Quando a irritação finalmente me alcançou, desejei não querer saber, desejei não me importar, ele era simplesmente o homem com quem me ia casar, nada mais, nem sabia se nos poderíamos considerar sequer amigos. Afastei-me um pouco mais e fui ver outras bancas, para me distrair e tirar os macaquinhos que se começavam a formar na minha cabeça, para me incomodar com dúvidas e receios. Vi alguém aproximar-se, era o Richard:
- Está tudo bem? – Perguntou.
- Sim, está tudo óptimo.
Ele riu e compreendeu.
- O que foi? – Perguntei eu.
- Sei que a Rose te incomoda.
- É assim tão óbvio? - Perguntei.
- Não como tu imaginas, mas sempre ouvi dizer que quem está do lado de fora, a observar, se apercebe melhor das coisas.
- É verdade, aparentemente tu conseguiste perceber. - Admiti.
- Garanto que não precisas de te preocupar com ela.
- Ela não me incomoda. O que o teu irmão faz ou deixa de fazer é lá com ele.
- Bem vejo, mas para que saibas, são só amigos, e para o James nunca passou disso, por muita pena dela. - Assegurou-me o Richard.
- Com muita pena dela mesmo. - Confirmei.
Ele voltou para perto da Beth e eu continuei a dar uma olhadela nas bancas. Avistei uma adaga lindíssima, toda trabalhada e com jóias embutidas. Procurei a minha bolsa e contei o meu dinheiro, mas por muita pena minha não tinha moedas suficientes. Entretanto apareceu o James:
- Precisas de moedas?
- Não, não preciso. – Neguei a sua ajuda.
- Parecias entusiasmada com a adaga. – Insistiu.
- Volto outro dia.
Ele mandou embrulhar a adaga e eu não disse nada, apesar de ter as perguntas a querer saltar-me pela boca. Não aguentei e perguntei, como se não soubesse:
- Quem é a tua amiga?
- Ah, é a Rose. Conheço-a desde pequeno e somos amigos de longa data. - Esclareceu ele.
- Ela é uma amiga para ti, mas tu não és um amigo para ela. - Disse eu.
- O que queres dizer com isso? - Perguntou curioso.
- Quero dizer que ela não te vê como amigo. Aos olhos dela, tu és um homem...um homem que ela claramente deseja. E não podia ser mais óbvia.
- Já desconfiava, e por isso tento evitá-la. Ela nem sempre foi assim, mas á medida que crescemos, quando surgia uma oportunidade, tentava uma aproximação.
- E tu simplesmente viras-te as costas a uma rapariga tão bonita?
- Sim, escolhi assim.
- Porquê? - Perguntei desconfiada. - Estavas a ser sincero quando me disseste que nunca tinhas estado com uma mulher?
- Sim, estava a ser sincero. - Respondeu calmamente.
- De certa forma desejei que fosse verdade, mas pensei que tivesses dito isso para me impressionar.
- Não, estava a dizer a verdade. Não vou negar que não tenho vontade de o fazer, ou que não estive perto de o fazer, estaria a mentir. Mas escolhi não o fazer.
Não lhe respondi, não tinha palavras para argumentar. Continuei olhando as bancas, e ele seguiu-me curioso e insistente como uma criança pequena quando quer alguma coisa:
- Porquê as perguntas?
- Por nada, curiosidade apenas. - Disse continuando a andar sem olhar para ele.
- Pareces incomodada...
- Eu não estou incomodada.
- Não? Com ciúmes talvez...
Olhei para ele, indignada com aquela afirmação:
- Eu, com ciúmes? De quem? De Ti? Com ela? Por favor...
- Estás definitivamente incomodada.
- Estou nada. Olha para ela e olha para mim. - Disse irritada. - Não tenho motivos para me sentir incomodada.
Continuei a andar. Nunca na minha vida me tinha gabado da minha aparência, sabia que era bonita mas não me aproveitava disso, e tinha sido sempre eu mesma. Mas naquele momento ele tirou-me do sério.
- Não tens mesmo, não tem comparação possível. - Disse seguindo-me. - Mas podes dizer-me o que se passa contigo afinal?
Tinha vergonha de me expressar, de tocar em assuntos tão íntimos, mas na realidade era algo que me deixava preocupada.
- Tenho receio. - Confessei.
- De quê?
- Tu sabes bem de quê. Estou farta de saber que muitos homens casados, dormem com outras mulheres. Eu não quero passar por isso, não quero partilhar o meu marido com ninguém...
- Não era capaz de fazer uma coisa dessas, além disso, não ia precisar de o fazer...
- Porquê?
- Não tens mesmo noção, pois não?
- De quê?
- Da tua beleza, do quão atraente és mesmo agindo naturalmente. És o tipo de mulher que todo o homem deseja, não só pelo físico, como pessoa também. Há muitas mulheres por ai, mas tenho a certeza que nenhuma me faz sentir este turbilhão de sentimentos como tu fazes, nenhuma me faz desejar certas...coisas tão avidamente como tu. - Confessou, sem qualquer pingo de vergonha.
Fiquei especada a olhar para ele. Tinha sido a coisa mais atrevida que alguma vez me tinham dito, e eu pensei que já tinha ouvido muita coisa. No entanto gostei muito do que ouvi.
- Tens boas saídas Hastings. - Disse envergonhada.
- Estou apenas a ser sincero. - Disse, corando. - Prometo que serei um marido fiel.
Não consegui fazer mais nada com aquelas palavras a não ser sorrir. Sabia que ele era um bom homem, nunca me trairia, e desconfiava que ele gostava tanto de mim como eu dele. Mas ele causava um forte impacto nas mulheres á sua volta, e elas não se importavam de demonstrar.
Que declaração envaidecedora, esta do James, hein! Quem não ficaria de perna bamba? Escutando o James falar de sua virgindade é, ao mesmo tempo que interessante, difícil de assimilar. É algo raro com uma pitada de utopia. Imagino que se Tara tiver mais participação na história, poderia tentar incriminar o James só para mexer com a Belle e daí surgiria uma disputa não assumida... hehe. Mas não desejo tanto mau e sofrimento para nossa protagonista.
ResponderEliminarO James em parte sente que o seu nascimento foi um erro, o seu pai dormiu com outra mulher e teve o James, por isso ele nunca foi bem aceite. Acredito que o James não queira que um filho seu viva essa horrível situação, daí a sua escolha em guardar a sua virgindade para uma única mulher. É utópico sim, mas assenta bem na situação dele. kkkkkkk Não desejas sofrimento Jon, mas vai haver sofrimento. Bjs =D
ResponderEliminarÉ verdade, eu não havia pensado por este lado. A atitude do James realmente assenta-se bem com a sua realidade.
ResponderEliminarYikes! Que sofrimento será este, hein?! Ai, ai, ai...