Não
entendi o motivo logo naquele instante, mas pareceu-me que depois de ouvir a minha opinião, ele
olhava de outra forma para mim, como que, com admiração. Acho que se
identificou a ele mesmo naquela situação. Consegui identificar isso no seu
olhar, o que me fez ficar curiosa:
- O
que foi? - Perguntei.
-
Nada, é só que pareces muito jovem e no entanto consegues ser tão sensata, isso
é raro.
- Obrigado, o meu pai diz que tenho uma mente
demasiado aberta para o seu gosto. Voltando ao outro assunto, seria uma pena,
se te alistasses.
-
Porquê?
-
Porque és demasiado novo e tens a vida toda pela frente. Estás assim tão
disposto ou tão desesperado ao ponto de sacrificares a tua liberdade?
-
Que outra opção tenho? Ficar o resto da vida como o bastardo e causar embaraço
á minha família?
-
Podes ir embora, fazer o teu próprio destino. Encontrar um trabalho mesmo que
modesto, ganhar algum dinheiro, casar… - Disse, sem querer ser indiscreta.
-
Acho que o meu pai não ia achar piada nenhuma que o seu filho, ainda que
bastardo, andasse a viver uma vida de camponês.
-
Cada um tem a sua opinião. Eu não me importava de trocar a minha vida por uma
mais modesta, desde que fosse feliz. – Disse sem rodeios.
-
Então és mais corajosa que eu. – Brincou.
-
Parece que sim. De qualquer forma, acho que é um grande desperdício se te alistares.
- Ah
sim? – Perguntou curioso com o meu comentário.
Não
lhe respondi á pergunta, mas não consegui evitar sorrir.
- Acho
que devíamos dormir!
-
Sim, devíamos. – Respondeu.
Dormi
como um bebé nessa noite. Tinha acabado de o conhecer mas sentia-me confortável
e segura com o James por perto. De manhã acordei e quando abri os olhos tomei
consciência que se estava a passar. Senti, junto ao meu traseiro, que ele
estava demasiado entusiasmado com a minha presença ou então tinha tido um sonho
pouco próprio. Não me consegui conter e tive de perguntar:
-
Tens a tua espada apontada a mim novamente? – Gozei.
Ele
levantou-se rapidamente, compondo-se muito envergonhado e sem dar qualquer
resposta. Ajudou-me a levantar, pois eu não o ia conseguir fazer sozinha, atada
como estava. Depois disse-lhe:
-
Estive a pensar e decidi ir contigo para Stormhold, de livre vontade.
-
Ainda bem, acho que é o mais correcto.
-
Podes desamarrar-me agora? – Perguntei esperançosa.
- Não,
como é que sei se não me estás a tentar enganar outra vez?
-
Estás a falar a sério? Depois de tudo o que te disse… - Disse sem querer acreditar.
– Como queiras.
Ele
nem respondeu, talvez por ainda estar envergonhado com aquela situação e por tê-lo tentado envergonhar ainda mais. Andámos o dia todo e eu não lhe dirigi a palavra. Senti-me
humilhada por lhe ter contado tanto sobre mim, por ter partilhado coisas que
nem com a minha irmã Beth tinha falado, e mesmo assim, ele não confiava em mim.
Não era pessoa de guardar ressentimento, mas aquele pequeno golpe da parte do
James estava a fazer-me sentir pequenina, e de certa forma, traída também.
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