Fiquei
na dúvida, sem saber se devia falar com ele, dar uma palavra de apoio ou
simplesmente fechar a porta na sua cara. No entanto ele deu o primeiro passo,
ele veio ter comigo. Caminhando com aquele ar calmo, ainda que ligeiramente
perturbado, não deixava de ser sedutor:
-
Sem sono? – Perguntou.
-
Sim. – Respondi sem mais palavras.
Pairou
um silêncio constrangedor entre nós. Tinha muito que podia dizer, mas no final,
sentia-me culpada pela situação em que ele estava.
-
James, lamento imenso... – Comecei por dizer.
-
Não, não lamentes por mim, nem por ti. Eu e tu somos vítimas nesta situação,
os dois. Nada disto é culpa nossa. – Interrompeu.
- Ainda
assim, não consigo deixar de me sentir culpada. Nada disto teria acontecido se
naquela noite não tivesse parado junto do teu abrigo. – Lamentei. – Não te
teria conhecido, não teria voltado a Stormhold e nada disto estaria a
acontecer.
-
Não digas isso, se não o tivesses feito provavelmente não estarias aqui.
-
Exactamente.
-
Não, o que eu quis dizer é que provavelmente se não te cruzasses comigo, não
terias sobrevivido. Fico contento que tenhas cruzado o meu caminho. – Admitiu.
Olhei
para o James perplexa e percebi que ele tinha razão. Não tinha pensado nas
coisas dessa forma. E só eu me lembro do meu próprio estado naquela noite. Sem
forças e faminta, não podia ter ido muito longe e durado muito mais tempo. Imediatamente me arrependi do que disse.
Encostei-me
á parede, ele segurou a minha vela, a única coisa que nos iluminava. Fechei
brevemente os olhos e desabafei:
-
Como chegámos a este ponto James? Vim para cá pensado casar a minha irmã, e
numa grande reviravolta dos acontecimentos eu acabo noiva na mesma…
- É
quase engraçado as voltas que esta história deu, e até seria se não nos
envolvesse a nós. Espero que saibas que isto não tem nada a ver contigo, nunca
poderia ser por causa tua. Qualquer homem ficaria feliz em casar contigo. Eu
ficaria, mas sabes que casar nunca fez parte dos meus planos.
- Eu
sei James, não quero que aceites esta proposta por obrigação e muito menos por
pena. Só tens de pensar no que te fará feliz. – Fiz entender a minha posição.
-
Não aceitaria por obrigação ou pena Belle. E tu mereces um homem decente, não um
bastardo como eu. – Disse com aquela voz doce, acarinhando a minha face com a
sua mão.
- Não
és bastardo aos meus olhos. Isso nunca será um problema para nós,
independentemente daquilo que o destino nos desejar. – Respondi com
sinceridade.
- Gostava
que muitos pensassem assim, mas infelizmente a vida não é justa, ou fácil, e eu
não me posso dar ao luxo de esquecer o meu lugar. – Disse, fitando o chão, como
se aquilo custasse admitir. E eu sabia que lhe custava.
Antes
que a conversa enveredasse por caminhos deprimentes, o James mudou de assunto.
E ainda bem que o fez, não queria causar-lhe qualquer tristeza, tocando em
assuntos delicados.
-
Vais embora se eu rejeitar? Quer dizer, fugir?
Não
disse nem que sim, nem que não, mas ele provavelmente já sabia a minha resposta.
- Só
peço que fales comigo antes de partilhares a tua decisão com mais alguém. Preciso
de saber as minhas opções. Sei bem que, se rejeitares, o meu pai tem uma
segunda opção na manga. Tem sempre.
-
Assim que tomar a minha decisão, seja ela qual for, vais ser a primeira a
saber, prometo. Só preciso de tempo. Amanhã ao fim do dia terei a tua resposta,
dou-te a minha palavra. Não vás antes. - Pediu.
- Vou
esperar então. – Concordei. – Preparada, mas vou esperar.
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