sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Um Sonho Ou Realidade - Cap 21

Na tentativa de poupar o irmão a mais humilhação, o James foi tentar a sua sorte, e como era de esperar, acertou em cheio no seu alvo. Eu fui a seguir, e como esperava de mim mesma, acertei. Tivemos cinco tentativas para mostrar as nossas capacidades, e nenhum dos dois fugiu às expectativas. Até às quatro ficámos empatados, e eu tinha subestimado o James, admito que sim. Sabia que era um excelente guerreio, mas desconhecia a sua habilidade com o arco. Contudo tanto ele como o Richard também me haviam subestimado. 

Na última volta escolhi ser a primeira. Concentrei-me, o máximo que me foi possível, apesar de não gostar de ter público, acertei em cheio. Sabia perfeitamente que o James não falharia, não tinha falhado ou hesitado até ali, não o iria fazer no último momento, a não ser que eu fizesse algo para o impedir. Para mim era ganhar ou perder, e empatar significava perder.



Na sua vez, ele posicionou-se, muito concentrado, não havia ali mais nada a não ser ele e o alvo, nem me viu aproximar. Mantive-me atrás dele até ao momento certo, e no segundo antes de disparar, soprei levemente perto do seu ouvido, fazendo com que perdesse toda e qualquer réstia de concentração que tivesse.

Desconcentrou-se de tal forma, que quase acerta no senhor responsável pela manutenção da área de treino:

- Vê lá o que fazes rapaz. – Disse furioso o homem.

- Peço desculpa Fengar! – Pediu James, envergonhado.

- Bem, parece que temos vencedor…vencedora, peço desculpa. – Gozou o Richard.

- Ela distraiu-me, não é justo! – Protestou o James.

- Eu não fiz nada, estava só perto de ti… - Disse eu.

-James, numa situação real não podes esperar que não haja distracções, devias estar preparado. – Provocou Richard ainda mais.

- Sim, mas isto não é uma situação real, é uma competição. – Continuou a protestar.

- Peço desculpa então. Só não quis que isto acabasse num empate, eu não ia perder, só facilitei as coisas James.

O James estava completamente indignado e o Richard não conseguia conter o riso.

- Pronto, repetimos. Vou manter-me longe desta vez. – Cedi.

Lá aceitou desconfiado, mas confiante e acertou como esperava. Sabia que ia conseguir, se havia algo neste mundo do qual não duvidava, era das minhas capacidades, mas se o fizesse nunca mais iríamos sair dali. Na minha vez, fiz pontaria ao alvo, de maneira a acertar um pouco mais longe do centro, mais longe da seta do James. Atirei e acertei no segundo anel a contar do meio.

- Temos vencedor. Parabéns irmão. – Anunciou o Richard.

O Richard arrumou as suas coisas e foi embora, e eu fiquei com o James a arrumar o resto do equipamento:

- Fizeste de propósito. – Disse ele, enquanto arrumava as setas.

- Relativamente a quê? – Perguntei eu.

- A perder…

- Não fiz, não. – Insisti.

- Eu sei que fizeste. – Insistiu ele.

- E como podes ter tanta certeza?

- Porque sei que não ias falhar.

- Não ia, mas um de nós tinha de desistir, e não serias tu…

- Mas perderes de propósito foi muito mais humilhante para mim.

Afastei-me ligeiramente irritada, fitei-o e disse-lhe:

- Não te percebo. Se perdes comigo ficas furioso, se ganhas ficas furioso na mesma. Não sei o que queres de mim, não tenho culpa de ser assim, extremamente dotada. – Argumentei.

Ao contrário daquilo que pensava, ele desatou a rir. Riu de uma forma que eu nunca tinha visto antes. Estava á vontade, a ser ele mesmo, a rir naturalmente.

- O que foi? – Perguntei.

- Tu fazes-me rir, mesmo quando eu não tenho vontade nenhuma. És tão directa e ao mesmo tempo tão inocente, é fantástico.

- Isso é bom ou mau? – Perguntei confusa.

- É bom, definitivamente bom. Ainda bem que és assim…dotada.

Não sabia exactamente ao que ele se estava a referir, quer dizer, podia imaginar, mas não quis pensar dessa forma. Não queria dar muita importância a tais palavras, mas a verdade é que elas começavam a afectar-me. Mais tarde nessa noite, depois de uma sessão de conversa com a Beth até tarde, fui para o quarto e encontrei o Shadow estendido na minha cama, sem deixar espaço para me deitar:

- Shadow o que estás a fazer aqui? Assim não vou conseguir deitar-me.

Fui até ao corredor e pensei ir dizer ao James para o levar para o seu quarto, não ia dormir sentada na cadeira. Fiquei parada do lado de fora do seu quarto sem saber o que fazer. Abri a porta e vi que estava a dormir, não tinha nada vestido da parte de cima, estava perigosamente irresistível. Se alguém me visse ali seria vergonhoso, eu estava em camisa de dormir. Aproximei-me da cama e chamei-o baixinho:

- James…

Ele não ouviu e não respondeu. Estava a dormir ferrado. Vi um jarro com água na cabeceira que me pareceu tentador usar para o despertar, mas não ia fazer isso. Aproximei-me um pouco mais e toquei-lhe no braço ao mesmo tempo que o chamei:

- James acorda!

Depois aconteceu tudo muito rápido. Acordou de repente, agarrou-me pelos pulsos, eu estava tão perto de si que mais uns centímetros e podia beijar-me de novo, mas ao aperceber-se soltou-me envergonhado.

-Peço desculpa, não queria assustar-te, o que se passa?

- O Shadow está na minha cama e eu não tenho espaço para me deitar, preciso que o tires de lá… - Disse recompondo-me e evitando olhar para a sua seminudez.

Além de estar um pouco ensonado e sobressaltado por o ter acordado, olhou-me de alto a baixo e reparou que eu estava de camisa de noite.

- E tu o que andavas a fazer de pé de camisa de noite?

- Fui á cozinha comer e quando voltei ele estava lá… 

- Vou buscá-lo então.

Fomos até ao meu quarto e não havia sinal do Shadow lá ter estado. Ele olhou para mim desconfiado:

- Ele estava aqui…

- E onde está agora? – Perguntou.

- Não sei, mas estava aqui… - Insisti.

Ele nada disse, mas não precisou, sabia o que perfeitamente o que ele estava a pensar.

- Pensas que te fui acordar de propósito?

- O que queres que pense?

- Pensas que fui assim ao teu quarto para te seduzir? Que tipo de pessoa julgas que sou? - Perguntei furiosa. - Não és assim tão bom James, peço desculpa pelo incómodo, acho que devias sair. – Disse irritada, e ao mesmo tempo desiludida.

Ele assim o fez, sem discutir. Era um idiota, ele não me conhecia para me julgar daquela forma, muito menos tinha o direito de me acusar de oferecida. Senti-me humilhada e muito ressentida com o James, nunca imaginei que ele fosse pensar algo assim de mim. 

Deitei-me mas não dormi nada. Levei a noite toda pensando em todas as respostas que lhe podia ter dado. Levantei-me cedo, vesti-me como se fosse treinar, preparei uma merenda para levar, agarrei o meu arco e a minha espada e fui explorar a zona fora das muralhas. Precisava de sair daquele sítio por uns momentos antes que a minha fúria ferisse alguém, física e psicologicamente.

1 comentário: