Era
assustador andar sozinha, numa floresta que desconhecia. Ouvia barulhos que vinham de todas
as direcções, e o vento fazia resmalhar as folhas secas e assobiava, fazendo
parecer vozes fracas e suspiros. Ao anoitecer tudo parecia mais assustador,
sempre tinha ouvido dizer isso, mas agora que estava completamente perdida na escuridão
daquela imensa floresta, percebi o sentido de tais palavras. As árvores e os
animais selvagens que por ali andavam criavam sombras e formas, das quais a
mente se aproveitava para fazer parecer algo que não era, para nos assustar
ainda mais.
Joguei
a mão á bainha, para tentar pegar na espada, mas infelizmente não a encontrei
ao meu alcance, estava demasiado longe de mim para me ajudar. Tinha-me
esquecido dela, a pressa tinha sido tanta que nem me lembrei de trazer algo
para a minha defesa. Esse pensamento fez com que força de vontade sobre a minha
decisão descesse a pique, tinha sido demasiado arriscado aventurar-me assim,
estúpido até, vindo de alguém que não tinha experiência nenhuma em sobreviver
sozinha na natureza. Conseguia safar-me na floresta nos arredores de Bruma, mas
não ali.
Parei
durante breves momentos para questionar a minha sanidade, se deveria continuar
naquela demanda sem meios de me defender se algo acontecesse, ou voltar para
Stormhold e casar com um homem que não me dizia nada, com o homem por quem a
minha querida irmã estava apaixonada. Havia outra maneira de me livrar de casar
com o Robb, mas eu tão pouco queria casar com o Andrew.
Analisei
as minhas opções e foi então que percebi que tinha de seguir em frente. Naquele
momento, mesmo que quisesse voltar para trás não ia conseguir fazê-lo, estava
perdida e não sabia o caminho de volta, mais valia continuar, ao menos sabia
que perto não estava, os arredores de Stormhold ficaram gravadas de tal forma
na minha mente, para saber que se as visse tinha de fugir no sentido contrário.
Aquela
primeira noite foi agonizante. Continuei a andar, mas a vontade de parar e
descansar até ao nascer do dia começava a ganhar terreno, no entanto teve de ser posta
de lado, pois tinha de aproveitar a noite para criar o máximo de distância
possível entre mim e Stormhold, assim que dessem pela minha falta, iriam mandar
alguém á minha procura. Depois
de dois dias a caminhar sem cessar, não fazia a mínima ideia de onde estava,
era certo que estava perdida, no entanto sabia que estava longe, esse era o meu
único conforto. Estava cansada, faminta, não tinha trazido mantimentos
suficientes, não pude arriscar-me na cozinha antes de partir.
Praticamente
não podia com o peso das minhas pernas e já ouvia barulhos em todo o lado, era
sinal que a minha mente já começava a pregar-me partidas. Ouvia o barulho da água de riachos que não
estavam lá e via alimento nos sítios mais absurdos, mas ao menos não me deixei
levar pelas miragens e continuei. No fim do dia, estava a escurecer e eu não
tinha abrigo, nem água ou comida, estava a desesperar e pensei que aquela fosse
a minha última noite. Se
fosse, não me arrependia de nada, tinha sido eu própria, tinha sido sempre fiel a mim mesma e aos meus
ideais, ainda que me acusassem de ser demasiado sonhadora. Só lamentava não ter
conhecido o verdadeiro amor, como a Beth dizia, o meu príncipe encantado.
Mentalizei-me
em não desistir e continuei, herdei a teimosia do meu pai, para alguma coisa
tinha de servir. Ao caminhar mais uns minutos avistei um pequeno abrigo mas não
havia sinal de pessoas nas redondezas, o que achei estranho. O cansaço e a fome
eram tantas que não resisti e aproximei-me discretamente. Era
um abrigo pequeno com uma fogueira acesa, deduzi que abrigava uma ou duas
pessoas, e era somente para passar a noite, uma vez que estava simplesmente
elaborado.
Vi um pedaço de pão, e a visão fez o meu estômago estremecer com a ânsia de comer. Agarrei no pão e escondi-o no meu manto, mas quando me preparava para partir, alguém apareceu do nada e me encostou violentamente contra uma árvore e agarrou os meus braços por trás das costas.
Vi um pedaço de pão, e a visão fez o meu estômago estremecer com a ânsia de comer. Agarrei no pão e escondi-o no meu manto, mas quando me preparava para partir, alguém apareceu do nada e me encostou violentamente contra uma árvore e agarrou os meus braços por trás das costas.
Não
me consegui libertar nem ver a cara do meu atacante, mas pela força, só podia
ser um homem. O pânico corria dentro de mim, não tinha morrido de cansaço, mas
existiam muitas outras formas terríveis de morrer, tudo dependia do meu captor.
Senti o capuz ser puxado e consegui virar a cabeça o suficiente para ver um
jovem, que também ficou surpreso por me ver:
-
Uma rapariga? - Perguntou surpreso.
Virou-me
de frente para si e fiquei surpresa ao ver que ele era muito bem-parecido.
Parecia ter a minha idade, tinha olhos castanhos e cabelos escuros ondulados,
era muito atraente. Tinha a sua espada apontada á minha garganta quando ele
diz:
-
Fui ensinado a acabar com ladrões como tu…
- Eu
também. Se fosse ao contrário, não hesitaria.
Ele
tinha os olhos fixos em mim, mas não sabia o que fazer. Achei que ele não
tivesse coragem para matar uma mulher:
- Sê
rápido por favor. É só isso que te peço… - Implorei.
Ele
estava com dúvidas, e aproveitei a sua indecisão, fiz-lhe uma rasteira e
desatei a correr desalmadamente. Infelizmente, para mim, a fuga não durou
muito. Corri na direcção de um precipício que não sabia que estava lá e se não
fosse este estranho agarrar-me, eu teria certamente caído.
-
Corres muito para uma rapariga. - Disse ele.
- Ou
tu és demasiado lento…para um homem. – Provoquei sem intenção.
-
Estavas a roubar-me, tentaste fugir e ainda tens o descaramento de me provocar! – Disse, amarrando as minhas mãos á frente do corpo.
- Não
tentarias escapar se estivesses no meu lugar? E sim, estava a roubar, desculpa
não consegui evitar. – Confessei.
-
Podias ter pedido, teria partilhado.
- Ah
sim?
-
Sim. – Respondeu.
-
Podes partilhar agora? - Disse eu, cedendo às minhas pernas e encostando-me a
uma árvore. – Estou cansada, faminta, tenho sede e não faço a mínima ideia de
onde estou.
Ele
olhou curioso para mim curioso. Primeiro atou as minhas mãos e os meus
pés, sentou-se a uma curta distância e deu-me água até estar saciada,
depois partiu pedaços de pão e deu-me á boca. Quando acabei de comer agradeci:
-
Obrigado. – Disse gentilmente.
- De
nada.
Podia
perceber que ele estava intrigado e cheio de perguntas para fazer:
- Que
foi? – Perguntei.
-
Pergunto-me o que faz uma jovem como tu por aqui, sozinha?
-
Respondo-te se me soltares…
-
Para me matares quando estiver distraído?
- Não estou armada. Ou não reparaste nisso enquanto me apalpavas? – Perguntei
descaradamente.
-
Notei sim, mas não é preciso uma arma para matar. – Respondeu, envergonhado.
-
Sim, estou ciente disso. – Concordei.
Lutei
contra as cordas, mas estavam demasiado apertadas para me conseguir soltar:
- O que
vais fazer comigo?
- Vou
levar-te comigo para Stormhold e depois decido o que farei.
-
Stormhold? Por favor, já pedi perdão por ter roubado, peço-te que não me leves
para lá. – Implorei.
-
Porquê?
-
Isso não te diz respeito…
Não
me apetecia falar sobre o assunto, muito menos com um estranho que não iria
entender, e que provavelmente iria condenar o meu comportamento. Então ali ficámos, num silêncio constrangedor.
Belle é de fato bastante brava. Gosto das falas dela. Sempre moderadamente atrevida. Bem "witty".
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