quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Um Sonho Ou Realidade - Cap 2

Antes de dormir comecei a arrumar as minhas coisas. Ia levar comigo o que fosse necessário, não podia esquecer de coisas indispensáveis como a minha adaga, que era bem mais fácil de esconder que a minha espada, roupa confortável para andar a cavalo e para me meter em aventuras, e claro alguns livros. A Beth, desde que tinha recebido a notícia andava obcecada com escolher os seus vestidos mais bonitos e as jóias que a favorecessem mais, ela tinha o objectivo de impressionar, e uma pessoa em particular. Era difícil saber o que levar sem saber quanto tempo íamos lá ficar, ou por que motivo.

Na manhã seguinte, comecei a ouvir a Beth de um lado para o outro com as suas coisas e a minha mãe atrás dela. A Marianne não podia estar menos preocupada, só de saber que ia ter com quem brincar era o suficiente para alinhar. Eu estava descansada, ainda que curiosa com o misterioso motivo desta viagem repentina.

Lembro-me de ter estado em Stormhold quando era mais nova, mas já tinha passado imenso tempo, era a Marianne um bebé de colo, já não me lembrava como era a cidade, apenas me lembrava de estar sempre bem mais frio do que em Bruma. Eram mais ou menos dois ou três dias de viagem, e estávamos todos cansados. A Beth estava uma pilha de nervos, mas não disse uma palavra o caminho todo, esperou até estarmos prestes a chegar para perguntar:

- Achas que o pai finalmente se lembrou de fazer uma proposta de casamento entre as nossas casas? - Sussurrou.
- Não sei, pode ser uma possibilidade, talvez se tenham apercebido do quando gostas do Richard… - Brinquei para ver se ela se ria um pouco e descontraia.

Nem lhe falei no pedido que o Andrew tinha feito, era vergonhoso. Se lhe contasse ela ia dizer que eu tinha sido demasiado apressada em recusar e idiota, não estava com vontade de ouvir o seu sermão, quando ela falava assim parecia mesmo a nossa mãe. A nossa comitiva foi muito bem recebida, quer pela população, quer pelos Lords de Stormhold, Lord Hastings e Lady Catherine, e pelos filhos. Depois dos cumprimentos, fomos guiados aos nossos aposentos para descansar e arrumar as nossas coisas, só mais tarde nos reunimos para o jantar, e de certa forma sentia um aperto no estômago, isso não era bom sinal.

Sentados á mesa é que reparei que faltava alguém. Lord Hastings tinha um outro filho, o James, de outra mulher, que nunca compareceu a nenhum evento onde estivéssemos presentes, o que me fez ficar curiosa. Conhecia todos menos ele. Conhecia o Richard, a Júlia, a Emily e o Thomas, mas nunca tinha visto o James. A Júlia estava ao meu lado e curiosa, perguntei:

- Onde está o vosso outro irmão?
- O James? Ele não está em Stormhold, foi visitar o nosso tio Arthur.
- O capitão da King’s Guard… - Disse fascinada.
- Sim, ele mesmo. O James já há algum tempo que quer alistar-se mas o meu pai não concorda, foi procurar o conselho do nosso tio.
- Juntar-se á King’s Guard…é preciso ter coragem.
- Ou ser idiota. Mas porque perguntas? – Perguntou curiosa com o meu interesse.
- Por nada, estava a contar os lugares e vi que faltava alguém, nunca o conheci…
- Ele não participa em eventos sociais. A minha mãe acha que não fica bem.
- Porquê? Ele é tanto Hastings como qualquer um de vocês… - Disse indignada.
- Eu sei, mas a minha mãe não pensa assim, infelizmente. – Disse tristemente.

A forma como faziam distinção entre os filhos deixou-me abismada, mas isso não me dizia respeito. Após o jantar o meu pai lá decidiu falar sobre o motivo da nossa viagem:

- Bem, como vocês sabem a casa Hastings e Carvain são aliadas de longa data e a nossa vinda aqui foi exactamente para consolidar essa aliança.
- Escrevi ao vosso pai á uns dias e foi por isso que vieram cá. – Disse Lord Hastings.
- Decidimos fortalecer a aliança entre as nossas famílias com um casamento. - Esclareceu o nosso pai.

Beth apertou a minha mão por baixo da mesa, de tal forma que me estava a magoar, mas eu não lhe disse nada e suportei, sabia que ela estava mais nervosa que eu.

- Fiz uma proposta ao Lord Carvain, o casamento do meu filho Richard com a sua filha Isabelle e ele aceitou.
- O quê? – Perguntei indignada, levantando-me da cadeira.
- Isabelle… - Chamou a minha mãe.
- Mãe, por favor. Como pudeste fazer-me isto, pai? – Disse acusando o meu pai.
- Isabelle fala mais baixo e comporta-te, não estás na tua casa.
- Percebo isso muito bem pai. Só não percebo como me pudeste trair desta forma, sabes perfeitamente que não quero casar, não assim.
- Sim eu sei, mas essas tuas idealizações não fazem sentido nenhum.
- Fazem sentido para mim. Se pensas que vou casar estás muito enganado.
- Vais fazer o que eu disser para fazeres, estamos entendidos? Afirmou de forma autoritária.
- Perfeitamente.

Levantei-me da mesa e sai da sala. Ao atravessar a porta conseguia ouvir o meu pai a chamar-me e a pedir desculpa á família Hastings pela minha falta de educação. Esperei no meu quarto pelo final da noite. A Beth veio ter comigo, estava completamente destroçada. Sentou-se na cama mas nada disse:

- Tu queres o Richard certo? – Perguntei-lhe
- Claro que sim. – Respondeu sem quaisquer dúvidas.
- Devias ter-te imposto a isto Beth, ou achas bem que seja eu a casar-me com ele?
- Não, não quero que cases com ele, mas sabes perfeitamente que eu não sou como tu, não consigo fazer frente ao pai, não consigo. – Concluiu.
- Tens de tentar, tens de lutar por aquilo que queres. Caramba que vocês os dois são mesmo parecidos, nem mesmo ele abriu a boca.

Estávamos a discutir a situação quando batem á porta:

- Belle, temos de conversar! – Disse o meu pai.
- Não, agora não.
- Sim, agora, abre a porta. – Ordenou ele.
- Tenho de pensar pai, tenho muita coisa na minha cabeça. – Menti.
- Isso significa que vais considerar?
- Sim. – Menti novamente.
- Muito bem, conversamos amanhã.

Ouvimos o meu pai afastar-se e a Beth pergunta assustada:

- Vais considerar? – Perguntou com as lágrimas nos olhos.
- Não Beth, vou fugir, o que bem é diferente. Assim espero que tu sejas a solução, depois logo vejo se posso regressar, depois do teu casamento.
- Vais mesmo fazer isso? Por mim?

Acenei a cabeça e ela abraçou-me.

- Não é só por ti Beth, é por mim também.
- E vais voltar?
- Não sei, depende do que encontrar pelo caminho e do que acontecer aqui depois de partir.
- Lamento que tenha de ser assim Belle. – Lamentou a minha irmã.

Eu só consegui retribuir a tristeza das suas palavras com um fraco sorriso.

- Pode ser que encontres o teu príncipe encantado pelo caminho. – Brincou.
- Não sei se o destino é assim tão generoso. Tens de esperar algum tempo, uns dias para falares ao pai sobre seres tu a casar no meu lugar. Se falares antes ele vai perceber.
- Não te preocupes, eu falo com ele desta vez, prometo Belle.
- Beth, não desperdices esta oportunidade.
- Não vou desperdiçar, não depois do que estás a fazer a por mim. Tem cuidado contigo irmã, não te metas em sarilhos, vai discretamente. – Disse, receando por mim.
- Não te preocupes.

Abracei a minha irmã como se fosse a última vez que o fosse fazer. Não sabia de facto se podia ser ou não, não podia prever o que estava para acontecer a partir do momento em que passasse das muralhas do castelo. Saltei por cima da muralha e cai nuns fartos de palha que estavam do outro lado e sem pensar limitei-me a seguir em frente, o mais rápido possível para que não dessem pela minha ausência até estar bem longe dali. 

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