Antes
de dormir comecei a arrumar as minhas coisas. Ia levar comigo o que fosse
necessário, não podia esquecer de coisas indispensáveis como a minha adaga, que
era bem mais fácil de esconder que a minha espada, roupa confortável para andar
a cavalo e para me meter em aventuras, e claro alguns livros. A Beth, desde que
tinha recebido a notícia andava obcecada com escolher os seus vestidos mais
bonitos e as jóias que a favorecessem mais, ela tinha o objectivo de
impressionar, e uma pessoa em particular. Era difícil saber o que levar sem saber
quanto tempo íamos lá ficar, ou por que motivo.
Na
manhã seguinte, comecei a ouvir a Beth de um lado para o outro com as suas
coisas e a minha mãe atrás dela. A Marianne não podia estar menos preocupada,
só de saber que ia ter com quem brincar era o suficiente para alinhar. Eu
estava descansada, ainda que curiosa com o misterioso motivo desta viagem
repentina.
Lembro-me
de ter estado em Stormhold quando era mais nova, mas já tinha passado imenso
tempo, era a Marianne um bebé de colo, já não me lembrava como era a cidade,
apenas me lembrava de estar sempre bem mais frio do que em Bruma. Eram mais ou
menos dois ou três dias de viagem, e estávamos todos cansados. A Beth estava
uma pilha de nervos, mas não disse uma palavra o caminho todo, esperou até
estarmos prestes a chegar para perguntar:
-
Achas que o pai finalmente se lembrou de fazer uma proposta de casamento entre
as nossas casas? - Sussurrou.
-
Não sei, pode ser uma possibilidade, talvez se tenham apercebido do quando
gostas do Richard… - Brinquei para ver se ela se ria um pouco e descontraia.
Nem
lhe falei no pedido que o Andrew tinha feito, era vergonhoso. Se lhe contasse
ela ia dizer que eu tinha sido demasiado apressada em recusar e idiota, não
estava com vontade de ouvir o seu sermão, quando ela falava assim parecia mesmo
a nossa mãe. A
nossa comitiva foi muito bem recebida, quer pela população, quer pelos Lords de
Stormhold, Lord Hastings e Lady Catherine, e pelos filhos. Depois dos
cumprimentos, fomos guiados aos nossos aposentos para descansar e arrumar as
nossas coisas, só mais tarde nos reunimos para o jantar, e de certa forma
sentia um aperto no estômago, isso não era bom sinal.
Sentados
á mesa é que reparei que faltava alguém. Lord Hastings tinha um outro filho, o
James, de outra mulher, que nunca compareceu a nenhum evento onde estivéssemos
presentes, o que me fez ficar curiosa. Conhecia todos menos ele. Conhecia o
Richard, a Júlia, a Emily e o Thomas, mas nunca tinha visto o James. A Júlia
estava ao meu lado e curiosa, perguntei:
-
Onde está o vosso outro irmão?
- O
James? Ele não está em Stormhold, foi visitar o nosso tio Arthur.
- O
capitão da King’s Guard… - Disse fascinada.
-
Sim, ele mesmo. O James já há algum tempo que quer alistar-se mas o meu pai não
concorda, foi procurar o conselho do nosso tio.
-
Juntar-se á King’s Guard…é preciso ter coragem.
- Ou
ser idiota. Mas porque perguntas? – Perguntou curiosa com o meu interesse.
- Por
nada, estava a contar os lugares e vi que faltava alguém, nunca o conheci…
-
Ele não participa em eventos sociais. A minha mãe acha que não fica bem.
-
Porquê? Ele é tanto Hastings como qualquer um de vocês… - Disse indignada.
- Eu
sei, mas a minha mãe não pensa assim, infelizmente. – Disse tristemente.
A
forma como faziam distinção entre os filhos deixou-me abismada, mas isso não me
dizia respeito. Após o jantar o meu pai lá decidiu falar sobre o motivo da
nossa viagem:
-
Bem, como vocês sabem a casa Hastings e Carvain são aliadas de longa data e a
nossa vinda aqui foi exactamente para consolidar essa aliança.
-
Escrevi ao vosso pai á uns dias e foi por isso que vieram cá. – Disse Lord
Hastings.
- Decidimos
fortalecer a aliança entre as nossas famílias com um casamento. - Esclareceu o
nosso pai.
Beth
apertou a minha mão por baixo da mesa, de tal forma que me estava a magoar, mas
eu não lhe disse nada e suportei, sabia que ela estava mais nervosa que eu.
-
Fiz uma proposta ao Lord Carvain, o casamento do meu filho Richard com a sua
filha Isabelle e ele aceitou.
- O
quê? – Perguntei indignada, levantando-me da cadeira.
-
Isabelle… - Chamou a minha mãe.
- Mãe,
por favor. Como pudeste fazer-me isto, pai? – Disse acusando o meu pai.
-
Isabelle fala mais baixo e comporta-te, não estás na tua casa.
-
Percebo isso muito bem pai. Só não percebo como me pudeste trair desta forma,
sabes perfeitamente que não quero casar, não assim.
-
Sim eu sei, mas essas tuas idealizações não fazem sentido nenhum.
-
Fazem sentido para mim. Se pensas que vou casar estás muito enganado.
-
Vais fazer o que eu disser para fazeres, estamos entendidos? Afirmou de forma autoritária.
-
Perfeitamente.
Levantei-me
da mesa e sai da sala. Ao atravessar a porta conseguia ouvir o meu pai a
chamar-me e a pedir desculpa á família Hastings pela minha falta de educação.
Esperei no meu quarto pelo final da noite. A Beth veio ter comigo, estava
completamente destroçada. Sentou-se na cama mas nada disse:
- Tu
queres o Richard certo? – Perguntei-lhe
-
Claro que sim. – Respondeu sem quaisquer dúvidas.
-
Devias ter-te imposto a isto Beth, ou achas bem que seja eu a casar-me com ele?
-
Não, não quero que cases com ele, mas sabes perfeitamente que eu não sou como
tu, não consigo fazer frente ao pai, não consigo. – Concluiu.
-
Tens de tentar, tens de lutar por aquilo que queres. Caramba que vocês os dois
são mesmo parecidos, nem mesmo ele abriu a boca.
Estávamos
a discutir a situação quando batem á porta:
- Belle,
temos de conversar! – Disse o meu pai.
-
Não, agora não.
-
Sim, agora, abre a porta. – Ordenou ele.
-
Tenho de pensar pai, tenho muita coisa na minha cabeça. – Menti.
-
Isso significa que vais considerar?
-
Sim. – Menti novamente.
-
Muito bem, conversamos amanhã.
Ouvimos
o meu pai afastar-se e a Beth pergunta assustada:
-
Vais considerar? – Perguntou com as lágrimas nos olhos.
-
Não Beth, vou fugir, o que bem é diferente. Assim espero que tu sejas a
solução, depois logo vejo se posso regressar, depois do teu casamento.
-
Vais mesmo fazer isso? Por mim?
Acenei
a cabeça e ela abraçou-me.
-
Não é só por ti Beth, é por mim também.
- E
vais voltar?
-
Não sei, depende do que encontrar pelo caminho e do que acontecer aqui depois
de partir.
-
Lamento que tenha de ser assim Belle. – Lamentou a minha irmã.
Eu
só consegui retribuir a tristeza das suas palavras com um fraco sorriso.
-
Pode ser que encontres o teu príncipe encantado pelo caminho. – Brincou.
-
Não sei se o destino é assim tão generoso. Tens de esperar algum tempo, uns
dias para falares ao pai sobre seres tu a casar no meu lugar. Se falares antes
ele vai perceber.
-
Não te preocupes, eu falo com ele desta vez, prometo Belle.
- Beth,
não desperdices esta oportunidade.
-
Não vou desperdiçar, não depois do que estás a fazer a por mim. Tem cuidado
contigo irmã, não te metas em sarilhos, vai discretamente. – Disse, receando
por mim.
- Não
te preocupes.
Abracei a minha irmã como se fosse a última vez que o fosse fazer. Não sabia de facto se podia ser ou não, não podia prever o que estava para acontecer a partir do momento em que passasse das muralhas do castelo. Saltei por cima da muralha e cai nuns fartos de palha que estavam do outro lado e sem pensar limitei-me a seguir em frente, o mais rápido possível para que não dessem pela minha ausência até estar bem longe dali.
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