sábado, 15 de fevereiro de 2014

Um Sonho Ou Realidade - Cap 26

Depois de uma noite extremamente difícil, de voltas e mais voltas na cama, pensamentos aterradores imaginando o que aconteceria se o pais se visse futuramente mergulhado numa guerra. Imagens horríveis passaram pela minha cabeça, durante horas, e mesmo fechando os olhos elas não desapareciam. Só adormeci quase de manhã. Quando me levantei para tomar o pequeno-almoço, sai do quarto e encontrei o Richard no corredor.

- Bom dia Richard.


- Bom dia Belle. Pareces cansada. – Notou, ligeiramente preocupado.

- Dormi mal. – Respondi, sem entrar em detalhes. - O que vão fazer hoje os homens da casa?


- O meu pai disse-me ontem á noite que vamos fazer uma ronda às aldeias de Stormhold e explicar o que se está a passar a Sul.

- Queres dizer avisá-los sobre a possibilidade de haver uma guerra…

- Infelizmente sim, é isso mesmo. – Disse pesadamente. – As pessoas sabem que algo se passa, mas não saber ao certo o que é, deixa-as nervosas.

- Compreendo, é dever do teu pai de as informar e acalmar. E quanto tempo vão, vocês ficar fora?

- Uma semana talvez. – Disse seguindo caminho.

“Uma semana?” Pensei, era algum tempo, a ideia de James estar longe não me agradou muito, e sinceramente deixava-me preocupada, não só por ele mas por Richard e Lord Hastings.

Descemos para tomar o pequeno-almoço. Nenhum dos três parecia ter menor das vontades de ir pelas aldeias tentar acalmar as pessoas, elas não eram estúpidas, não se deixavam enganar por palavras bonitas, mas era um dever a cumprir, apoiar a população de Stormhold e tentar sossegar a crescente preocupação. O James estava preocupado, mas para não me preocupar a mim, tentava manter uma postura descontraída, e fez um pedido legitimo antes de partir.

- Porta-te bem. – Pediu, com aquele sorriso doce.

- Porto-me sempre bem. – Respondi com um sorriso travesso.

- Sabes tão bem quanto eu que isso não é verdade.

- Então não faças pedidos que eu posso não conseguir cumprir. – Brinquei com ele.

Partiram pouco depois do pequeno-almoço. O tempo passava lentamente, uma hora pareciam cinco horas, um dia parecia dois ou três e aquela semana pareceu uma eternidade. Por mais que me custasse admitir, a ausência do James fazia-se notar, nós costumávamos conversar e eu gostava de o ter por perto, ele fazia-me rir, fazia-me companhia.

Esses dias custaram a passar, mas consegui arranjar coisas para fazer, isso nunca foi problema para mim, arranjar coisas para me ocupar. Passava a maior parte do tempo com as crianças, a brincar, a contar-lhes histórias ou a treinar com eles. Enquanto isso, a Beth ajudava a Lady Catherine com o planeamento dos casamentos, assunto que a mim me aborrecia demasiado, e fazia questão de participar o menos possível, só se precisassem mesmo de mim.

Uma tarde, a Beth e eu andávamos pela cidade, na zona do mercado. Ao contrário de mim, ela estava entusiasma com a compra dos tecidos para os nossos vestidos. Depois de uma hora a escolher tecidos, fomos decidir quais as flores para a decoração e que íamos usar nos ramos. Só essas duas coisas, que para ela eram essenciais, deixaram-me de rastos. Não queria parecer desinteressada, não era isso. Conseguia estar com a Beth e até conversar sobre o casamento, mas ela acabava por tornar todo o tempo que tínhamos juntas numa discussão sobre detalhes, convidados, música...e eu tinha um limite que conseguia suportar. 

Entretanto o nosso passeio foi interrompido. Do nada apareceu um pequeno grupo de mercenários, que sabe-se lá como, tinha conseguido passar pelos guardas e tinham entrado na cidade e assim que nos viram, vieram atrás de nós. Sabiam quem éramos. Fugimos e tentámos esconder-nos, num momento vinham atrás de nós e no outro desapareceram. Ficámos confusas, paradas no meio da rua, olhando em todas as direcções, e foi aí que pensámos nas crianças e na Lady Catherine.

Eles tinham-nos ali mesmo á mão, ainda assim resolveram mudar alvo, o que me fez pensar se aquilo não tinha sido uma simples distracção, alguns tinham vinho atrás de nós, para nos afastar, e os outros tinham tentado encontrar os restantes Hastings na cidade. Pareceu-me que eles sabiam exactamente o que estavam a fazer.

Tivemos o mesmo pensamento e corremos de volta para o castelo, sem pensar que alguns mercenários poderiam estar á espera. A Beth encontrou o Thomas e a Lady Catherine e levou-os em segurança para as criptas com alguns guardas, mas eu não pude ir, não encontrei a Emily em lado nenhum. Avisei os guardas sobre o ataque e sai para a rua para a procurar e minutos depois encontrei-a na praça junto á fonte. 

Ainda estava a alguma distância dela quando vi um dos mercenários do outro lado da rua com a sua besta apontada a ela. Gritei mas ela não ouviu, havia muita gente na rua e muito barulho, ela não reparou em mim. Não pensei em mais nada, corri instintivamente na sua direcção, agarrei-a bruscamente e desviei-a da mira, acabando por ser eu a levar com o dardo na perna. Apesar do susto a situação ficou controlada, em poucos minutos os guardas deram conta deles, eram no total uns nove. 

Acabou tudo bem, quer dizer, eu acabei por me ferir, mas acabou tudo bem, antes eu que outra pessoa. O que iria Lord Hastings pensar de mim, se chegasse a casa e encontrasse a sua filha mais nova ferida. Pior, o que iria James pensar de mim se eu não tivesse conseguido salvar a sua irmã. Se algo tivesse acontecido a Emily eu nunca mais iria conseguir olhar na sua cara, nunca mais iria conseguir encarar nenhum membro da familia Hastings sem sentir vergonha e culpa.

Ainda assim foi assustador, percebi que eles não estavam aqui para fazer mal á população, vinham num grupo demasiado pequeno para um ataque, o objectivo era mesmo aproximar-se da família regente ali. Não tive medo por mim, mas pela minha irmã, pelas crianças e pela Lady Catherine. Ao correr de volta para o castelo a imagem de os encontrar feridos ou algo pior, assustou-me imenso, mas o não encontrar a Emily junto dos outros em segurança foi como um murro no estômago, e o desespero que veio a seguir não ajudou em nada.

A adrenalina era tanta que só depois de a situação acalmar é que comecei a sentir uma dor horrível na minha perna. Sentei-me na fonte e não consegui olhar para o estrago, mas imaginava claramente o dardo ali espetado e só de pensar que tinha de tirar aquilo para fora, que ia doer como o inferno, o almoço quase me veio á boca.

3 comentários:

  1. Puxa vida! Essa Belle tem fibra mesmo! Mulher corajosa, forte.
    Fico imaginando cá comigo, caso haja guerra, se ela não vai querer alistar-se hehe.
    Por que o Richard ficou no castelo? Por ser um dos irmãos mais novos?

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    1. Ela não tem é cabeça e age sem pensar kkkkk o Richard foi com James e Lord Hastings, no principio do capítulo eles ainda não tinha partido, quando ele se encontrou com Belle no corredor era a manhã da partida. O Richard tinha de ir, ele é o filho mais velho e herdeiro. =)

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    2. Entendi. Minha falta de atenção.

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