quinta-feira, 27 de março de 2014

Um Sonho Ou Realidade - Cap 32

Lord Hastings acomodou-se na sua cadeira, tentando encontrar uma posição confortável e despejou um pouco de licor no copo. Parecia preparar-se para fazer uma viagem ao passado, que embora fizesse reviver as boas recordações, lembranças dolorosas vinham de atrelado.


- Como deves saber, eu e o teu pai somos amigos de infância. - Começou a explicar.

- Sim eu sei, ele quando se lembra, conta uma história ou outra sobre as aventuras da juventude.


- Podíamos escrever um livro sobre as aventuras da nossa juventude. – Disse animado, recordando. – Quando atingimos a maioridade, fomos ambos mandados para o exercito, onde conhecemos o Rei, que sendo da nossa idade, teve o mesmo treino que nós. Assim nos tornámos grandes amigos, os três. Depois do treino militar, eu e o teu pai decidimos alistar-nos na King’s Guard por algum tempo, apesar de herdeiros, ainda não era altura de assumir a posição.

Estávamos na capital alguns meses de seguida, mas sempre tirávamos alguns dias para voltar a casa. Numa dessas visitas, o teu pai tinha a tua mãe á sua espera, um arranjo que fizeram na sua ausência. Quanto a mim, eu já conhecia Lady Catherine e o nosso casamento também tinha sido planeado. Ela sempre foi bela, mas nunca tinha existido grande empatia entre nós, daí não nos termos conhecido melhor desde inicio.

Enquanto estava na capital, conheci a irmã do Rei, Lady Alara, apesar de ser uma rapariga e mais nova, andava sempre atrás de nós. Acabámos por nos tornar amigos. Ainda andávamos a viver as nossas aventuras, mas conscientes que essa liberdade não ia durar para sempre.

- Porquê? – Perguntei.

- Porque a nossa vida já estava planeada há muito tempo, e haviam poucas hipóteses de escapar a um destino planeado por outros, e às expectativas que tinham de nós. 

- E o que aconteceu?

- A minha amizade com Alara tornou-se algo maior, mais que uma simples amizade. Quando casei com Catherine, ela ficou destroçada, fiquei cerca de dois meses aqui, de licença e quando regressei á capital, ela não queria ver-me. 

- Porquê?

- Pensei que ela estivesse ressentida comigo, por me ter casado com Catherine. Mas uma noite, ela finalmente veio ter comigo e explicou-me a razão. O seu pai tinha escolhido um marido para ela, e iam casar dentro de um ano, o tempo para ela atingir a idade adulta.

- Conheço essa sensação. Ela devia estar assustada e revoltada ao mesmo tempo.

- Senti-me inútil, não podia fazer nada por ela. Infinitas vezes desejei quebrar o pacto que a minha família fez com a de Catherine e casar com Alara, mas isso estava fora do meu alcance.

- É engraçado como os nossos pais passaram por essa situação horrível, e mais tarde fazem os filhos passar pelo mesmo.

- Quando se chega a adulto, é que muitas vezes percebemos as decisões dos nossos pais, e aí damos o respectivo valor. – Respondeu á minha crítica. – Mas como te estava a contar, nessa noite, no calor no momento, no calor do desespero, sendo egoístas, sem pensar nas consequências, dormimos juntos. Eu tive de voltar a Stormhold algum tempo depois para descobrir Catherine á espera de um filho meu. Fiquei aqui até ela ter a criança, e voltei á capital para descobrir que Alara estava grávida também.

- Mas que belo sarilho foi você arranjar Lord Hastings. – Tentei levantar o ambiente.

- Eu sei, foi muito imprudente da nossa parte. Alara praticamente já não deixava o castelo e seus aposentos. Nos últimos quatro meses da gravidez, viajou para fora, já não conseguia ocultar a barriga. Ainda não tínhamos decidido o que fazer quanto á criança, ninguém podia saber, seria o fim para nós e para o bebé. Estava com ela quando deu á luz e decidimos que eu traria o nosso filho comigo mas nunca revelaria a identidade da mãe, para nossa protecção. Foi um choque para todos, tinha acabado de assumir o lugar do meu pai como chefe da família e agora aparecia com um recém-nascido bastardo. - Recordou com alguma angústia.

Consegui perceber a dor que lhe causava a distinção e o desprezo dos quais o James havia sido alvo a vida toda. Tinha sido uma escolha difícil, mas era o castigo que Hastings tinha de suportar, ainda que James não tivesse culpa.

- Eventualmente as coisas acalmaram, eu segui com a minha vida, depois disso poucas vezes vi Alara, mantínhamos contacto ocasionalmente para a informar sobre o estado de James.

- Quem não conseguiu seguir muito bem com a sua vida foi Lady Catherine, eu bem sei o quanto ela despreza o James. - Disse eu, discordando.

- Sei que não é desculpa, mas não posso censurá-la, posso? Eu traí-a pouco tempo depois de estarmos casados. Acabámos por aprender a gostar um do outro, mas ela nunca esquecerá a minha traição, e a presença do James não a deixa esquecer isso.

- Não é desculpa, eu sei, mas ela devia compreender que ele não merece sofrer pelos pecados dos seus pais, não acha? Como mãe, ela devia ser mulher para perceber isso.

- Bem, gostava que ela pensasse assim. – Revelou tristemente. – Talvez um dia ela consiga seguir em frente e perdoar.

- Talvez sim, talvez não, quem sabe? No entanto, na minha opinião, não há nada a perdoar. Se o James é alguma coisa nesta história, é uma vitima.

Ele olhou para mim com uma certa admiração, com um brilho no olhar, que não consegui entender inicialmente.

- Apesar de todas as objecções da tua parte, vejo que acabaste por te afeiçoar ao meu filho, estou errado?

- Porque pergunta isso? - Respondi com uma pergunta.

- Pela forma como o defendes. E não é só isso, ando muito atento e sou grande observador, acho que ambos se afeiçoaram muito um ao outro.

- Como poderia não me afeiçoar? Ele é um bom homem, como há poucos. Do nada, ele apostou neste compromisso entre nós e fez-me acreditar também. Não é qualquer pessoa que consegue essa proeza, eu não sou tão fácil de convencer. - Respondi da forma mais sincera que consegui.

- Sim, bem sei, tens a doçura da tua mãe, mas a teimosia do teu pai. - Confirmou com um sorriso.

- Já me tinham dito.

- De qualquer das formas, de uma coisa tenho a certeza.

- De quê?

- Independentemente do que acontecer daqui para a frente, sei que posso contar contigo para olhares pelo meu filho.

4 comentários:

  1. Bem... este capitulo deu para compensar o anterior :)
    Muito bom, continua ;)
    Beijinhos

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  2. Ainda bem que ficaste satisfeita kkkkk Beijinhos =)

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  3. Gostei à beça desse capítulo. Uma camada subcutânea à história, o que nos fazer saber que existe uma trama feita por muitos fios e nos aguça a saber quantos fios mais exitem e para onde eles vão.

    Obrigado, Joana!

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    1. Cada personagem tem a sua própria história, não posso desenvolver a história de todos mas ao menos posso explicar o passado, que deu origem ás personagens principais. Obrigado Jon =D*

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