteger. – Confirmou.

Pensando bem, sim ele tinha razão. Lord Hastings estava aborrecido, mas a culpa era do James, ele tinha sido demasiado ousado e deixou-se levar pela artimanha do inimigo, eu segui-o porque não queria que nada de mal lhe acontecesse. Mas eu não ia dizer nada disso, como é óbvio.

- Bem, se estavas a tentar fazer com que me sentisse melhor, resultou. – Brinquei com ele, fazendo-o sorrir.

Estava, definitivamente, sentindo-me melhor. Lord Hastings mandou um mensageiro á nossa frente para Stormhold, avisando que podiam dar início aos preparativos do banquete. Devíamos estar de volta ao fim do dia. Os nossos companheiros e aliados seriam presenteados com um belíssimo banquete e passariam a noite em Stormhold. Fizemos o caminho de volta nas calmas e chegámos na hora que tinha sido prevista.

Os convidados foram levados aos seus aposentos, tiveram a oportunidade de relaxarem com um bom banho e mudar de roupa antes de jantar. E eu também agradeci aos deuses pelo banho quente que estava á minha espera quando cheguei ao meu quarto. Nunca uma água quente de óleos perfumados me soube tão bem, depois de uma noite mal passada. Nem toda a noite foi mal passada. Recordei os beijos de James e as suas mãos provocadoras, deslizando pelo meu corpo. E naquele momento, desejei que ele estivesse ali, comigo, na banheira.

Deixei o meu momento de sonhar acordada para mais tarde e fui vestir-me para o banquete. Nunca me esforcei muito para me sentir feminina ou bonita nestas ocasiões, sempre me limitei a vestir qualquer coisa. Mas dei comigo preocupada com detalhes, como o vestido e o cabelo. Acho que dentro de mim tinha crescido uma determinação para impressionar James.

Por essa mesma razão escolhi o que iria fazer ao meu cabelo e o vestido que ia usar, com muito cuidado.

Depois de toda a preparação, olhei para o meu reflexo no espelho, e pela primeira vez critiquei a minha imagem, achei que estava bem arranjada, estava de facto a arranjar-me não para mim, nem para parecer bem a uma multidão num evento qualquer, mas para uma pessoa em particular. Sem esquecer de colocar um pouco de perfume, lá sai do quarto, em direcção ao salão.

O James recebeu-me com um largo e caloroso sorriso, e eu adorava como isso me fazia sentir. Aos seus olhos não era apenas uma jovem tola e sonhadora, para ele era uma mulher, uma mulher que ele desejava acima de tudo.

Todos comiam, bebiam, conversavam, dançavam na sua inocência, mas este banquete terminou tão rápido como havia começado. De repente ouviu-se um ligeiro tumulto no exterior e as portas do salão abriram-se de rompante. Um homem correu sala a dentro com uma carta na mão. Conheci o estandarte que o seu companheiro trazia, eram as cores do Rei. Olhei para o James e ambos soubemos que o momento pelo qual mais receávamos estava á nossa porta. A inevitável guerra tinha infelizmente começado.