segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Um Sonho Ou Realidade - Cap 3

Era assustador andar sozinha, numa floresta que desconhecia. Ouvia barulhos que vinham de todas as direcções, e o vento fazia resmalhar as folhas secas e assobiava, fazendo parecer vozes fracas e suspiros. Ao anoitecer tudo parecia mais assustador, sempre tinha ouvido dizer isso, mas agora que estava completamente perdida na escuridão daquela imensa floresta, percebi o sentido de tais palavras. As árvores e os animais selvagens que por ali andavam criavam sombras e formas, das quais a mente se aproveitava para fazer parecer algo que não era, para nos assustar ainda mais.

Joguei a mão á bainha, para tentar pegar na espada, mas infelizmente não a encontrei ao meu alcance, estava demasiado longe de mim para me ajudar. Tinha-me esquecido dela, a pressa tinha sido tanta que nem me lembrei de trazer algo para a minha defesa. Esse pensamento fez com que força de vontade sobre a minha decisão descesse a pique, tinha sido demasiado arriscado aventurar-me assim, estúpido até, vindo de alguém que não tinha experiência nenhuma em sobreviver sozinha na natureza. Conseguia safar-me na floresta nos arredores de Bruma, mas não ali.

Parei durante breves momentos para questionar a minha sanidade, se deveria continuar naquela demanda sem meios de me defender se algo acontecesse, ou voltar para Stormhold e casar com um homem que não me dizia nada, com o homem por quem a minha querida irmã estava apaixonada. Havia outra maneira de me livrar de casar com o Robb, mas eu tão pouco queria casar com o Andrew.

Analisei as minhas opções e foi então que percebi que tinha de seguir em frente. Naquele momento, mesmo que quisesse voltar para trás não ia conseguir fazê-lo, estava perdida e não sabia o caminho de volta, mais valia continuar, ao menos sabia que perto não estava, os arredores de Stormhold ficaram gravadas de tal forma na minha mente, para saber que se as visse tinha de fugir no sentido contrário.

Aquela primeira noite foi agonizante. Continuei a andar, mas a vontade de parar e descansar até ao nascer do dia começava a ganhar terreno, no entanto teve de ser posta de lado, pois tinha de aproveitar a noite para criar o máximo de distância possível entre mim e Stormhold, assim que dessem pela minha falta, iriam mandar alguém á minha procura. Depois de dois dias a caminhar sem cessar, não fazia a mínima ideia de onde estava, era certo que estava perdida, no entanto sabia que estava longe, esse era o meu único conforto. Estava cansada, faminta, não tinha trazido mantimentos suficientes, não pude arriscar-me na cozinha antes de partir.

Praticamente não podia com o peso das minhas pernas e já ouvia barulhos em todo o lado, era sinal que a minha mente já começava a pregar-me partidas. Ouvia o barulho da água de riachos que não estavam lá e via alimento nos sítios mais absurdos, mas ao menos não me deixei levar pelas miragens e continuei. No fim do dia, estava a escurecer e eu não tinha abrigo, nem água ou comida, estava a desesperar e pensei que aquela fosse a minha última noite. Se fosse, não me arrependia de nada, tinha sido eu própria, tinha sido sempre fiel a mim mesma e aos meus ideais, ainda que me acusassem de ser demasiado sonhadora. Só lamentava não ter conhecido o verdadeiro amor, como a Beth dizia, o meu príncipe encantado.

Mentalizei-me em não desistir e continuei, herdei a teimosia do meu pai, para alguma coisa tinha de servir. Ao caminhar mais uns minutos avistei um pequeno abrigo mas não havia sinal de pessoas nas redondezas, o que achei estranho. O cansaço e a fome eram tantas que não resisti e aproximei-me discretamente. Era um abrigo pequeno com uma fogueira acesa, deduzi que abrigava uma ou duas pessoas, e era somente para passar a noite, uma vez que estava simplesmente elaborado. 

Vi um pedaço de pão, e a visão fez o meu estômago estremecer com a ânsia de comer. Agarrei no pão e escondi-o no meu manto, mas quando me preparava para partir, alguém apareceu do nada e me encostou violentamente contra uma árvore e agarrou os meus braços por trás das costas.

Não me consegui libertar nem ver a cara do meu atacante, mas pela força, só podia ser um homem. O pânico corria dentro de mim, não tinha morrido de cansaço, mas existiam muitas outras formas terríveis de morrer, tudo dependia do meu captor. Senti o capuz ser puxado e consegui virar a cabeça o suficiente para ver um jovem, que também ficou surpreso por me ver:

- Uma rapariga? - Perguntou surpreso.

Virou-me de frente para si e fiquei surpresa ao ver que ele era muito bem-parecido. Parecia ter a minha idade, tinha olhos castanhos e cabelos escuros ondulados, era muito atraente. Tinha a sua espada apontada á minha garganta quando ele diz:

- Fui ensinado a acabar com ladrões como tu…
- Eu também. Se fosse ao contrário, não hesitaria.

Ele tinha os olhos fixos em mim, mas não sabia o que fazer. Achei que ele não tivesse coragem para matar uma mulher:

- Sê rápido por favor. É só isso que te peço… - Implorei.

Ele estava com dúvidas, e aproveitei a sua indecisão, fiz-lhe uma rasteira e desatei a correr desalmadamente. Infelizmente, para mim, a fuga não durou muito. Corri na direcção de um precipício que não sabia que estava lá e se não fosse este estranho agarrar-me, eu teria certamente caído.

- Corres muito para uma rapariga. - Disse ele.
- Ou tu és demasiado lento…para um homem. – Provoquei sem intenção.
- Estavas a roubar-me, tentaste fugir e ainda tens o descaramento de me provocar! – Disse, amarrando as minhas mãos á frente do corpo.
- Não tentarias escapar se estivesses no meu lugar? E sim, estava a roubar, desculpa não consegui evitar. – Confessei.
- Podias ter pedido, teria partilhado.
- Ah sim?
- Sim. – Respondeu.
- Podes partilhar agora? - Disse eu, cedendo às minhas pernas e encostando-me a uma árvore. – Estou cansada, faminta, tenho sede e não faço a mínima ideia de onde estou.

Ele olhou curioso para mim curioso. Primeiro atou as minhas mãos e os meus pés, sentou-se a uma curta distância e deu-me água até estar saciada, depois partiu pedaços de pão e deu-me á boca. Quando acabei de comer agradeci:

- Obrigado. – Disse gentilmente.
- De nada.

Podia perceber que ele estava intrigado e cheio de perguntas para fazer:

- Que foi? – Perguntei.
- Pergunto-me o que faz uma jovem como tu por aqui, sozinha?
- Respondo-te se me soltares…
- Para me matares quando estiver distraído?
- Não estou armada. Ou não reparaste nisso enquanto me apalpavas? – Perguntei descaradamente.
- Notei sim, mas não é preciso uma arma para matar. – Respondeu, envergonhado.
- Sim, estou ciente disso. – Concordei.

Lutei contra as cordas, mas estavam demasiado apertadas para me conseguir soltar:

- O que vais fazer comigo?
- Vou levar-te comigo para Stormhold e depois decido o que farei.
- Stormhold? Por favor, já pedi perdão por ter roubado, peço-te que não me leves para lá. – Implorei.
- Porquê?
- Isso não te diz respeito…

Não me apetecia falar sobre o assunto, muito menos com um estranho que não iria entender, e que provavelmente iria condenar o meu comportamento. Então ali ficámos, num silêncio constrangedor.

1 comentário:

  1. Belle é de fato bastante brava. Gosto das falas dela. Sempre moderadamente atrevida. Bem "witty".

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